Brasil na Rota da Seda da Saúde

Oportunidades e desafios da parceria estratégica com a China para investimentos no setor

Dado o seu tamanho e as muitas oportunidades de negócio que abrange, o setor de saúde no Brasil apresenta perspectivas promissoras. O país tem o maior sistema de saúde público do mundo, gerido pelo Sistema Único de Saúde (SUS), e conta com uma rede privada de saúde suplementar que atende cerca de 23% da população. Em outra ponta, o mercado farmacêutico brasileiro tem apresentado crescimento de dois dígitos desde 2017. 

Entretanto, o Custo Brasil, a dependência de insumos, o limite de preço dos medicamentos, a regulação, a falta de interoperabilidade entre os sistemas de saúde, entre outros fatores, dificultam a entrada de investimentos e a inovação na indústria. 

Para enfrentar esses e outros desafios que travam o desenvolvimento do setor de saúde no Brasil, é fundamental evoluir em parcerias e alianças estratégicas para além de nossas fronteiras, com comércio exterior e transferências de tecnologia acontecendo de forma aberta. 

Nesse aspecto, a China, com sua iniciativa Belt and Road (BRI) – um imenso programa de investimentos promovido pelo governo chinês e também conhecido como Nova Rota da Seda – desponta como um parceiro de peso. 

A cooperação entre instituições dos dois países vem ocorrendo há alguns anos, com resultados importantes – com destaque para o desenvolvimento da CoronaVac, primeira vacina contra a covid-19 aplicada no Brasil. 

Neste relatório, apresentamos um breve histórico das interações mais recentes entre o os dois países na área de saúde, o cenário epidemiológico no Brasil, um panorama do setor de saúde no país e apontamos como a parceria estratégica e os investimentos trazidos na esteira da iniciativa da Rota Seda podem contribuir para o desenvolvimento do setor de saúde no Brasil.

A parceria da China com o Brasil ajudou o país a enfrentar a pandemia e seus efeitos. Cerca de R$ 60 milhões foram doados em materiais de saúde pela China, que ainda auxiliou os brasileiros na compra de 1.200 toneladas de insumos e equipamentos chineses.

A China também foi o primeiro país a desenvolver uma parceria com o Brasil em termos de vacinas. Em junho de 2020, o Instituto Butantan – órgão vinculado à Secretaria Estadual de Saúde do Governo do Estado de São Paulo  – firmou com a Sinovac Biotech, uma das principais biofarmacêuticas chinesas, um histórico acordo de tecnologia para conceber, desenvolver e testar uma vacina contra o novo coronavírus, a CoronaVac.

Além disso, para fabricar as vacinas contra a covid-19, tanto o Instituto Butantan como Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), que é ligada ao Ministério da Saúde e fez parceria com o laboratório britânico AstraZeneca, importaram da China o ingrediente farmacêutico ativo (IFA), insumo necessário para a produção dos imunizantes.

A cooperação entre instituições científicas brasileiras e empresas e instituições chinesas na área da saúde vem sendo feita há bastante tempo. Um relacionamento que reitera a importância da relação comercial mantida entre os dois países: em 2022, o fluxo de comércio chegou a US$ 150,1 bilhões, um recorde.

A China também tem forte atuação no Investimento Estrangeiro Direto (IED) no Brasil, que, segundo o Banco Mundial, traz benefícios como: geração de empregos, transferência de competências e desenvolvimento, transferência de tecnologia, acesso a redes de marketing internacionais, fonte de financiamento externo, balanço de pagamentos, efeito de transbordamento na economia doméstica e desenvolvimento da infraestrutura.

Mais de 150 milhões de pessoas são atendidas pelo SUS, um serviço de saúde pública com mais de 30 anos de experiência, que abrange desde procedimentos ambulatoriais simples até atendimentos de alta complexidade, como transplante de órgãos.

No entanto, apesar de sua grande capilaridade, a rede sofre de problemas estruturais, de financiamento e de gestão de recursos, que prejudicam sua performance e impactam a efetividade do atendimento à população. 

Paralelamente a essa estrutura, existe a saúde suplementar, sistema privado que envolve planos e seguros de saúde e que é regulado e fiscalizado pelo poder público por meio da Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). O mercado privado de saúde no Brasil envolve também prestadores de serviços, como hospitais, clínicas, laboratórios e indústria farmacêutica, que são supervisionados principalmente pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa).

A área farmacêutica tem apresentado um crescimento contínuo desde 2017. No entanto, as ações que estimulam a inovação, como o incentivo à pesquisa, vêm diminuindo. O setor também enfrenta um problema crítico: apenas 5% dos insumos usados pela indústria farmacêutica para a produção de remédios prontos são fabricados no Brasil. 

Principais desafios

  • A alta carga tributária, apontada como uma das mais elevadas do mundo, é um grande desafio para investimentos no setor de saúde no Brasil e queixa recorrente da indústria farmacêutica e outras áreas da saúde.
  • A dificuldade de compreender o macroambiente e questões políticas e econômicas brasileiras é um ponto que preocupa os investidores estrangeiros.
  • O país tem capacidade tecnológica, pesquisadores de ponta e centros de pesquisas clínicas que geram inovações em saúde e na produção farmacêutica. Mas ainda é necessária uma estratégia mais clara de longo prazo em relação à pesquisa básica e à coordenação entre universidades, negócios privados, governo e investidores.
  • Há grande dependência da importação de insumos farmacêuticos e medicamentos, o que afeta negativamente a balança comercial de medicamentos.

Principais oportunidades

  • Desenvolvimento conjunto de pesquisa na área de vacinas, transferência de tecnologia e fornecimento de produtos nos dois mercados.
  • Como um dos principais produtores e desenvolvedores na área de biotecnologia e com capacidade de oferecer soluções e potenciais parcerias, a China pode cumprir um importante papel para a consolidação do Brasil como um hub de produção de vacinas e ingrediente farmacêutico ativo (IFA).
  • A existência de uma agência reguladora reconhecida internacionalmente,  instituições centenárias com grande capacidade de produção e a grande capilaridade e experiência do SUS são pontos que contam a favor para o país assumir a posição de hub.

Contatos

Bruno Porto

Bruno Porto

Sócio e líder do setor de Saúde, PwC Brasil

Tel: +55 (11) 97097 1862

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