A transformação é generalizada – e os profissionais estão sentindo isso. A Pesquisa Global Hopes and Fears 2024 da PwC revela que mais da metade dos entrevistados no Brasil e no mundo acredita que há muitas mudanças acontecendo simultaneamente no trabalho. No entanto, 34% dos brasileiros (44% no mundo) não entendem por que é preciso mudar. Eles relatam ainda aumento da carga de trabalho, incerteza quanto à estabilidade no emprego e dificuldades financeiras.
Antes de concluir que o cenário é desafiador, porém, observamos também fortes sinais de otimismo e engajamento. A maioria dos profissionais diz estar pronta para se adaptar a novos métodos de trabalho. Muitos estão empolgados em melhorar suas competências e acreditam que a inteligência artificial (IA) generativa pode ajudá-los a melhorar sua eficiência. Mais de 70% no Brasil (60% no mundo) relatam que as mudanças vividas recentemente os deixam otimistas em relação ao futuro de suas empresas.
Esse cenário, baseado nos dados da pesquisa envolvendo mais de 56 mil profissionais em 50 países, incluindo o Brasil, indicam que esses talentos estão divididos entre o presente e o futuro: estão abertos às possibilidades, mas as pressões corporativas podem atrapalhar a percepção deles sobre como o futuro poderia ser e qual seria a sua contribuição.
Embora existam fundamentos de negócios sólidos para as mudanças – ilustrados no empenho dos CEOs em desenvolver suas organizações para garantir a sustentabilidade econômica no longo prazo – é fundamental que as lideranças redobrem os esforços para explicar a necessidade dessas mudanças para seu público. Os planos de transformação terão sucesso se os talentos entenderem e ajudarem a impulsionar a mudança.
As mudanças inspiram um otimismo evidente nos profissionais: cerca de três em cada cinco no Brasil e no mundo afirmam que as recentes transformações os deixaram animados com o futuro de suas empresas.
No entanto, até as mudanças positivas podem ser estressantes, especialmente quando a sua velocidade é intensa. Cerca de dois terços dos profissionais no Brasil e no mundo dizem que experimentaram mais mudanças no trabalho no último ano do que no anterior. Além disso, mais de um terço observa que passou por mudanças significativas, incluindo alterações nas estruturas de suas equipes e nas responsabilidades diárias.
Os líderes precisam encontrar novas formas de apoiar seus talentos, sobretudo enquanto aceleram as mudanças para acompanhar a evolução do negócio. Duas estratégias essenciais de liderança podem ajudar a manter esse equilíbrio.
Sinal de alerta: as equipes enfrentam um alto risco de fadiga e sobrecarga devido às constantes mudanças. Quase metade dos entrevistados no Brasil e no mundo relata que sua carga de trabalho aumentou significativamente nos últimos 12 meses e teve que aprender novas tecnologias para desempenhar suas funções, além de outras alterações em seus papéis e suas responsabilidades.
E, embora 65% dos profissionais no Brasil (60% globalmente) se sintam bastante confiantes quanto à estabilidade de seus empregos, as recentes transformações no ambiente de trabalho têm causado insegurança para quase metade desses profissionais.
Diante dessas circunstâncias, muitos profissionais não conseguem alcançar seu melhor desempenho no trabalho por causa do aumento do estresse e da ansiedade, do medo de assumir riscos ou do baixo moral.
Área de foco: As lideranças têm um papel importante em ajudar as pessoas a fortalecer suas competências para lidar com o estresse e a mudança. O ritmo acelerado das transformações pode tornar ainda mais difícil para os profissionais se dedicarem completamente ao seu trabalho atual e se prepararem para as futuras alterações em suas funções.
É essencial que os líderes reconheçam isso e priorizem o bem-estar como um valor central na organização. Isso inclui criar uma cultura que incentive o equilíbrio entre vida pessoal e profissional, na qual as lideranças definam expectativas realistas e se comuniquem de forma aberta, empática e transparente. Essa abordagem beneficia as pessoas e é essencial para o desempenho, já que profissionais estressados e distraídos geralmente não alcançam bons resultados.
Como as mudanças tendem a continuar em ritmo acelerado, os líderes devem facilitar a adaptação de suas equipes. Isso demanda uma liderança transformadora, que desafie o status quo, inspire e capacite as pessoas para que se ajustem às novas circunstâncias. Essa estratégia fortalece os profissionais, desenvolvendo sua resiliência para enfrentar incertezas e aproveitar oportunidades, mesmo em meio a constantes transformações.
Embora seja importante cultivar a resiliência em toda a organização, a liderança deve se preocupar especialmente em ajudar os gerentes intermediários a desenvolver sua própria resiliência e a promovê-la em suas equipes. Ajudá-los a se tornarem mais resilientes pode aumentar sua capacidade de superar desafios, adaptar-se às mudanças e liderar suas equipes com maior eficácia.
A liderança e a força de trabalho geralmente concordam sobre como as megatendências transformarão empresas e empregos. No entanto, há algumas diferenças significativas. Por exemplo, os CEOs tendem mais do que os profissionais a citar os avanços tecnológicos como um grande impulsionador de mudanças.
É essencial que os líderes se comuniquem e se envolvam com todos os níveis da força de trabalho, explicando por que as mudanças são necessárias, quais medidas a empresa está adotando e como isso afetará funções e empregos. Essa é uma agenda contínua e as mensagens precisam ser reforçadas na empresa periodicamente.
Área de foco: Quando entendem os motivos das mudanças, os profissionais se sentem mais engajados e conectados com os objetivos da organização. Portanto, é fundamental que os líderes expliquem de que forma as megatendências, como a disrupção tecnológica, estão transformando o cenário empresarial e como isso afeta a estratégia de negócios.
Isso exige das lideranças em todos os níveis, especialmente dos CEOs, uma comunicação frequente e transparente, para conectar essas informações às mudanças que estão solicitando que os profissionais realizem.
Igualmente importante é envolver e inspirar os talentos, compartilhando sua visão sobre o futuro da empresa e o papel que eles terão no novo cenário. Quando as pessoas se sentem motivadas em relação ao que está por vir, elas tendem muito mais a aceitar a mudança e se engajar com o futuro.
Os profissionais também precisam ser capacitados a contribuir, pois é mais provável que aceitem as transformações quando ajudam a criá-las. Uma abordagem eficaz é a inovação liderada pelas pessoas, na qual elas podem propor e testar novas ideias e formas de trabalho em suas atividades diárias.
Para isso, as pessoas devem contar com o apoio e o incentivo das lideranças para se sentirem à vontade para experimentar novas ideias. Permitir que os profissionais liderem iniciativas de inovação cria oportunidades para que eles participem ativamente e promovam a mudança.
O verdadeiro potencial para inovações com a IA generativa virá dos próprios talentos, especialmente daqueles que a utilizam no dia a dia. No entanto, o seu uso generalizado no local de trabalho ainda não se popularizou. Embora 76% dos brasileiros (61% no mundo) digam que usaram a IA generativa no trabalho pelo menos uma vez nos últimos 12 meses, um percentual muito menor a utiliza diária ou semanalmente.
A fim de potencializar os benefícios da IA generativa, as organizações podem aproximá-la dos seus profissionais para experimentar e usar essa tecnologia buscando repensar a forma de trabalho. Elas também precisam abordar os desafios que impedem alguns profissionais (e líderes) de explorar as capacidades da IA, como não conseguir perceber as oportunidades de uso em suas áreas de atuação.
É preciso também capacitar os profissionais nas competências necessárias para aproveitar ao máximo a IA generativa, sem deixar de investir no desenvolvimento das competências humanas que também são desejadas.
Profissionais e CEOs têm ideias parecidas quando se trata de burocracia, tempo desperdiçado e barreiras organizacionais no trabalho. Ambos acreditam que quase 40% do tempo gasto em atividades administrativas é ineficiente – e concordam que a IA generativa poderia ajudar a otimizar esse tempo.
Mais de 80% dos entrevistados no Brasil e no mundo que usam a IA generativa diariamente esperam que ela torne seu tempo no trabalho mais eficiente nos próximos 12 meses.
Obviamente, a tecnologia por si só não consegue eliminar totalmente as barreiras organizacionais. É preciso que as pessoas trabalhem juntas para resolver os problemas e mudar comportamentos que levam à ineficiência, como, por exemplo, a simples mudança de protocolos de reuniões.
Os líderes desempenham um papel crucial nisso, ao estabelecerem políticas e exemplificarem os comportamentos desejados. Já os profissionais podem promover mudanças de baixo para cima.
Área de foco: Criar eficiências com a IA generativa é importante, mas é apenas o começo. O seu verdadeiro potencial está em usá-la para acelerar o crescimento, indo além de simplesmente melhorar a forma de trabalhar. Isso implica, na cultura organizacional, permitir que as pessoas tenham liberdade para inovar e experimentar.
Também é essencial conscientizar todas as pessoas em IA generativa, independentemente do setor ou da função. Mesmo que os benefícios da IA generativa não sejam imediatamente visíveis em algumas áreas, ainda pode haver oportunidades para os profissionais otimizarem seus processos de trabalho ou apoiarem a tomada de decisões usando tecnologias de IA. Além disso, dado que o avanço contínuo da IA deve impactar muito quase todos os setores e as funções, capacitar todas as pessoas pode ajudar a preparar os talentos – garantindo que eles não sejam deixados para trás à medida que as indústrias evoluem.
Os líderes podem dar o exemplo: no mundo, apenas 22% dos CEOs e 17% dos gerentes dizem que usam a IA generativa diariamente no trabalho. Isso é um claro chamado à ação para que eles se capacitem e usem a IA generativa não apenas em seu próprio trabalho, mas também para que possam orientar suas equipes sobre como aplicá-la nas diferentes funções.
Os profissionais reconhecem que a IA generativa, como qualquer tecnologia, tem pontos fortes e fracos. Eles se preocupam com o aumento do preconceito no ambiente de trabalho e com a possibilidade de a IA generativa gerar desinformações difíceis de detectar.
Essas preocupações são mais comuns entre as pessoas que são usuárias mais frequentes da IA generativa. Isso destaca a importância de um ambiente de apoio, com governança clara, diretrizes e treinamento. Também é essencial estabelecer limites e definir uma estratégia de IA responsável.
Apesar de reconhecerem os potenciais riscos, os profissionais têm uma percepção sobre a IA generativa significativamente mais positiva do que negativa. Mais de 80% dos brasileiros (um pouco menos no mundo) concordam que as ferramentas criarão oportunidades para aprender novas competências no trabalho, ampliar a criatividade e melhorar a qualidade das entregas.
Além disso, quase metade de todos os entrevistados no Brasil e no mundo espera que a IA generativa leve a salários mais altos. Essa expectativa é ainda maior entre aqueles que usam a IA generativa diariamente (86% no Brasil e 76% no mundo).
Área de foco: Cada liderança deve se comprometer a construir confiança na IA, promover sua adoção e assegurar seu uso responsável em toda a organização.
Uma abordagem liderada por humanos e impulsionada pela tecnologia pode ajudar os líderes a demonstrar que entendem os riscos associados à IA generativa e estabelecer limites claros para seu uso. Educação e treinamento sobre o uso responsável da IA são essenciais para que todos possam identificar preconceitos e desinformações e combater seus efeitos.
É fundamental enfatizar a necessidade de revisão e verificação humanas – as pessoas devem sempre supervisionar rigorosamente a IA generativa e tomar decisões em situações de alto valor ou alto risco. Além disso, é preciso fornecer ferramentas de software para ajudar a identificar conteúdos gerados por IA, verificar seus resultados e avaliá-los quanto a preconceitos.
À medida que as empresas implementam IAs, incluindo a generativa, os líderes devem ser transparentes sobre o uso desses sistemas nos processos de tomada de decisão e comunicar como eles são projetados, os dados que utilizam e os algoritmos que empregam.
Essa transparência pode ajudar a construir confiança e segurança entre os profissionais e abordar preocupações sobre preconceitos. Por fim, o feedback das pessoas é crucial. Crie canais para que elas compartilhem suas experiências de uso dos sistemas de IA da empresa.
Nossa pesquisa sugere que a satisfação no trabalho aumentou ligeiramente em relação ao ano passado: 67% dos profissionais no Brasil (60% no mundo) dizem estar muito ou moderadamente satisfeitos, comparados a 63% no Brasil (56% no mundo) no ano passado.
No entanto, isso não significa um desejo de permanecer no emprego – grande parte da força de trabalho está avaliando outras oportunidades. Mais pessoas dizem que provavelmente mudarão de emprego nos próximos 12 meses do que durante a “Grande Demissão” (em inglês, Great Resignation), em 2022.
O investimento na atualização profissional (upskilling) se tornou tão valioso para as pessoas que elas o veem como um diferencial da empresa. A oportunidade de aprender novas competências é um fator-chave na decisão de permanecer ou não no emprego para 59% dos brasileiros (47% no mundo).
Empresas com programas de upskilling precisam avaliar constantemente se estão alcançando todas as pessoas. Também vale a pena avaliar o escopo do seu programa de upskilling. Treinamento prático, experiência e mentoria são tão importantes quanto programas formais de treinamento em sala de aula ou on-line.
Área de foco: É crucial para as empresas criar oportunidades para que todas as pessoas desenvolvam competências no trabalho e fornecer orientação e mentoria sobre quais competências os profissionais precisam desenvolver.
Também é essencial estabelecer uma cultura de aprendizado contínuo na qual dedicar tempo para aprender no trabalho seja uma parte fundamental do DNA organizacional.
Ao mesmo tempo, não subestime o talento que está diante dos seus olhos. Entenda as competências individuais para ter uma visão abrangente das habilidades e da expertise da sua força de trabalho.
Isso facilitará a adoção de uma abordagem centrada em competências, beneficiando a empresa, os profissionais e a sociedade ao remover barreiras que impedem a flexibilidade das pessoas de aplicar suas habilidades e contribuir no trabalho, pois ainda nos limitamos a medir as competências técnicas descritas nos currículos.
O que aumentaria a produtividade e a motivação dos profissionais? Essa é uma pergunta fundamental para as lideranças. Requer uma resposta complexa, mas vale começar com uma análise para reduzir as discrepâncias entre o que as suas pessoas dizem ser mais importante no trabalho e a experiência que estão tendo. Nossa pesquisa identificou várias discrepâncias, especialmente em remuneração, realização pessoal e flexibilidade.
Não surpreende que o principal fator que os profissionais mencionam para melhorar seu desempenho seja a remuneração justa. No entanto, embora 92% no Brasil (82% no mundo) tenham classificado esse aspecto como muito ou extremamente importante, apenas 63% no Brasil (52% no mundo) concordam forte ou moderadamente que seu emprego atual proporciona isso.
Os profissionais também classificaram a satisfação no trabalho e a flexibilidade (local, horário e método) como altamente importantes. Mas, como ocorre com a remuneração, há um gap entre a importância desses fatores e o que as pessoas vivem na realidade.
Área de foco: Os profissionais que acreditam não estar recebendo o que precisam tendem a estar menos comprometidos com o trabalho e dispostos a aceitar mudanças. A remuneração, em especial, é muito importante.
As empresas precisam constantemente rever suas práticas de remuneração total para oferecer um salário digno e competitivo. Pesquisas da PwC mostram que a pressão econômica afeta o bem-estar emocional e físico dos profissionais, prejudicando sua produtividade e motivação.
Além disso, fatores como satisfação no trabalho, colaboração e flexibilidade são altamente valorizados na experiência de emprego. Já a flexibilidade ajuda as pessoas a encontrar um melhor equilíbrio entre vida pessoal e profissional.
Uma maneira de os líderes aliviarem a carga dos profissionais é racionalizar e alinhar melhor a tecnologia em suas organizações. Isso pode envolver a simplificação do acervo tecnológico geral, por exemplo, com base em sistemas centralizados que substituem ferramentas dispersas.
Tecnologias integradas, como assistentes digitais, podem fornecer uma interface amigável que ajuda os profissionais a descobrir e usar várias ferramentas. Isso pode reduzir a necessidade de treinamentos longos sobre várias plataformas e levar a maneiras mais eficientes de realizar as tarefas.