A transformação do setor apresenta desafios, mas também oportunidades sem precedentes para que os grandes bancos e outros players modifiquem seus modelos de negócio e mantenham a competitividade
São Paulo, 25 de outubro de 2023 — O embedded finance — ou “finanças embutidas”, que significam a integração de serviços financeiros em aplicativos, plataformas ou produtos de empresas que não são do setor financeiro — já é um imperativo que deve ser encarado estrategicamente pelas grandes instituições bancárias e por outros participantes desse ecossistema, a fim de manter sua relevância e competitividade. De acordo com o relatório Future Market Insights de 2023, o mercado de aplicações de embedded finance deverá crescer cinco vezes, de US$ 54,3 bilhões em 2022 para US$ 248,4 bilhões em 2032. Na América Latina, relatório da Research and Markets indica que a receita do mercado de embedded finance na região deve aumentar, anualmente, 27% até 2029 — chegando a US$ 13,7 bilhões no final desse período.
É nesse contexto que a PwC Brasil acaba de lançar uma série de conteúdos exclusivos sobre o tema. “O embedded finance representa desafios e oportunidades para diversos players de um mercado em evidente expansão”, diz o sócio da PwC Lindomar Schmoller. “Por isso a importância de aprofundar o debate sobre a necessidade de expansão do modelo de negócio bancário, o gerenciamento de novos riscos, a velocidade e escala da inovação no mercado, além das prioridades para impulsionar a transformação do ecossistema financeiro.”
No modelo do embedded finance, organizações que não são do setor financeiro, como empresas de varejo, incorporam possibilidades de pagamentos, empréstimos, cartões e outros itens aos seus produtos ou serviços já existentes. Em contraste com o sistema bancário tradicional, em que um único detentor de licença integrado opera o processo de ponta a ponta, o embedded finance depende de várias funções e participantes distintos, incluindo plataformas, habilitadores e detentores de licença.
Crenças desafiadas
A análise da PwC observa que os bancos já absorvem essa tendência ao abrirem suas próprias plataformas para instituições não bancárias ou se ramificando com seguros integrados e serviços de concierge em setores adjacentes, como viagens, mobilidade e muito mais.
No entanto, o embedded finance ainda representa um desafio para a sabedoria convencional dos bancos, surfando em uma onda de tendências muito poderosas: a digitalização, o foco na centralidade do cliente e o poder dos ecossistemas. À medida que os aplicativos alcançam áreas antes dominadas pelo tradicional – pagamentos, empréstimos, poupança e licenças bancárias — as oportunidades e impactos para a transformação do modelo de negócios também se intensificaram.
O embedded finance está superando quatro suposições que prevaleceram em todo o setor por mais de uma década. Estas são:
1) Os bancos sempre serão os donos da infraestrutura de pagamentos.
Nos próximos anos, estima-se que os pagamentos representem um terço da receita bancária e cerca de 90% dos dados úteis dos clientes. Mas, nessa batalha, os bancos emergiram como apenas um em uma série de players importantes. No Brasil, duas empresas lideram um cenário diversificado de empresas que realizam pagamentos e fornecem gateways. As grandes empresas de tecnologia também estão ativas nesse espaço em que dois players norte-americanos estabeleceram enormes bases de clientes no Brasil e no mundo. O crescimento contínuo do embedded finance pode acelerar ainda mais a mudança dos bancos tradicionais em relação a pagamentos. Vemos players oferecendo melhores soluções para comerciantes e pagadores. Isso vai além de apenas incorporar o pagamento em transações abrangentes de maneira segura, diminuindo o atrito e a perda de conversão.
2) Novos participantes não entrarão em empréstimos como fizeram com pagamentos.
Para muitos bancos, o crédito ao consumidor ou a empresas é a parte mais lucrativa do negócio. Muitos presumiram que os obstáculos regulatórios ou as preocupações com o risco iriam desencorajar novos players – mas isso se provou falso. As grandes empresas de tecnologia e grandes varejistas, que aderiram ao embedded finance, em grande parte por meio de pagamentos e ofertas de crédito de white label, estão expandindo para embedded lending. Isso envolve parcerias com bancos e emissores de cartão de crédito, aquisições estratégicas de fintechs ou mesmo bancos. As ofertas de BNPL, feitas diretamente em plataformas on-line, devem atingir US$ 437 bilhões globalmente até 2027, um aumento de 291% em relação aos US$ 112 bilhões em 2022. No Brasil, esse tipo de pagamento já existe e só agora o resto do mundo começa a percorrer um caminho conhecido por nós, que lidamos bem com essas complexidades.
3) Players não financeiros não solicitarão licenças bancárias.
Em 2020, era comum ouvir a opinião de que as grandes empresas de tecnologia não buscavam licenças bancárias, porque os líderes da área temiam que isso fosse um risco muito grande. De fato, a resposta dos reguladores está sendo trabalhada e pode exigir cooperação internacional. No entanto, muitos players da tecnologia já possuem uma forma de licença bancária na Europa, conhecida como instituição de moeda eletrônica (Electronic Money Institution, na sigla em inglês), que permite emitir dinheiro eletrônico – e sinaliza sua intenção de entrar em ambientes financeiros regulamentados. Os bancos acreditam que têm vantagens inerentes em termos de escala, confiança do cliente e conhecimento regulatório e, portanto, são qualificados de maneira única para o licenciamento completo. Mas essa suposição está mudando. Além de possíveis incursões de big-techs, o número de fintechs com licença bancária no espaço embedded finance está crescendo. Os executivos do setor bancário devem considerar como sua instituição pode permanecer relevante e lucrativa se mais fintechs, especialmente big-techs, obtiverem licenças bancárias.
4) Os bancos continuarão a possuir a conta bancária principal e, portanto, o relacionamento com o cliente.
A conta bancária principal não deve ser subestimada. O uso de embedded finance costuma ser interpretado como complementar às atividades bancárias principais ou apenas para alcançar novos clientes. A suposição é que os bancos, por serem proprietários da conta principal, manterão sua função com sua base de clientes. As contas bancárias oferecem uma fonte importante de dados do cliente. Elas são atraentes para uma variedade de novos entrantes, que podem usar essas informações para melhorar a entrega sem atrito de seus produtos e serviços. À medida que eles se acostumam com pagamentos vinculados a um número de celular – com menor interação com a conta bancária na transação – o cenário está construído para disrupções futuras. Os players financeiros que esperam que as fintechs e as bigtechs recuem de seus esforços para entrar ou ganhar participação no mercado de serviços financeiros provavelmente ficarão desapontados.Os bancos devem examinar o custo de não fazer nada versus preparar seus negócios para enfrentar os desafios impostos pelo embedded finance. Especialmente devido às pressões no setor, fazer os investimentos certos pode aumentar a competitividade, desde o aumento do foco no cliente até o aprimoramento do uso de dados e o incentivo à eficiência, levando a operações mais simples.
Saiba mais sobre o tema acessando a série de artigos:
Embedded finance: desafiar premissas para impulsionar o crescimento
Gestão de riscos na transição para serviços financeiros integrados
Quatro prioridades para impulsionar a transformação do ecossistema financeiro
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