Das moléculas às grandes conquistas: transformando o futuro dos medicamentos para perda de peso

Os GLP-1 estão revolucionando o tratamento da obesidade, impulsionando empresas a liderar com base na disrupção e a se reinventar

É quase impossível ignorar as notícias: uma onda gigante de interesse está surgindo em torno de medicamentos revolucionários para a perda de peso no tratamento da obesidade. Ao contrário das tendências passadas de dietas e métodos de emagrecimento, os medicamentos agonistas do receptor GLP-1 estão gerando níveis de entusiasmo raramente vistos. Ao aumentar a produção de insulina, regular o açúcar no sangue e induzir uma sensação de saciedade, esses medicamentos proporcionam uma perda de peso significativa.

Poucos eventos na história da medicina tiveram um impacto comparável. O avanço dos GLP-1 é geralmente comparado a medicamentos transformadores, como as estatinas, que mudaram o curso do tratamento de doenças cardíacas e colesterol. O que começou como um esforço discreto para a perda de peso evoluiu para uma revolução na saúde, levando muitas empresas a repensar seu futuro.

A PwC EUA realizou um estudo aprofundado com cerca de três mil consumidores para explorar a influência desses medicamentos nos estilos de vida, hábitos de consumo e padrões de gastos. Os resultados revelam uma mudança sísmica em curso. Alterações individuais no comportamento dos consumidores estão se somando para gerar impactos significativos nos setores de saúde, alimentos, bebidas, varejo, viagens, entretenimento e outros. Essas transformações exigem que as empresas reinventem seus modelos de negócio e adotem a inovação como estratégia para atender às expectativas e necessidades dinâmicas dos consumidores.

É evidente que os GLP-1 estão se tornando essenciais para a perda de peso e podem oferecer novos benefícios para a saúde de um público cada vez mais amplo. Essa descoberta gerou um inédito aumento no interesse e na demanda por esses medicamentos. Nossa pesquisa revelou que entre 8% e 10% dos americanos atualmente utilizam GLP-1, enquanto 30% a 35% demonstram interesse em adotá-los. A demanda tem sido tão alta que os fornecedores geralmente enfrentam dificuldades para atendê-la.

Algumas projeções de analistas indicam que o mercado de GLP-1 pode atingir US$ 150 bilhões até 2030. Esse crescimento tem sido impulsionado pela redução de algumas limitações de fabricação, melhorias nos perfis de efeitos colaterais, entrada de novos players no mercado, maior aceitação por parte das operadores de planos de saúde, introdução de uma forma oral mais simples de usar e fácil de produzir, além de uma maior penetração no mercado convencional.

Com a compreensão crescente sobre os benefícios e perfis de segurança dos GLP-1, também surgem discussões sobre como esses medicamentos podem ser administrados com populações pediátricas. A taxa de obesidade em adolescentes quadruplicou nos últimos 30 anos. Diante do crescente interesse público e entendimento dos potenciais benefícios, 82% dos pais que entrevistamos não se opõem ao uso de GLP-1 para seus filhos. Embora a adoção atual por crianças e adolescentes com 12 anos ou mais ainda represente uma pequena fração dos usuários, o uso tem crescido rapidamente, trazendo uma nova esperança para um futuro mais saudável para essas crianças e suas famílias.

Uma das principais barreiras para a ampla adoção dos GLP-1s é a questão da acessibilidade econômica. Segundo nossa pesquisa, 45% dos pacientes atuais apontam o custo como um dos principais motivos para interromper o uso da medicação. Tornar os GLP-1s mais acessíveis depende, em grande parte, da ampliação da cobertura oferecida pelos planos de saúde oferecidos por empregadores, seguradoras e programas médicos governamentais. Um estudo de 2024 realizado pela International Foundation of Employee Benefit Plans revelou que a cobertura para GLP-1s ainda é limitada: apenas 34% dos planos corporativos incluem pacientes não diabéticos que buscam perder peso, embora esse número represente um aumento de oito pontos percentuais em relação a 2023.

A pesquisa clínica está avançando em ritmo acelerado, explorando os efeitos de curto e longo prazo da medicação, bem como outras aplicações terapêuticas que vão além do controle de peso e do diabetes. Com o uso dos GLP-1s se expandindo para tratar uma gama mais ampla de condições, como apneia do sono, doenças cardiovasculares, doenças renais, Alzheimer e até Parkinson, é provável que a demanda e a cobertura dos seguros continuem a crescer.

Embora pacientes com seguro possam ter custos gerais mais baixos de tratamento, as despesas diretas variam consideravelmente, desde coparticipações nominais até altos custos compartilhados para medicamentos indicados principalmente para perda de peso. Para os GLP-1s compostos, algumas farmácias estão autorizadas a preparar versões com ingredientes farmacêuticos semelhantes para suprir a escassez de medicamentos, oferecendo uma alternativa geralmente mais acessível do que os preços dos medicamentos de marca. Os fabricantes estão começando a tomar medidas para ampliar o fornecimento e o acesso, como lançar o medicamento de marca em formato de frasco, que custa pelo menos metade do preço da versão em autoinjetor.

Os efeitos colaterais também representam um desafio. Para os usuários atuais de GLP-1, nossa pesquisa indica que pacientes não diabéticos planejam continuar a medicação por uma média de 1,5 anos. Os efeitos colaterais negativos (por exemplo, náusea e problemas gastrointestinais) são uma das principais razões para a interrupção do tratamento. Com avanços que reduzam o impacto desses efeitos, acreditamos que os GLP-1s possam se tornar uma solução de longo prazo para o controle de peso. Isso é reforçado pelo fato de que 42% dos ex-usuários declararam grande probabilidade de retomar o tratamento, caso os custos e os efeitos colaterais diminuam.

Acreditamos que o aumento significativo de pacientes buscando e recebendo tratamento poderá gerar mudanças macroeconômicas em diversas indústrias, criando oportunidades para empresas desenvolverem produtos e serviços de valor agregado, alinhados às necessidades de diferentes segmentos.

Saúde, bem-estar e fitness: efeitos em cadeia podem gerar padrões inesperados de consumo

Em relação aos hábitos de fitness e exercícios, observamos uma variação significativa nas mudanças de comportamento entre os usuários de GLP-1. Enquanto 57% dos pacientes relataram ter mantido ou aumentado a frequência de seus exercícios, os outros 43% diminuíram ou abandonaram completamente a prática. Essa diferença de comportamento parece refletir preferências pessoais e atitudes individuais em relação à saúde e ao bem-estar.

Para alguns, à medida que a perda de peso avança durante a terapia medicamentosa, pode haver menos incentivo para iniciar ou manter um programa de exercícios, já que o medicamento, por si só, muitas vezes entrega os resultados desejados. Por outro lado, há aqueles que se dedicam a adotar mudanças mais profundas e abrangentes para melhorar sua saúde de forma geral. Seja motivados pelo encorajamento de seus médicos ou por uma força de vontade intrínseca, esses pacientes incorporam os exercícios como parte essencial de sua jornada para alcançar melhor saúde e perda de peso sustentável.

Para os usuários motivados a se exercitar durante o uso de GLP-1, as empresas de fitness podem direcionar seus esforços de marketing e vendas para os treinos mais procurados, como o treinamento de força, que ajuda a reconstruir a massa muscular magra. Para os usuários de GLP-1 de modo geral, empresas voltadas ao bem-estar podem focar em áreas essenciais de melhoria da saúde que vão além do controle de peso. Por exemplo, pacientes que consomem porções menores podem se beneficiar de produtos desenvolvidos para suprir deficiências nutricionais ou energéticas.

Buscando atender a novas necessidades que estão surgindo, empresas de saúde e bem-estar podem redirecionar seu foco de mercados em declínio, como equipamentos médicos para doenças crônicas, para produtos inovadores como balanças inteligentes, monitores de atividades físicas e dispositivos wearable que ajudam a acompanhar o progresso físico.

O tratamento de problemas de saúde crônicos estão se tornando cada vez mais caros, especialmente com o aumento da expectativa de vida. De acordo com pesquisas publicadas no Journal of Gerontology and Geriatric Medicine, a obesidade e as questões de saúde relacionadas têm levado a um maior consumo de serviços médicos, como internações hospitalares, cuidados especializados e medicamentos prescritos. Reverter essa tendência pode não apenas diminuir o número de pacientes que buscam tratamento, mas também aliviar a pressão sobre um sistema de saúde já sobrecarregado e redirecionar o foco para especialidades de saúde preventiva.

Alimentos e bebidas: as pessoas estão comendo, bebendo e gastando menos

Para aqueles que vivem com diabetes ou obesidade, as escolhas diárias relacionadas ao consumo de alimentos e bebidas estão sempre em destaque. Os GLP-1s alteram fundamentalmente a maneira como as pessoas encaram sua alimentação e podem transformar significativamente a relação da indústria com os consumidores nos próximos anos.

Em média, os usuários de GLP-1 reduziram seus gastos com alimentos em aproximadamente 11% na maioria das categorias. O consumo geral caiu, mas as maiores reduções foram observadas em petiscos doces e salgados, assim como produtos de panificação. Mais da metade dos entrevistados indicou o desejo de adotar escolhas alimentares ainda mais saudáveis, enquanto cerca de um terço relatou uma diminuição nos episódios de compulsão alimentar ou no consumo de bebidas alcoólicas durante o tratamento. Há também indícios de que consumidores frequentes de álcool na nossa amostra reduziram seu consumo, com um terço deles passando para uma categoria inferior (por exemplo, de excessivo para moderado).

Embora não esperemos que os consumidores deixem de consumir por completo alimentos não saudáveis, o volume de compras pode mudar e o consumo calórico total por pessoa pode diminuir significativamente. Isso sugere que restaurantes e empresas do setor de alimentos voltadas para experiências gastronômicas devem repensar suas estratégias, ajustando seus produtos para um mercado que busca novas formas de consumo, como opções com porções reduzidas ou formatos voltados para o consumo em casa.

Da mesma forma, estabelecimentos voltados para uma alimentação mais saudável podem se destacar, desde que consigam manter preços competitivos e se adaptar às mudanças nas preferências dos consumidores. A promoção de alimentos “funcionais”, com uma comunicação clara sobre seus benefícios nutricionais e para a saúde, será mais crucial do que nunca. Com a tendência de atingir metas nutricionais consumindo menos comida, as empresas de bens de consumo e do setor alimentício devem repensar seus produtos para garantir que atendam a todas as necessidades nutricionais de quem opta por refeições menores. Algumas marcas já planejam lançar linhas de refeições especificamente voltadas para a comunidade GLP-1.

Empresas de alimentos e bebidas com uma base de clientes altamente concentrada estão mais vulneráveis às mudanças de comportamento relacionadas ao uso de GLP-1 e devem avaliar cuidadosamente o impacto potencial em seus resultados financeiros caso seu público-alvo inicie o tratamento. Por exemplo, uma estimativa sugere que a faixa de 10% dos maiores consumidores de álcool nos Estados Unidos responde por quase 60% das vendas totais de bebidas alcoólicas. Se esse grupo relativamente pequeno, porém altamente representativo para o setor, começasse a usar GLP-1 e reduzisse seu consumo, o impacto na receita poderia ser significativo.

Vestuário: mudanças na composição corporal impulsionam a busca pela aparência ideal

Mesmo pequenas variações no peso podem exigir um novo guarda-roupa. Além disso, o aumento de autoconfiança após a perda de peso pode intensificar o desejo de adquirir novas peças. Quase um terço dos consumidores entrevistados indicou se sentir mais satisfeito com seu corpo e mais confortável para usar uma gama maior de roupas em comparação com seu peso anterior.

Esse impacto também se reflete no consumo: um quarto dos usuários de GLP-1 passou a comprar roupas em tamanhos menores. Além disso, uma transformação mais ampla no estilo de vida pode impulsionar ainda mais as compras – um quinto dos entrevistados que utilizam ou já utilizaram a medicação tem investido mais em roupas esportivas e para atividades físicas.

A frequência com que os usuários de GLP-1 compram e investem em novos guarda-roupas também depende de sua confiança em manter a perda de peso, o que tende a aumentar à medida que continuam usando os GLP-1s como uma solução de longo prazo para emagrecimento. Nossa pesquisa mostra que os usuários de GLP-1 que planejam permanecer na medicação por mais de um ano indicaram o maior aumento nos gastos com vestuário.

As compras presenciais podem se tornar mais comuns, pois os usuários de GLP-1 talvez precisem experimentar roupas para reavaliar seu tamanho. Caso os padrões de consumo sofram mudanças significativas, varejistas e fabricantes de vestuário poderão ter que ajustar com maior precisão suas projeções de demanda para diferentes tamanhos e estilos, cuja distribuição pode se tornar menos previsível.

Viagens, entretenimento e lazer: o equilíbrio entre a nova confiança e orçamentos mais restritos

Os usuários de GLP-1 entrevistados relataram manter ou reduzir levemente seus gastos com entretenimento fora de casa, como teatros, eventos esportivos ao vivo, shows e parques de diversão. Suspeitamos que os custos atuais dessas medicações, somados às pressões orçamentárias decorrentes da inflação e do aumento geral dos preços, estejam limitando os gastos discricionários ao longo do tratamento.

Embora essa tendência possa ser desafiadora no curto prazo para os setores de turismo e entretenimento, os hábitos de consumo podem se reverter no longo prazo. À medida que o custo geral do tratamento diminui e os usuários desenvolvem uma percepção mais positiva sobre sua aparência e níveis de energia, os gastos com lazer podem aumentar. De fato, observamos um crescimento de 15% no número de usuários de GLP-1 que relataram uma melhora na autoestima e na imagem corporal. Acreditamos que pessoas mais confiantes e satisfeitas tendem a ser mais ativas, o que pode levá-las a participar de mais atividades recreativas.

No entanto, nem todas as formas de turismo e entretenimento devem se beneficiar da mesma maneira. Usuários de GLP-1, por exemplo, podem preferir viagens mais ativas em detrimento de experiências mais sedentárias focadas em gastronomia e bebidas.

O uso de GLP-1 é altamente individualizado. Os padrões de tratamento podem variar, e os impactos no comportamento do consumidor e nos negócios provavelmente dependerão de aspecto como duração esperada do uso, adesão, persistência e enfermidades tratadas. Para compreender e se adaptar a essa era transformadora, é fundamental segmentar a população usuária de GLP-1 com base em seus hábitos, preferências, necessidades e comportamentos.

Variáveis como duração do tratamento, idade e adesão podem servir como pontos de partida estratégicos para empresas que buscam atender melhor seus clientes. Uma empresa de alimentos, por exemplo, pode desenvolver uma ampla gama de opções de refeições para atrair usuários de GLP-1 no longo prazo, incentivando o consumo contínuo de seus produtos. Para os usuários temporários, a mesma empresa pode adotar uma abordagem focada em conveniência e simplicidade, garantindo que hábitos alimentares essenciais sejam incorporados rapidamente.

Acreditamos que a alta demanda atual por GLP-1s para perda de peso seja impulsionada principalmente por usuários de curto prazo (até um ano) da medicação. Esses consumidores desempenharão um papel central na ampliação da conscientização sobre o tratamento. À medida que o GLP-1 se torne mais presente no vocabulário social, o compartilhamento dessas experiências poderá fortalecer a confiança coletiva na segurança e eficácia do medicamento.

Acreditamos que a adoção dos medicamentos GLP-1 continuará a crescer de forma significativa, especialmente quando a comunidade de médicos e entidades de saúde começar a recomendá-los como padrão de tratamento para a obesidade. Empresas com foco no consumidor devem se preparar para mudanças rápidas e avaliar se a abordagem tradicional de negócios está em risco.

Ainda há uma grande oportunidade de apoiar os usuários de GLP-1 durante esse período de transformação e capturar valor ao facilitar seus novos comportamentos. Ao agir agora, as empresas aumentam suas chances de aprender com esses consumidores, atendê-los melhor e desenvolver uma estratégia de longo prazo alinhada à evolução do mercado.

É difícil prever com exatidão todos os impactos que a perda de peso, as mudanças na alimentação e as transformações comportamentais trarão na próxima década. Em nosso estudo, perguntamos às pessoas sobre seus próprios hábitos e opiniões. Embora o futuro permaneça incerto, acreditamos que essa mudança social pode desencadear efeitos em cascata sobre diversos setores, exigindo uma atenção redobrada.

Por exemplo, em uma sociedade mais saudável e longeva, o planejamento da aposentadoria se tornará mais complexo? Os custos do seguro de vida cairão? A produtividade no trabalho aumentará?

A pesquisa da PwC oferece um panorama detalhado sobre as principais preocupações dos consumidores, tanto hoje quanto no futuro. Podemos trabalhar juntos para identificar os insights mais estratégicos para o seu negócio e entender as implicações para sua empresa.

Estamos prontos para ajudá-lo a se preparar para essa mudança sem precedentes. Agora é o momento ideal para avaliar como sua empresa pode se posicionar, inovar e prosperar diante das transformações impulsionadas pelos GLP-1s e avanços médicos.

Sobre a pesquisa

Em junho de 2024, a PwC entrevistou aproximadamente 3 mil adultos nos EUA, sendo 43% homens e 57% mulheres. Os participantes foram selecionados aleatoriamente em 49 dos 50 estados. Para estimativas sobre a adoção de GLP-1, realizamos uma pesquisa com uma subamostra representativa da demografia nacional (n=506).