As transações no setor de mercados de consumo vão avançar em 2022, à medida que mais pessoas forem vacinadas e os gastos do consumidor aumentarem, atingindo uma ampla categoria de produtos e serviços. A escolha dos consumidores sobre onde gastar seu dinheiro está sendo influenciada por mudanças no estilo de vida, baseadas em novas formas de viver e trabalhar. Essas mudanças nas preferências dos consumidores serão o catalisador mais importante da atividade de fusões e aquisições (M&A) em 2022, tanto em termos de revisões de portfólio corporativo como no forte interesse de empresas de private equity (PE).
As restrições relacionadas à covid-19 continuam a afetar a demanda em vários dos subsetores mais atingidos, incluindo Turismo e lazer. Mas, à medida que as restrições diminuem, espera-se que a confiança do consumidor retorne, juntamente com a demanda reprimida. No entanto, nos próximos meses, ventos contrários gerados por novas variantes, desaceleração do crescimento do PIB na China e na Europa, aumento dos preços de muitos produtos devido a pressões inflacionárias e disrupções contínuas na cadeia de suprimentos podem criar desafios operacionais para algumas empresas.
A seguir, apresentamos os principais temas que impactam as atividades de fusões e aquisições nos mercados de consumo e destacamos os subsetores que devem atrair grande interesse dos investidores e continuar a gerar importantes transações nos próximos seis a 12 meses.
“Oportunidades novas e animadoras para os negociadores se apresentam nos mercados de consumo. Empresas e fundos de private equity se manterão ocupados em 2022 com fusões e aquisições para refazer seus portfólios, pois as mudanças nas preferências dos consumidores criam demanda por novos produtos e serviços e modelos de negócios totalmente novos”.
Os volumes e valores de transações aumentaram entre 2020 e 2021 em todos os setores de mercados de consumo e na Europa, Oriente Médio e África (EMEA, na sigla em inglês). Essas três regiões registraram o maior crescimento em volumes e valores de transações – 31% e 94%, respectivamente. Os valores globais de transações nos mercados de consumo aumentaram 57% ao ano, impulsionados por um aumento de 13 para 19 no número de megatransações – aqueles acima de US$ 5 bilhões – e um aumento de 84% na quantidade de transações na faixa de US$ 1 bilhão a US$ 5 bilhões – de 69, em 2020, para 127, em 2021. Os segmentos de mercados de consumo registraram um aumento de fusões e aquisições de fundos de PE, que representaram aproximadamente 35% do volume de transações e 47% do valor das transações em 2021, um elevação notável em comparação com a média dos cinco anos anteriores – 24% e 35%, respectivamente.
Prevemos que as atividades de M&A deverão se concentrar nas seguintes áreas em 2022:
Transações envolvendo o segmento de casa e jardim (como móveis, decoração, equipamentos de jardim e áreas exteriores e soluções de armazenamento doméstico) receberam um impulso durante a pandemia, à medida que os consumidores se adaptavam a passar mais tempo em casa. É provável que haja uma forte demanda em 2022, pois se espera que o trabalho híbrido crie mais demanda por espaços de escritório em casa e que os consumidores continuem gastando com a remodelação de suas casas. Exemplos de transações recentes incluem a aquisição anunciada pela Assa Abloy da divisão de Hardware e Home Improvement da Spectrum Brands e a aquisição anunciada da Orbit Irrigation Products pelo Husqvarna Group.
A tendência crescente de manter animais de estimação torna altamente atraentes os segmentos de produtos para animais e de produtos e serviços veterinários. Uma série de transações recentes indica que esses setores permanecerão em alta em 2022, incluindo a aquisição feita pela KKR do Natural Pet Food Group – uma empresa de alimentos premium para animais de estimação com sede na Nova Zelândia. Também teve destaque o negócio envolvendo as empresas de private equity Hellman & Friedman e EQT, que anunciaram a saída da Zooplus, uma empresa varejista on-line alemã de suprimentos para animais de estimação.
O segmento de roupa casual, incluindo roupas esportivas para o dia a dia (athleisure), tornou-se o mais movimentado do setor de moda, atraindo o interesse de investidores corporativos e de PE. A lógica é: quem trabalha em casa opta por roupas confortáveis em vez de trajes de escritório mais formais. Esperamos mais fusões e aquisições no setor de vestuário lifestyle, pois os investidores percebem que os consumidores estão voltando a viajar e a fazer outras atividades de lazer.
O segmento continua atraente, principalmente o varejo de beleza on-line, pois as fusões e aquisições servem como um meio para adquirir modelos de negócios complementares ou um caminho para alcançar novos mercados geográficos. Transações entre players estabelecidos incluem a aquisição da Feelunique pela Sephora, uma prestigiada varejista on-line de beleza com sede no Reino Unido, e a aquisição anunciada da Sol de Janeiro, com sede nos EUA, pela L'Occitane. Startups de beleza de venda direta ao consumidor, como MyGlamm e Purplle, com sede na Índia, também estão buscando estratégias de crescimento inorgânico – usando capital levantado por meio de rodadas de financiamento recentes, para adquirir marcas, ampliar seus produtos e se expandir no exterior. As tendências de consumo no mercado de cosméticos, como o retorno da cor, provavelmente desencadearão fusões e aquisições quando os grandes players buscarem adquirir marcas de nicho.
O crescente interesse no metaverso é uma oportunidade para as empresas voltadas para o consumidor transformarem ainda mais o cenário. Showrooms virtuais, desfiles de moda e provadores podem ajudar a vender mais produtos físicos e há também algumas empresas experimentando produtos virtuais.
O setor continua a interessar os investidores, principalmente os de PE, após as recentes aquisições do Asda e do Morrisons no Reino Unido. Existe uma crença geral de que os ativos dos supermercados podem estar subvalorizados, em parte por causa de suas carteiras imobiliárias.
Turismo e lazer, um dos setores mais atingidos durante a pandemia, vem mostrando sinais de recuperação à medida que as restrições diminuem. Foram realizadas várias transações no setor de jogos e hotéis, incluindo: a aquisição do Diamond Resorts pela Hilton Grand Vacations; a aquisição anunciada pela MGM do The Cosmopolitan of Las Vegas; e os planos da operadora de resorts de jogos das Filipinas Okada Manila de se fundir por meio de uma empresa de propósito específico de aquisição (SPAC, na sigla em inglês). Um boom de estadias causado por restrições de viagens internacionais levou a vários negócios anunciados no setor de viagem de férias – por exemplo, a aquisição do European Camping Group, um operador de acampamentos premium na França, Itália, Espanha e Croácia, feita pela PAI Partners, e a proposta da Sun Communities de adquirir a Park Holidays UK, proprietária e operadora de comunidades de férias no Reino Unido. Todo esse movimento sugere que os investidores estão apostando em uma demanda duradoura para além da pandemia.
As companhias aéreas e o setor de viagens aéreas provavelmente estarão mais ansiosos para realizar transações ou reestruturações, já que o apoio do governo vem sendo eliminado gradualmente em muitos países. Muitos investidores estão otimistas com as oportunidades de fusões e aquisições em 2022, prevendo que a confiança do consumidor retornará, trazendo com isso um volume mais constante de passageiros de viagens de negócios e lazer.
Como parte de uma tendência mais ampla nas revisões de portfólios, esperamos ver uma série de desinvestimentos por grandes empresas em todo o setor de mercados de consumo. Essas ações se seguem a alienações anunciadas recentemente, incluindo a venda da Reebok para o Authentic Brands Group feita pela Adidas; a venda realizada pela Unilever, que passou seu negócio global de chá para a CVC; a venda feita pela Reckitt Benckiser de seu negócio de fórmula e nutrição infantil na China para o Primavera Capital Group; e a venda feita pela PepsiCo. da Tropicana, Naked Juice e outras marcas de suco selecionadas para a PAI Partners. Como ocorreu nessas transações recentes, os compradores do segmento de PE provavelmente mostrarão forte interesse em adquirir essas marcas.
Também vemos uma tendência de mais atividades de cisão corporativa em 2022, devido à pressão dos acionistas para gerar maior valor e à crença cada vez maior entre os CEOs de que a capacidade de reagir rapidamente às mudanças de comportamento dos clientes e à disrupção do modelo de negócios pode superar os benefícios da escala, o que leva a uma nova reestruturação societária. Exemplos recentes incluem planos anunciados pela GlaxoSmithKline, Johnson & Johnson e Sanofi de desmembrar seus negócios de saúde do consumidor em empresas listadas separadamente. No setor de varejo, a Saks anunciou planos de desmembrar seu negócio de varejo on-line das lojas físicas, pois acionistas ativistas pressionam outros grandes varejistas a explorar a cisão como uma opção estratégica.
As disrupções na cadeia de suprimentos continuam a afetar o fornecimento de matérias-primas e o transporte de produtos acabados para os clientes. Como resultado, alguns dos maiores varejistas do mundo, como Ikea, Walmart, Target e Home Depot, estão adquirindo seus próprios contêineres ou navios de fretamento para receber mercadorias de alta prioridade no prazo. Outros estão fazendo aquisições orientadas por capacidades estratégicas. Por exemplo, a American Eagle Outfitters adquiriu duas empresas de logística – a Quiet Logistics (focada em tecnologia e robótica em serviços de atendimento) e a AirTerra (focada na entrega de encomendas) – para tentar transformar sua cadeia de suprimentos.
As empresas dos setores de consumo, varejo e logística usarão cada vez mais fusões e aquisições para encontrar maneiras criativas de remover barreiras, construir resiliência e criar valor em toda a cadeia de suprimentos. Esperamos que o foco se concentre nas seguintes áreas:
Além disso, o setor de logística está em uma disputa pela “última milha”, criando uma competição intensa, principalmente entre as transportadoras. Como resultado, empresas especializadas em logística podem se tornar alvo de fusões e aquisições para outras empresas de mercados de consumo. Também esperamos aquisições entre empresas de logística que desejam se expandir adquirindo capacidades especializadas ou alcance internacional. Entre os exemplos, estão as aquisições da Visible SCM, HUUB, B2C Europe e LF Logistics pela Maersk para ajudar na expansão da logística de comércio eletrônico da empresa; a aquisição do negócio de Commerce & Lifecycle Services da Ingram Micro pelo CMA CGM Group para agilizar os recursos da cadeia de suprimentos da empresa em termos de logística de contratos e experiência em comércio eletrônico; a aquisição da JF pelo Deutsche Post DHL Group do J. F. Hillebrand Group para fortalecer a divisão de agenciamento de cargas da DHL; e o investimento da GeoPost na Aramex, visando alavancar a forte presença da GeoPost no mercado europeu de entrega de encomendas e a rede internacional da Aramex no Oriente Médio, Ásia, África e Oceania.
As plataformas on-line e as empresas de comércio eletrônico também estão indo às compras, usando fusões e aquisições para adquirir capacidades, expandir suas atividades para categorias adjacentes e ganhar participação de mercado.
Espera-se que o subsetor de aluguel e revenda de moda ganhe força em 2022, já que muitas marcas de moda conhecidas estão de olho no potencial dessa área. O subsetor está amadurecendo, deixando de ser dominado principalmente por startups para se tornar um setor onde marcas e varejistas oferecem o serviço diretamente aos clientes para complementar suas vendas regulares, muitas vezes em parceria com uma empresa especializada. Exemplos disso são o recente investimento da Kering na empresa de revenda de segunda mão Vestiaire Collective e a aquisição anunciada pela Etsy do mercado de revenda de moda Depop.
Além disso, a tendência crescente do “consumismo consciente” – práticas motivadas pelo compromisso de tomar decisões de compra com impacto social, econômico e ambiental positivo – está reformulando os modelos de negócios e gerando interesse dos investidores, que buscam reequilibrar portfólios com mais empresas com foco em sustentabilidade. A Lululemon é um exemplo de empresa que utilizou a atividade de fusão e aquisição e parcerias estratégicas, com empresas como Genomatica, Bolt Threads e Debrand, para desenvolver materiais de origem mais sustentável ou produtos de reciclagem.
As perspectivas das atividades de fusões e aquisições para os mercados de consumo em 2022 permanecem animadoras à medida que as empresas continuam inovando e digitalizando seus negócios em resposta às mudanças nas preferências dos consumidores e a novos modelos de negócios emergentes. O aumento esperado de vendas de ativos problemáticos e a reestruturação em certos subsetores expandirá ainda mais o ambiente de negócios já robusto.
Sobre os dados
Baseamos nossos comentários sobre tendências de fusões e aquisições em dados fornecidos por fontes reconhecidas pelo setor. Especificamente, os valores e volumes mencionados nesta publicação são baseados em transações anunciadas oficialmente, excluindo rumores de transações e transações canceladas, conforme informações da Refinitiv de 31 de dezembro de 2021 acessadas em 2 de janeiro de 2022. O trabalho foi complementado por informações adicionais da Dealogic e da nossa pesquisa independente, e inclui dados derivados de dados fornecidos sob licença pela Dealogic. A Dealogic retém e reserva para si todos os direitos sobre esses dados licenciados. Alguns ajustes foram feitos nas informações originais para alinhá-las com o mapeamento setorial feito pela PwC.