18 de Abril de 2022
Autores: Vicki Huff Eckert, líder global de New Ventures & Innovation da PwC e Stefan Kontschinsky, líder da estratégia da PwC Global New Ventures
Adaptação: Luiz Ponzoni, líder de Novo Negócios e Inovação da PwC Brasil
Muitos tipos de transações financeiras pessoais antes caras, complicadas ou totalmente impossíveis agora podem ser realizadas com apenas alguns toques na tela do celular. Consumidores de todo o mundo podem “comprar agora e pagar depois” com empréstimos da Affirm e Klarna oferecidos no ponto de venda, fazer transferências usando Toss, enviar dinheiro para outros países com o Remitly, Payoneer ou Airwallex e conectar contas financeiras com o Plaid – tudo a baixo custo. E essas são apenas algumas das inovações revolucionárias que chamaram a atenção dos investidores. De acordo com a análise da PwC usando dados do PitchBook Data Inc., unicórnios especializados em pagamentos levantaram US$ 12 bilhões em capital de risco durante os primeiros seis meses de 2021 – o dobro do valor obtido por esse grupo em todo o ano de 2020 e mais que o triplo do total de 2019.
A elevação nos investimentos em fintechs é um exemplo da quantidade sem precedentes de capital fluindo para os unicórnios – definidos como empresas de capital fechado financiadas por capital de risco avaliadas em US$ 1 bilhão ou mais – que, por sua vez, estão crescendo a uma taxa nunca vista.
Se 1999 foi o ano do IPO, quando empresas levantaram o valor recorde de US$ 69,2 bilhões para abrir capital, a década de 2020 deu início a uma era de abundância de inovação que a pandemia ajudou a amplificar. Nos primeiros seis meses de 2021, houve 404 megarrodadas (com captações de US$ 100 milhões ou mais). Somadas, elas atingiram US$ 134 bilhões em financiamento pré-IPO. E o quadro geral é igualmente impressionante: no início de 2016, havia 165 unicórnios e, em meados de 2021, já eram 743 – um aumento de 350%.
Essa tendência se repete nas mesmas proporções no Brasil. Em 2016, não havia sequer um unicórnio brasileiro. A empresa 99, considerada o primeiro unicórnio brasileiro, alcançou esse status em 2017. Desde então até junho de 2021, mesmo período de cobertura do estudo, surgiram outros 15 unicórnios brasileiros, sendo 2 em 2018, 5 em 2019, 4 em 2020 e 4 nos primeiros seis meses de 2021. O crescimento foi de 433% do final de 2018 até meados de 2021. Atualizando o período de cobertura da pesquisa para o fim de 2021, chegamos ao impressionante número de 11 novos unicórnios brasileiros surgidos em 2021, perfazendo 23 unicórnios brasileiros criados desde 2017.
No mesmo período, pelo menos outras quatro startups brasileiras também atingiram avaliações superiores a US$ 1 bilhão, mas tecnicamente não são consideradas unicórnios, pois essa avaliação não se deu por meio de rodadas privadas de captação de recursos, e sim de abertura de capital em bolsa de valores (oferta pública inicial de ações – IPO na sigla em inglês) ou da aquisição de controle por outra corporação.
Considerando então o número mais aceito, de 23 unicórnios brasileiros surgidos de 2017 até o fim de 2021, apura-se um crescimento de 667% em comparação com o número observado em finais de 2018. Estudos especializados, como o realizado pelo hub de inovação Distrito na nova edição do levantamento Corrida dos Unicórnios, apontam que, em 2022, o Brasil verá o surgimento de mais 14 unicórnios. Existem previsões ainda maiores.
Fonte: análise da PwC, PitchBook Data Inc.
Essa não é a empresa típica de tecnologia que leva 20 anos para ganhar escala. Muitas das inovações dos unicórnios foram totalmente realizadas em três a cinco anos. Obviamente, a história mostra que alguns unicórnios vão fracassar, e é natural desconfiar das altas avaliações atuais. Mas os unicórnios muitas vezes alcançam seu status porque conquistam posições sólidas em mercados que estão crescendo rapidamente ou com potencial para escalar rapidamente no futuro próximo – e porque mudam o comportamento do consumidor em áreas como pagamentos, veículos elétricos, o metaverso, entregas e telessaúde. Dado o grande volume de empresas e capital no ambiente dos unicórnios, os líderes precisam conseguir distinguir sinal de ruído. E precisam viver com e entre os unicórnios e se transformar com eles.
Com tantas oportunidades (e modismos), a primeira e mais essencial tarefa é identificar as inovações que estão ganhando escala e precisam estar no radar dos líderes. Esse é o objetivo de uma análise recente da PwC sobre capital de risco em fase avançada nos últimos cinco anos. Analisamos as empresas que alcançaram o status de unicórnios entre 1º de janeiro de 2016 e 30 de junho de 2021 e resumimos suas principais características. Durante esse período, 869 empresas atingiram a avaliação de US$ 1 bilhão. No passado, esse era um marco extremamente difícil e raro. Para se ter uma ideia, entre 2005 e 2010, apenas 14 empresas se tornaram unicórnios, segundo a Crunchbase. Os unicórnios em nosso período de estudo levantaram US$ 565 bilhões em capital, com 37% desse total concentrado em 52 decacórnios (empresas que alcançaram avaliação de mais de US$ 10 bilhões).
Fonte: análise da PwC, PitchBook Data Inc.
Embora espalhados pelo mundo, os unicórnios estão concentrados nos EUA e na China, as duas maiores economias do planeta. Cerca de 80% dessas empresas estão sediadas nos dois países (e foi para onde fluíram 80% dos recursos levantados durante nosso período de estudo). Os 20% restantes estão em 40 outros países e territórios. A Índia, líder em tecnologia, experimentou um crescimento substancial de unicórnios e aparece em terceiro lugar. O país abrigava cinco unicórnios no início de 2016 e agora tem 31.
O Brasil começou a ter maior destaque em 2019. Se em 2016 não havia sequer um unicórnio brasileiro, eles já eram 16 em junho de 2021, 23 no fim do mesmo ano. E, segundo a estimativa já citada, poderão chegar a 37 no fim de 2022. O país representou 1,5% dos unicórnios surgidos no mundo no período do estudo (janeiro de 2016 a junho de 2021). Se excluirmos os Estados Unidos e a China, o Brasil correspondeu a 8% dos unicórnios reconhecidos nesse período.
Na década de 1990, quase todo o capital de risco foi direcionado para empresas de alta tecnologia, internet e telecomunicações, enquanto hoje um nível recorde de recursos está sendo investido em fintechs (atualmente o maior foco de capital pré-IPO), tecnologias industriais, de mobilidade e de saúde, comércio digital e entretenimento e mídia. A tecnologia influencia tantas verticais que os investimentos e processos de negócios direcionados a elas avançam e começam a diluir as fronteiras entre as indústrias.
O Brasil está bastante alinhado a esse movimento global — mas, novamente, com um pequeno atraso. Dos 16 unicórnios brasileiros existentes em junho de 2021, nenhum é representante do segmento de health techs ou industrial techs, por exemplo. A concentração é em fintechs, comércio digital, logística e mobilidade. Essa concentração continuou a ser observada nos sete unicórnios surgidos no segundo semestre de 2021. No entanto, essa tendência poderá começar a ser revertida em 2022, com o surgimento de unicórnios em segmentos como saúde, seguros, agronegócio, cibersegurança e ESG.
Fonte: análise da PwC, PitchBook Data Inc.
O grande volume de capital privado disponível para empresas financiadas por capital de risco em fase avançada também afeta o momento e a estratégia dos IPOs – o canal histórico pelo qual empresas em crescimento levantaram capital e viram suas avaliações aumentarem rapidamente.
Muitos unicórnios captaram enormes somas de investimento privado antes de abrir o capital, como mostram as 404 megarrodadas do primeiro semestre de 2021. A alta no financiamento pré-IPOs levou a uma alta no financiamento de IPOs e, como resultado, o rendimento médio dos IPOs de unicórnios mais do que quadruplicou desde 2016, de US$ 234 milhões para US$ 1 bilhão.
Outro aspecto relevante: das 1.034 empresas que alcançaram o status de unicórnio durante o período do estudo, apenas 28% saíram no mesmo período (por meio de M&A, IPO, SPAC ou saída do negócio). Em outras palavras, apesar do grande número de IPOs de unicórnios em 2021 (só no primeiro semestre), estamos apenas começando. E, independentemente de como será o mercado de IPOs no curto prazo, os unicórnios têm centenas de milhões de dólares para inovar.
No Brasil, a aceleração no surgimento de unicórnios, principalmente a partir de 2019, está relacionada à grande expansão no volume de recursos destinados ao investimento em startups a partir daquele ano. Em 2019 e 2020, o investimento em startups no Brasil alcançou as marcas de US$ 3,4 bilhões e US$ 4,7 bilhões, respectivamente, contra US$ 1,1 bilhão e US$ 1,4 bilhão em 2017 e 2018. Ou seja, um crescimento expressivo de 328% em quatro anos. Mas é 2021 que marca uma mudança de patamar. As startups brasileiras receberam ao todo US$ 9,4 bilhões em investimentos no ano, ou seja, o dobro do apurado em 2020 e com um crescimento acumulado de 755% em cinco anos (dados da plataforma Distrito).
Em paralelo a essa atividade sem precedentes, é óbvio que a tecnologia tradicional não está parada. Durante o período do nosso estudo, surgiram 106 unicórnios de tecnologia corporativa focados em inteligência artificial (IA), machine learning, análise de dados e automação robótica de processos (RPA, na sigla em inglês). Nos EUA, as empresas estão usando a IA principalmente para melhorar seu desempenho, obter mais insights dos dados ou automatizar as operações de negócios. Na China, as empresas de IA estão focadas principalmente em reconhecimento facial e visão computacional. De forma alarmante, o investimento em segurança cibernética não acompanhou esse ritmo: dos US$ 96 bilhões investidos em unicórnios de tecnologia corporativa e de consumo durante o período do nosso estudo, apenas US$ 10 bilhões foram para 41 empresas de segurança cibernética.
Nossa análise de unicórnios revela cinco tendências que moldarão o restante desta década – e parte delas provavelmente causará impacto na década seguinte. Juntas, essas tendências representam algumas das oportunidades mais empolgantes e promissoras nesta era de inovação tecnológica aparentemente sem limites.
O crescimento da economia de plataformas e do comércio eletrônico criou uma necessidade sem precedentes de pagamentos digitais transparentes, transnacionais e altamente escaláveis. O fenômeno de pagamentos é mais claramente representado pela evolução do Square (que mudou seu nome para Block em dezembro de 2021): no início da pandemia, a empresa tinha um ecossistema de vendedores de cartões, depois mudou de rumo para capitalizar os negócios de comércio digital, banco digital e gestão de patrimônio escalando seu app de transferência de dinheiro, lançado em 2013. Nos documentos apresentados à SEC (Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos), o Block informou ter obtido US$ 435 milhões em receita com o aplicativo em 2018. Em 2020, esse valor havia crescido para US$ 6 bilhões, e estava em US$ 9,8 bilhões até o terceiro trimestre de 2021 – ano que terminou com a empresa avaliada em US$ 110,6 bilhões.
As plataformas de aplicativos de consumo estão se expandindo para além do ramo de pagamentos para abranger também empréstimos, por meio de produtos do tipo “compre agora e pague depois” (BNPL, na sigla em inglês), bancos digitais, crédito imobiliário, seguros e gestão de patrimônio. O número de fintechs unicórnios aumentou mais de quatro vezes, de 36 em 2016 para 159 em 2021, uma taxa de crescimento anual acumulada de 35%. O número de bancos digitais unicórnios aumentou de 2 em 2016 para 18 em 2021. As fintechs de gestão de patrimônio passaram de 4 unicórnios para 22 no mesmo período. Dos unicórnios de empréstimos, três arrecadaram mais de US$ 1 bilhão cada: a SoFi (uma plataforma de empréstimos sociais) e a Affirm (BNPL) com sede nos EUA, além do OakNorth Bank, com sede no Reino Unido e que usa inteligência de crédito para empréstimos comerciais. Os unicórnios fintechs de gestão de patrimônio, que estão escalando apps para que os clientes comprem ações on-line sem as altas taxas de negociação cobradas pelas corretoras tradicionais, foram liderados por Robinhood (com sede nos EUA) e JD Digits (com sede na China).
A digitização da economia também está criando a base e a infraestrutura para que as moedas digitais se popularizem. Durante o período do estudo, identificamos 22 unicórnios associados a criptomoedas e outros ativos digitais. Quando abriu o capital em 2021, a Coinbase – que informa ter 73 milhões de usuários verificados e no fim de dezembro de 2021 alcançou valor de mercado de US$ 64,9 bilhões – validou o mercado de criptomoedas e, mais amplamente, o de ativos digitais: 13 dos 22 unicórnios existentes alcançaram essa condição após o anúncio do IPO da Coinbase, em fevereiro de 2021. Essas empresas estão lançando novas bolsas e carteiras digitais para ativos digitais, que, por sua vez, criam a infraestrutura principal para inovações futuras.
CAGR de novos unicórnios fintechs de 2016 a 2021
As vendas de veículos elétricos (VEs) aumentaram 40% em 2020, atingindo 3 milhões, e tinham potencial de crescimento de 98% ao ano em 2021 – impulsionadas pelo aumento da aceitação do consumidor, por incentivos e, em muitas áreas, por decisões governamentais de ampliar o mercado. O segmento de veículos elétricos está se expandindo para atender a essa demanda, com muitas das principais montadoras globais agora oferecendo modelos elétricos ou se comprometendo com uma transição elétrica. Fabricantes de baterias de lítio, empresas de armazenamento de energia e provedores de redes de carregamento apoiam esse crescimento ampliando a tecnologia industrial.
Por exemplo, unicórnios de redes de carregamento, como a ChargePoint, nos EUA, e as empresas Teld New Energy, NewLink Group e Star Charge, na China, estão expandindo rapidamente o número de suas estações de carregamento de VE no mundo. De fato, grande parte da atividade de VE está acontecendo na China e nos EUA, os dois maiores mercados automotivos do mundo; 14 dos 17 unicórnios de VE são sediados nesses dois países (seis nos EUA, oito na China). A China foi a pioneira nesse espaço, e os unicórnios expandiram rapidamente seu mercado.
O nascimento dos veículos elétricos foi o primeiro passo para a criação de novos ecossistemas que envolvem não apenas o setor automotivo, mas também energia, logística e serviços financeiros. O resultado será um transporte baseado em plataforma, oferecendo serviços a consumidores e empresas. Essa evolução ocorrerá ao longo da década atual, à medida que a velocidade da tecnologia de carregamento se acelerar.
No entanto, mesmo com os mercados automotivos se eletrificando rapidamente, os carros autônomos permanecem mais distantes. Para atingir maturidade e escala, esses veículos precisarão ser aceitos de um ponto de vista cultural e regulatório, e é improvável que apareçam nas ruas em grande número até a década de 2030. Ainda assim, havia 21 unicórnios atuando no mercado de autônomos durante o período do nosso estudo. Algumas empresas, como Waymo, Faraday Future e Rivian Automotive, com sede nos EUA, e BAIC BJEV, com sede na China, Xiaopeng Motors (que abriu o capital em 2020) e Nio (que abriu o capital em 2018), estão trabalhando nos próprios carros, e cada uma já levantou mais de US$ 1,5 bilhão. O restante dos unicórnios nesse segmento são fornecedores de componentes – por exemplo, empresas que escalam mecanismos e sensores de IA.
unicórnios de veículos elétricos estão sediados nos EUA e na China
Unicórnios em edtech, jogos e streaming já atraíam grande interesse antes de 2020. Juntos, eles arrecadaram US$ 23,8 bilhões entre 2016 e 2019. Mas foi durante a pandemia (período definido em nosso estudo como de janeiro de 2020 até o fim do levantamento, em 30 de junho de 2021) que eles decolaram, levantando US$ 29,9 bilhões. Os integrantes da Geração Z, nativos digitais nascidos entre 1997 e 2012, se viram isolados durante seus anos de formação, tanto social quanto academicamente. Em todo o mundo, essa população teve que migrar partes importantes de suas vidas rapidamente para o ambiente virtual, aprendendo de forma remota e jogando on-line para se manter conectada com os amigos.
Essa transformação se tornou um fenômeno social que está dando vida ao metaverso, um mundo digital viabilizado pela tecnologia. A inovação geralmente se volta para a próxima geração, e grande parte da Geração Z agora está suficientemente madura para começar a conduzir comportamentos e o uso da tecnologia – com o resto da sociedade seguindo seu exemplo. Cada vez mais o mundo da tecnologia vai atender às necessidades e preferências dela. Por exemplo, disparou a demanda por produtos e serviços de unicórnios de edtech, jogos e streaming, assim como a avaliação financeira dessas empresas. Desde 2020, 33 empresas de entretenimento e mídia alcançaram o status de unicórnios.
O segmento de edtech cresceu rapidamente quando muitas escolas fecharam, e os alunos foram forçados a ficar em quarentena por períodos prolongados, ou quando os trabalhadores buscaram opções virtuais para desenvolvimento de habilidades profissionais e pessoais. Durante a pandemia, os unicórnios de edtech captaram (em uma base anualizada) oito vezes o valor anual levantado de 2016 a 2019. As plataformas de tutoria Byju (com sede na Índia) e Yuanfudao e Zuoyebang (com sede na China) receberam investimentos maciços (cada uma atraiu financiamentos de US$ 3 bilhões a US$ 4 bilhões entre 2016 e 2021). A Business Standard informou que a Byju tinha 100 milhões de alunos registrados e 6,5 milhões de assinantes pagos em setembro de 2021.
Durante a pandemia, os unicórnios de jogos levantaram (em uma base anualizada) mais que o dobro do capital obtido nos quatro anos anteriores. Isso reflete a transformação dos jogos em um ambiente de conectividade social e, em breve, mercados. A empresa Newzoo, que analisa a indústria, informou que o mercado global de jogos gerou US$ 177,8 bilhões em 2020, um aumento anual de 23%. O crescimento dos unicórnios de jogos foi impulsionado por unicórnios surgidos antes da pandemia nos EUA: a Epic Games e a Magic Leap.
Da mesma forma, os unicórnios de streaming mais que dobraram os bilhões anuais captados durante a pandemia em comparação com o período 2016-19. O streaming se tornou onipresente. Por exemplo, a empresa sueca de streaming de música Spotify, que era um unicórnio até abrir seu capital em 2018, aumentou sua base de usuários de 77 milhões em 2015 para 365 milhões em 2021. O TikTok (fundado em 2016) e seu concorrente Kuaishou (fundado em 2011) cresceram para alcançar o patamar impressionante de um bilhão de usuários ativos mensais durante a pandemia.
Essa tendência está apenas começando – a convergência do metaverso com a criptografia e o 5G tem potencial para criar uma economia da web 3.0 que ainda não podemos prever totalmente e que evoluirá ao longo da década.
Investimento captado por edtechs, jogos e streaming durante a pandemia
Antes da pandemia, os unicórnios criaram a indústria da mobilidade. No início, isso significava compartilhar caronas para movimentar pessoas. Ao longo do período de estudo, US$ 67 bilhões foram destinados para 27 empresas, lideradas por Uber e Didi. Mas a pandemia mudou o comportamento das pessoas da noite para o dia. Em 2018, as empresas de mobilidade arrecadaram US$ 23,6 bilhões; em 2020, foram US$ 7,2 bilhões. O número de usuários caiu rapidamente, e essa indústria ainda jovem foi forçada a fazer uma pivotagem radical para a entrega de alimentos e outros produtos.
Ao mesmo tempo, empresas de entrega de alimentos, artigos de supermercado e kits de refeições se expandiram para responder às novas necessidades dos consumidores – 13 das 32 empresas do nosso estudo alcançaram o status de unicórnios durante a pandemia. Os investimentos em comércio digital, que haviam diminuído antes da pandemia, se aceleraram. Tendo arrecadado US$ 12 bilhões entre 2016 e 2019, os unicórnios de entrega levantaram US$ 16 bilhões na pandemia. Marcas de mobilidade estabelecidas, como o Uber Eats, que começou em 2014, tiveram um aumento repentino de usuários e de uso (vendas médias por usuário). Enquanto as reservas de viagens do Uber caíram 75% entre abril e junho de 2020, os pedidos para o Uber Eats mais que dobraram. O unicórnio americano DoorDash cresceu de 4 milhões de usuários em 2018 para 20 milhões de usuários em 2020.
Essa mudança de conceito sobre onde e como compramos, e o impacto dos players de mobilidade, está resultando em novos ecossistemas baseados em serviços tradicionalmente oferecidos por varejistas, empresas de comércio digital e provedores de logística. Por exemplo, o crescimento do comércio digital combinado com inovações em pagamentos está criando grandes oportunidades para empresas que coletam itens para entrega de lojas de varejo (como Instacart e Gopuff, ambos unicórnios dos EUA) ou restaurantes (como DoorDash e Ele.me, com sede na China). Há também oportunidades para unicórnios de logística, como a J&T Express, com sede na Indonésia, e a chinesa Lalamove, com as quais o vendedor contrata a entrega de mercadorias compradas pelos clientes em sua plataforma de comércio eletrônico.
foram destinados para 27 unicórnios de mobilidade de 2016 a 2021
A pandemia também mudou radicalmente a forma como as pessoas acessam serviços de assistência à saúde. Consumidores e provedores adotaram rapidamente os serviços de telessaúde e telemedicina, para que as pessoas possam monitorar condições médicas, fazer consultas virtuais e gerenciar receitas de medicamentos remotamente. Nos EUA, o CDC informou que as consultas de telessaúde aumentaram 154% na última semana de março de 2020 em relação à mesma semana de 2019. A Roman Health Ventures, operadora de marcas que oferecem serviços de telessaúde focados em homens e mulheres e uma farmácia on-line, levantou US$ 625 milhões durante a pandemia. Além disso, desde o início da crise sanitária, surgiram 13 novos unicórnios de telessaúde – nove dos quais alcançaram essa condição durante o primeiro semestre de 2021.
Mas não se trata apenas de fornecer receitas e tratamento médico. Também ganharam destaque unicórnios de bem-estar, como as empresas americanas de fitness Peloton e Tonal, além de unicórnios de saúde mental, como Calm, um aplicativo de meditação, e Lyra, Cerebral e Modern Health (todos com sede nos EUA), que conectam pacientes com terapeutas virtualmente. A expansão dessa abordagem de plataforma para a prestação de serviços de saúde e bem-estar está abrindo caminho para oportunidades de data analytics. Durante o período do nosso estudo, 14 unicórnios de plataformas de análise de saúde obtiveram US$ 3,4 bilhões – US$ 2,4 bilhões durante a pandemia. Por exemplo, a empresa americana VillageMD, que afirma ter 1,6 milhão de usuários, alcançou o status de unicórnio em 2021.
No futuro, há uma grande promessa em biotecnologia – por exemplo, no desenvolvimento de medicamentos e vacinas que usam mRNA e outras tecnologias. Um exemplo é o sucesso da Moderna, unicórnio americano, no desenvolvimento de uma vacina contra a covid-19. Durante o primeiro semestre de 2021, oito novos unicórnios de biotecnologia captaram no total US$ 1,9 bilhão, entre eles, três que estão divulgando ao público o uso de IA e machine learning em seu processo de desenvolvimento de medicamentos. Obviamente, o ambiente regulatório precisa se adaptar a essas novas técnicas de inovação. Isso significa que provavelmente não veremos seu impacto total no mercado de saúde até a década de 2030.
novas empresas de telessaúde alcançaram o status de unicórnios desde o início da pandemia
O Brasil está relativamente alinhado às cinco tendências globais descritas e com áreas claras de oportunidades. Parece que nossos unicórnios atuais e as apostas de próximos unicórnios (ou soonicorns, termo em inglês que une as palavras “logo” e “unicórnios”) se manterão nas tendências 1, de concentração de serviços financeiros ao consumidor em plataformas, e 4, de pivotagem das empresas de mobilidade, porém vão incorporar mais rapidamente a tendência 5, Saúde e bem-estar tornam-se virtuais. As outras duas tendências globais representam enormes oportunidades para o mercado brasileiro, com atenção e investimentos já começando a convergir para a transformação energética e o metaverso.
Os unicórnios de hoje não estão apenas moldando os mercados de capitais e as estratégias de investimento: eles estão redefinindo os setores em que operam – desenvolvendo novos produtos e serviços, expandindo-se rapidamente para novos mercados geográficos e usando seu dinheiro (e ações valiosas) para atrair talento. É claro que ainda há muita “espuma” nessa tendência: nem todo unicórnio se tornará um decacórnio, e o mercado pode sofrer correções.
Ainda assim, muitos unicórnios continuarão captando quantias significativas, e investidores e empresas tradicionais precisam pensar em como competir com um número crescente de empresas nativas digitais bem financiadas. Eles podem descobrir que, se as avaliações financeiras caírem, novas aquisições se tornarão possíveis. Haverá também oportunidades de colaboração para ter acesso a novos mercados. Pense em como o McDonald’s inova com unicórnios: nos últimos anos, a empresa fez parceria com Uber Eats e DoorDash para entrega, WeChat para pagamentos móveis e Beyond Meat para lançar opções de cardápio vegetariano. A mensagem é clara: à medida que inovações ganharem escala e concluírem nossa transformação para uma economia digital, as empresas estabelecidas estarão cada vez mais operando no mundo dos unicórnios.
Notas
1. PitchBook Data Inc. é a fonte de dados sobre financiamento de unicórnios para todo este relatório. A análise conduzida pela PwC não foi revisada pelo PitchBook, e a terminologia do setor usada neste artigo pode diferir da empregada pelo PitchBook.
2. Exclui a Ant Financial, que levantou de forma independente US$ 85 bilhões durante o período do estudo. Também exclui valores captados antes de 2016 e antes de a empresa se tornar um unicórnio, além de valores captados em rodadas de saída.
Clique aqui para ver a metodologia do estudo.
* Artigos publicados originalmente na revista strategy+business não representam necessariamente as opiniões das firmas do network PwC. Análises e citações de publicações, produtos ou serviços não constituem endosso ou recomendação de compra. A strategy+business é publicada por algumas firmas do network PwC. Esta é uma tradução do texto original em inglês — conforme publicado em pwc.com pela revista strategy+business — realizada e adaptada pela PwC Brasil.