Otimismo com a economia e comprometimento socioambiental

Por Carlos Peres*

As lideranças mundiais estão bastante otimistas em relação às perspectivas econômicas globais de curto prazo. A maioria deles, 77%, acredita que o crescimento econômico vai se acelerar nos próximos 12 meses, percentual recorde entre os líderes globais desde 2012. É o que revela a 25ª edição da Pesquisa Anual Global com CEOs da PwC, que ouviu aproximadamente 4.400 CEOs, em 89 países, entre outubro e novembro de 2021, com uma participação expressiva de líderes do Brasil. O otimismo, no entanto, vem associado a um alerta: a necessidade de haver um maior comprometimento com a questão socioambiental.

Essa percepção de otimismo também se reflete entre os líderes brasileiros, onde 55% deles acreditam em uma melhora da economia local. A instabilidade macroeconômica e a desigualdade social, entretanto, preocupa a eles mais do que no resto do mundo, que teme principalmente os riscos cibernéticos e o relacionados à saúde da população. De acordo com a pesquisa, 63% dos CEOs brasileiros estão otimistas quanto ao crescimento da receita de suas empresas, enquanto o percentual global é de 56%. Olhando-se os segmentos, a previsão é de crescimento de 60% na área de Tecnologia, Mídia e Telecomunicações, de 57% para os executivos do Agronegócio e de 63% do setor de Varejo e Consumo. 

É interessante perceber também que para a grande maioria dos CEOs as metas relacionadas à satisfação do cliente, engajamento de funcionários e automação ou digitalização estão incluídas em suas estratégias de longo prazo. Esses compromissos não financeiros, na visão dos entrevistados, estão vinculados ao desempenho dos negócios. 

Já as metas relacionadas às emissões de gases do efeito estufa (GEE), à representatividade de gênero ou à diversidade racial e étnica aparecem muito menos latentes. Apenas 13% ou menos dos CEOs globais têm essas metas presentes em seu bônus anual ou plano de incentivos. Apesar do crescente interesse pelo tema ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa), as estratégias das empresas ainda são influenciadas principalmente por métricas de negócios não condicionadas às questões ambientais e sociais. Os CEOs que não se comprometeram com a neutralidade de carbono ou a eliminação de emissões de gases do efeito estufa alegam que emitem pouco, que não têm competências adequadas para isso ou que seu setor de atuação não tem uma estratégia de descarbonização. 

A situação é diferente para setores nos quais as mudanças climáticas representam uma ameaça real e mais direta. Por exemplo, 30% dos CEOs do setor de energia têm metas de emissões de GEE vinculadas à sua remuneração pessoal. Em contraste, esse percentual é de apenas 9% no setor de saúde e de 8% na indústria de tecnologia, mídia e telecomunicações.

A boa notícia para o Brasil é que o País está à frente na jornada de descarbonização levando em consideração que a adesão aos compromissos Net Zero é cada vez mais assimilada pelas empresas nacionais. A proporção de CEO’s comprometidos com essa questão, 27%, supera a média global, aparecendo à frente da necessidade de estimular inovações, de satisfazer as exigências dos investidores e atender às expectativas dos consumidores. 

Após um período de abalo mundial na economia em decorrência da pandemia, é compreensível e salutar essa manifestação de otimismo por parte das lideranças empresariais. No entanto, para que este quadro positivo se sustente não se pode desatentar do viés socioambiental. O principal fator de influência por trás dos compromissos ambientais é atenuar os riscos das mudanças climáticas. Sem atitudes ousadas o progresso em relação aos problemas mais desafiadores da sociedade continuará limitado para os CEOs. Os líderes mundiais inevitavelmente terão que enfrentar esta questão premente sob o risco de não concretizarem integralmente as próprias perspectivas otimistas de um mundo pós-pandemia.

 

* Carlos Peres é sócio e líder da PwC Brasil para a Região Sul

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