Sua empresa precisa de capital ou de acesso a novos modelos de financiamento? Seus planos de crescimento exigem altos investimentos? Seu modelo de negócio é atraente, inovador? Mesmo no atual cenário de crise, IPOs têm sido o caminho para a viabilizar os planos de várias empresas.
Neste debate, exploramos os benefícios e oportunidades da abertura de capital. Ao realizar um IPO, uma empresa tem à sua disposição todas as alternativas que o mercado de capitais proporciona, muitas delas não disponíveis a empresas de capital fechado. Além disso, pode se beneficiar de uma mudança transformacional.
Janelas de oportunidade às empresas brasileiras para acesso aos mercados de capitais não têm sido amplas ou frequentes já que recessão econômica e crises políticas fizeram parte do cenário dos últimos anos. Quando o mercado começava a se recuperar, no início de 2020, foi interrompido pela crise da Covid 19.
Parecia que 2020 seria um ano perdido.
Não é o que temos visto. Mesmo em meio à crise, várias empresas, de diferentes setores, têm realizado captações de diversas formas especialmente via IPO com grande sucesso.
No Brasil, taxas de juros baixíssimas atualmente na mínima histórica de 2,0% a.a. têm aumentado a demanda por investimentos em ações e contribuíram, no último ano, para o ingresso de cerca de 1,2 milhões de novos investidores individuais nesse mercado. No cenário internacional, taxas de juros ainda mais baixas inclusive negativas somam se a um cenário de alta liquidez, que tem pautado a busca por melhores retornos, via aplicação em ações.
Nesse contexto, nosso radar contempla a possibilidade de mais de quarenta IPOs em 2020. Dentre os setores mais concorridos, destacam se tecnologia, construção civil, educação, transporte e logística, saúde e varejo.
Por quanto tempo essa janela de oportunidade ficará aberta? Não é possível antecipar com precisão, mas alguns eventos esperados no curto prazo podem ter impactos significativos sobre os mercados e a demanda para IPOs : As eleições presidenciais norte americanas a serem realizadas em novembro deste ano, juntamente com uma potencial solução para a crise sanitária da Covid 19, competirão pela atenção global. No Brasil, as eleições municipais tendem a impactar o cenário político, elevando o grau de incertezas em nosso cenário econômico.
A preparação para um IPO representa uma mudança cultural na empresa, que exige o engajamento de conselheiros, executivos e de todas as áreas operacionais.
É fundamental que os planos de negócio sejam robustose apresentem um histórico de sucesso, atrelado a uma perspectiva de futuro promissora e sustentável.
Além de métricas financeiras, cada vez mais o mercado tem exigido uma agenda ampliada em questões ligadas ao impacto social, às ações relacionadas ao meio ambiente e à qualidade da governança corporativa, recompensando empresas com boas práticas de ESG. Adequar as estruturas societária e tributária da empresa para a abertura de capital é também é fator primordial para o sucesso da operação.
É importante ter em mente que o cumprimento das obrigações perante os órgãos reguladores demanda ajustes e implementação de práticas e controles financeiros, contábeis, operacionais e de sistemas, além de novas práticas de relações com investidores.
Neste sentido, assessores qualificados e experientes financial advisors , underwriters , advogados e auditores) são essenciais e contribuem, não apenas para o sucesso da transação, mas para que a empresa consiga fazer frente aos seus compromissos enquanto companhia aberta.
Neste momento, as oportunidades são inúmeras. Na B3, além dos Níveis de Governança Corporativa como Novo Mercado e Nível II, empresas de porte menor com planos de crescimento no longo prazo podem entrar nos segmentos Bovespa Mais, que permitem a listagem com possibilidade de oferta pública em até sete anos.
Simultaneamente, há outros estudos referentes à redução do limite mínimo de capital das empresas para IPO.
Para empresas do setor de tecnologia e start ups, novas oportunidades também estão sendo criadas, a exemplo da regulamentação da CVM sobre sandbox e a possibilidade de uma nova bolsa de valores focada neste setor.
O mercado americano e seus reguladores também consideram implementar regras para facilitação de IPOs .
A trajetória de crescimento de uma empresa é pautada pela necessidade de retornos maiores por parte dos investidores.
O IPO é uma alternativa a ser avaliada pela empresa, à luz do seu estágio de maturidade, projeto de crescimento e estrutura de capital. Neste sentido, é fundamental desenhar um plano estratégico de aplicação dos recursos antes do evento de captação, que permita o crescimento sustentável da empresa por meio de investimento em novos projetos.
É uma prática recomendada iniciar os estudos de planejamento e conduzir uma avaliação de prontidão para IPO alguns meses antes de sua execução, de forma a se desenvolverem as competências e técnicas necessárias para o processo.
Embora tenha como finalidade última a captação de recursos, o caminho de preparação para o IPO traz, para as empresas, benefícios que geram valor para o acionista no longo prazo, e que podem ser implementados gradualmente, independentemente da decisão final de abertura de capital.
Dentre estes benefícios, incluem se a adoção de boas práticas de governança corporativa e sustentabilidade, melhoria de controles internos, automatização de processos e otimização da estrutura corporativa das empresas.
Estas práticas e responsabilidades agregam, além de um controle mais efetivo, benefícios como transparência, equidade e tempestividade de informações, que podem ser utilizadas para tomadas de decisões mais ágeis e fundamentadas.
A decisão de listagem no Brasil ou em bolsas internacionais é estratégica e envolve questões relacionas à liquidez dos mercados, ao acesso a determinados grupos de investidores, ao segmento no qual a empresa atua e ao potencial de valorização dos ativos pós IPO, dentre outros fatores.
Entre 2004 e 2018, os custos médios relacionados a IPOs no Brasil foram significativamente menores que os internacionais, como percentual de recursos captados, conforme apurado pelo nosso Centro de Excelência variando entre 2,5% e 5,6%. Nos Estados Unidos esses custos representaram, em média, de 4,0% a 11,7%.
Da mesma forma, os custos médios recorrentes de manutenção de companhias abertas no Brasil se mostraram, em média, menores do que nos Estados Unidos: 66% das empresas afirmaram ter custo de operação como companhia aberta abaixo de USD 400 mil anuais, enquanto no mercado norte americano , a maior parte das empresas 67%) afirmou ter um gasto anual entre USD 1 milhão e USD 1,9 milhão.
Sócio e líder de Auditoria, Governança, Riscos e Compliance, PwC Brasil
Tel: 4004 8000