O Open Banking não é um produto, e sim um fundamento ou ecossistema sobre o qual, por meio de padrões e infraestrutura, são desenvolvidos produtos que permitem o compartilhamento de dados e serviços entre as instituições financeiras autorizadas pelo Banco Central. Por essa razão, pode-se explicar o Open Banking como a digitalização plena da relação entre o consumidor e o sistema financeiro, realizada de forma segura, fácil e tempestiva.
O Brasil terá o maior e mais completo sistema digital de Open Finance do mundo.
Essa expectativa se baseia no escopo da regulação do Banco Central brasileiro, que transcende os dados bancários. Estamos entrando em outros setores, integrando corretoras, seguradoras e arranjos de pagamento, colocando o cliente no foco da estratégia e simplificando os processos em geral.
A autorregulação tem sido processada levando em consideração o ponto de vista de cada cadeira de cada participante do sistema financeiro, desde bancos e instituições financeiras de grande e pequeno porte (S1, S2, S3 e S4, e fintechs) até meios de pagamento, cartões de crédito e Open Insurance. Por isso, o cronograma é longo e apertado. Mas é por isso também que não tenho dúvidas de que teremos o maior Open Banking do mundo, aliado a outros instrumentos criados recentemente, como Cadastro Positivo, PIX, Lei Geral de Proteção e Dados (LGPD) e programas de educação financeira.
Como se trata de um único ecossistema de Open Finance, é possível ver as dificuldades de todos os participantes em relação à conectividade e à adaptação da infraestrutura, o que é natural num projeto dessa envergadura. O próximo desafio, após a coleta do dado, será averiguar o que se pode fazer com esse dado e como convertê-lo em valor para o cliente. Com a customização do serviço e com a observação da experiência do usuário, conseguimos identificar qual é a maior dor do cliente. Mas tudo isso, claro, vai demandar investimentos de recursos por parte dos players.
Tem sido complicado deixar a estrutura de fácil uso para os clientes. Estamos com o cronograma apertado e ainda há muito o que fazer, principalmente criar confiança na sociedade. A implementação do PIX é um aprendizado para nós, pois a modalidade cresceu exponencialmente, mas também surgiram problemas que estão sendo corrigidos. Diante da pluralidade de um sistema financeiro aberto, que inclui bancos médios, bancos estrangeiros, bancos de cooperativa, fintechs, corretoras e financeiras, o desafio é colocar todos na mesma página e velocidade.
O Banco Central estabeleceu um cronograma mais desafiador em comparação com as demais geografias do mundo, chegando a estabelecer um escopo três ou quatro vezes maior do que o do Reino Unido, por exemplo, que levou três anos e meio para implementar o que o Brasil está fazendo em apenas um ano. Para um conglomerado como o Bradesco, o maior desafio é a adequação da arquitetura tecnológica construída durante a história do banco, modernizando-a para poder ter as APIs e competir com qualquer fintech e startup do mercado. São dois pilares importantes: o regulatório, sem a mentalidade de que seremos doadores de dados, também queremos receber para chegar ao lançamento com igualdade em relação aos demais players; e a comunicação à sociedade, porque precisamos divulgar o novo modelo de modo a gerar confiança no processo.
O cronograma adentra 2022 com novas interfaces, novos produtos e novos serviços agregados ao ecossistema. Espero que chegue o momento em que o ecossistema estará estabelecido e essa estrutura de governança que iniciou o processo tenha um desenho definitivo. Uma vez que isso esteja estabilizado, o próprio ecossistema terá sua vida dinâmica endógena, não necessitando mais de um regulador com cronogramas e normas, mas, sim, uma evolução pautada pelas demandas e necessidades que surgirem.
Enxergamos mais interconexão, processos de cooperação e competição. Tudo isso já existe em alguma medida no mercado, mas será bem mais rápido e acirrado. A facilidade do onboarding, da troca de dados e da distribuição de produtos proporcionada pelo Open Finance acarreta inúmeros desafios, como transmitir ao usuário a segurança na jornada. No entanto, o que o Open Finance faz principalmente é viabilizar o ambiente competitivo por meio da escolha do cliente quanto ao melhor produto ou serviço. A mudança está, portanto, em sair da visão de competição entre instituições para ter uma visão de competição entre produtos, na qual o cliente final obtém vantagem.
O Brasil sempre surpreende, e o PIX é uma prova disso. A rapidez com que a sociedade aderiu, em comparação com Reino Unido, Austrália, Itália e Singapura, diferencia a trajetória do país. Basta observar o que ocorre com as fintechs, os bancos digitais e os primeiros conceitos de satisfação do cliente. O sistema financeiro está se reinventando aceleradamente, apostando sempre na comunicação para criar confiança por parte da população bancarizada e não bancarizada. A implementação do delivery durante a pandemia, por exemplo, foi muito rápida.
Esperamos começar a ver soluções de agregação financeira, ainda não tão revolucionárias, mas que tragam benefícios ao usuário, apesar da necessidade de customização das necessidades. O primeiro contato do brasileiro com o Open Finance ocorreu tanto no Brasil como nos Estados Unidos, ainda que no mercado americano não haja um processo de implementação de Open Banking robusto como no brasileiro. Em consequência, hoje se veem bastantes demandas de pagamentos mais fáceis, como o PIX, o controle sobre as finanças na agregação financeira, inclusive análises de crédito independentemente da avaliação do vínculo do cliente com o banco A, B ou C.
Primeiramente tomar conhecimento de toda a construção desse novo modelo de negócios e do que está sendo implementado na proposta, inclusive acessando hoje o portal do Open Banking para se inteirar da tecnologia que está por trás dessas interfaces e contratando desenvolvedores in house ou externos. Do ponto de vista do negócio e dos clientes, o CEO deve vislumbrar os benefícios do uso do Open Finance no dia a dia. Por exemplo, no próprio arcabouço está prevista a formação de parcerias entre empresas e instituições participantes do Open Finance, seja nas operações bancárias puramente, seja em parte dos pagamentos, seja em seguros ou investimentos. A partir do momento que essas parcerias são estabelecidas, o cliente se torna comum aos dois parceiros. Ou seja, ao utilizar a empresa, o consumidor é automaticamente cliente de uma instituição autorizada pelo Banco Central. O objetivo desse modelo de parceria é melhorar o relacionamento com o cliente e os produtos que a instituição e a empresa parceira oferecem. O cliente ganha com essa sinergia e a parceria também.
No caso da fintech que está dentro do perímetro regulatório do Banco Central ou é regularizada, ela pode participar se a atividade que exerce se enquadra nos requisitos do Open Finance. Caso contrário, pode optar por ser voluntária. Já a fintech fora do perímetro regulatório do BC ou que não esteja dentro dos critérios para regularização não pode ser participante do Open Finance, a não ser que estabeleça parcerias com as instituições participantes