Mineração 2024 – 21ª edição

Preparando-se para o impacto

Global mine 2024
  • Insight
  • Agosto 07, 2024

Com a inovação, a indústria reinventa seu papel na economia global, mobilizando os recursos necessários para o crescimento sustentável.

Tempos desafiadores

A indústria de mineração global enfrentou em 2023 um desafio sem precedentes e, ao mesmo tempo, familiar. O desempenho financeiro das 40 maiores empresas mineradoras do mundo foi prejudicado pela queda dos preços das matérias-primas e pelo aumento dos custos. As receitas caíram mais de 7%, apesar do aumento na produção de seus principais produtos. Além disso, os lucros diminuíram. O ano de 2024 promete uma continuação dessas tendências. Será a primeira vez, desde 2016, que as receitas da indústria cairão por dois anos consecutivos. Uma combinação de questões cíclicas e estruturais obriga as principais mineradoras a investir no crescimento e na transformação, mesmo com as receitas e as margens de lucro sob pressão.

A mineração ocupa um papel único entre as indústrias globais. As principais empresas de mineração estão ajudando a alimentar o mundo. Ao mesmo tempo, pavimentam o caminho para um futuro de baixa emissão de carbono e fornecem recursos essenciais para infraestrutura e para atender às necessidades dos consumidores. Essas tendências estruturais fundamentam a demanda que os mineradores terão que atender em um mundo no qual o ritmo de mudança e disrupção está se acelerando. Com o aumento das pressões regulatórias, econômicas e sociais, as empresas de mineração estão reinventando seus modelos de negócios para criar valor de novas formas e, ao mesmo tempo, atuar de modo mais eficaz como elementos importantes de ecossistemas emergentes.

Nesta 21ª edição do relatório Mine da PwC, centramos nossa atenção em como a indústria está se preparando para o impacto – se reequipando e reinventando para ser uma peça fundamental do crescimento. Isso significa pôr em destaque o papel que a mineração desempenha em um domínio adjacente: a forma como o mundo se alimenta. Significa também explorar o potencial e os desafios da indústria complementar da mineração urbana (ou seja, a reciclagem). E significa ainda aproveitar a tecnologia — incluindo as implicações revolucionárias da IA — para avançar em termos de produtividade, sustentabilidade e segurança.

Em meio ao cenário em mudança, as fusões e aquisições (M&A) continuam a ser uma estratégia crucial para mineradoras que desejam criar impacto. Embora o número de transações tenha caído em 2023, seu valor aumentou, assim como o foco em minerais críticos. Mas as transações de hoje — e de amanhã — não se relacionam simplesmente com ganho de escala. Elas estão centradas em como obter capacidades e ativos que permitam às empresas colaborar com parceiros em ecossistemas industriais mais amplos. As empresas de mineração estão cada vez mais formando alianças além das fronteiras tradicionais, enquanto buscam adquirir habilidades técnicas vitais e colaborar com governos, para criar ambientes favoráveis.

Resumo financeiro de 2023

US$ 845bi

em receita (-7% de 2022)

US$ 217bi

Ebitda (-26% a partir de 2022)

US$ 90bi

lucro líquido (-44% a partir de 2022)

Previsão para 2024

US$ 792bi

em receita (-6% de 2023)

US$ 171bi

Ebitda (-21% a partir de 2023)

US$ 55bi

lucro líquido (-36% a partir de 2023)

Quando o ciclo muda

Nos últimos anos, a indústria tem enfrentado pressão para investir em capacidade suficiente de mineração e produção para atender ao crescimento atual e à expectativa de demanda por metais necessários à transição energética. Mas os mercados nem sempre são completamente eficientes. Em 2023, os preços do lítio, cobre, níquel e cobalto caíram drasticamente, diante da oferta irregular e do crescimento temporariamente atrofiado da demanda. Ao mesmo tempo, o preço do urânio aumentou — com a demanda impulsionada pela expansão da indústria nuclear após uma década de praticamente nenhum investimento no fornecimento desse minério. O preço à vista do urânio disparou de menos de US$ 50/lb, em 2022, para mais de US$ 100/lb, no início de 2024. Embora os preços das commodities permaneçam bem acima dos níveis de preços pré-covid, os ajustes de inflação mostram que apenas o carvão e o ouro excedem, em muito, os níveis de 2019 em termos reais. A queda nos preços do carvão, lítio, cobre e metais do grupo da platina (PGMs, na sigla em inglês) empurrou seis empresas para fora do Top 40, enquanto a alta nos preços do ouro e do urânio levou seis empresas a entrar nessa lista.

Além da transição energética — que pode avançar de forma irregular — sólidas tendências estruturais continuam a sustentar uma forte demanda de longo prazo por commodities. A urbanização e as necessidades contínuas de desenvolvimento de infraestrutura na Índia e em outras partes da Ásia e do mundo em desenvolvimento continuarão a absorver a produção de minério de ferro, cobre e outras commodities. A demanda impulsionada pelo consumidor provavelmente acompanhará o aumento dos níveis de renda per capita.

Uma área-chave para o crescimento estrutural pode estar na produção alimentar – na qual a mineração desempenha um papel importante, muitas vezes esquecido.

O impacto da mineração na segurança alimentar

A forma como o mundo se alimenta é um dos desafios fundamentais que a sociedade enfrenta. De acordo com as Nações Unidas, das 8 bilhões de pessoas do mundo, estima-se que pelo menos 700 milhões tenham acesso insuficiente aos alimentos. Segundo o Fórum Econômico Mundial, 16 países têm níveis de fome muito elevados. Para garantir um futuro com uma população bem-alimentada, a produção agrícola precisa crescer mais de 55% nas próximas duas décadas.

A mineração desempenha um papel fundamental na segurança alimentar global e na redução do impacto da produção agrícola sobre o meio ambiente, devido a sua conexão direta com o fornecimento de matérias-primas necessárias para uma ampla gama de insumos e produtos consumíveis exigidos na agricultura. A melhoria da produtividade das colheitas favorece a redução no desmatamento — responsável atualmente por 20% do total de emissões globais de gases de efeito estufa. Das seis principais contribuições dos minerais e metais para a melhoria da segurança alimentar, o fertilizante é a mais importante:

O fósforo e o potássio são minerais essenciais para a produção de fertilizantes.

O gesso e o ácido sulfúrico estão entre os produtos químicos utilizados no manejo da irrigação para evitar que a alcalinidade e a sodicidade da água afetem a saúde do solo.

A cal (de carbonato de cálcio) é usada para ajustar os níveis de pH do solo, melhorando a disponibilidade de nutrientes e a estrutura do solo. A cal contém cálcio e frequentemente magnésio, nutrientes essenciais para as plantas.

Zinco, boro, manganês, ferro, cobre e molibdênio, que são essenciais para a saúde das plantas, são frequentemente aplicados em pulverizações foliares ou como corretivos do solo.

Muitos pesticidas e herbicidas contêm minerais como ingredientes ativos ou como transportadores. Fungicidas e herbicidas à base de cobre, por exemplo, têm sais metálicos.

Cálcio, fósforo, magnésio e oligoelementos, vitais para a saúde animal, são adicionados à ração.

Os fertilizantes comerciais são produzidos a partir de três ingredientes principais: nitrogênio, fósforo e potássio. Enquanto o nitrogênio é geralmente obtido a partir da cadeia de valor do petróleo e do gás, o potássio e o fósforo são extraídos da rocha fosfática e da água salgada. Há décadas esses fertilizantes sintéticos vêm sendo fundamentais para melhorar o crescimento, o rendimento e a qualidade das culturas. Mas, para continuar a alimentar uma população global crescente, o rendimento das culturas em terras já utilizadas precisa melhorar ainda mais. Mais de 40% dos solos são deficientes em fosfato. Não é surpresa, portanto, que o fósforo seja classificado como um mineral crítico para a China e a União Europeia e o potássio seja um mineral crítico para a China e o Canadá.

Para atender às necessidades alimentares de 1,9 bilhão de pessoas a mais que habitarão o planeta até 2050, a produção global anual de fósforo precisa crescer 25%, o que equivale a um aumento de 55 milhões de toneladas por ano.

Impacto da reciclagem

A covid, as políticas comerciais restritivas, o aumento dos preços da energia e a invasão russa da Ucrânia fizeram disparar os preços dos fertilizantes e reduziram a oferta nos últimos anos (de acordo com o Instituto Internacional de Investigação sobre Política Alimentar, a Rússia é responsável por 17% das exportações de fosfato e 20% das exportações de potássio). Devido a esses abalos, aumentou a necessidade de obter esses minerais em outros locais. Ao mesmo tempo, novos usos razoavelmente grandes de fósforo – como em baterias de fosfato de ferro-lítio (LFP), que representam quase um terço da oferta de novos veículos eléctricos (VE) – poderá aumentar a competição pela procura dos recursos disponíveis.

O fósforo pode ser recuperado do esgoto, esterco animal e farinha de ossos. Tecnologias como a precipitação de estruvita podem extrair fósforo dos processos de tratamento de águas residuais. Já o potássio pode ser recuperado de vários resíduos orgânicos, incluindo resíduos de colheitas e certos subprodutos industriais. Mas a expansão dessas fontes alternativas para satisfazer a demanda agrícola global apresenta grandes desafios.

O impacto da mineração urbana

Métodos alternativos podem fornecer apenas uma parte modesta do suprimento de fósforo e potássio. Em outras áreas, porém, a reciclagem de minerais em escala já é comum e um importante complemento à mineração tradicional. A mineração urbana, também conhecida como reciclagem ou produção secundária, evoluiu para uma indústria sofisticada e multibilionária. Em certos casos, metais reciclados podem exigir um “selo verde”, pois atraem consumidores preocupados com a sustentabilidade e usuários industriais que priorizam métodos de produção ambientalmente responsáveis.

Em teoria, usar mais materiais reciclados poderia reduzir a demanda por recursos minerados. Devido ao crescimento das populações e ao uso industrial crescente, entretanto, a demanda não zera. A mineração urbana apresenta oportunidades significativas para empresas de mineração tradicionais, pois permite a elas reinventar seus modelos de negócios e encontrar novos métodos de criação de valor em um ecossistema mais amplo (veja o gráfico a seguir). À medida que os requisitos regulatórios se tornam mais rigorosos, investir em economias circulares será fundamental para alcançar o sucesso.

A mineração urbana pode ser mais eficiente em termos de recursos e mais rentável em termos de custo do que a mineração primária. Ela reduz o impacto ambiental associado à mineração tradicional ao mitigar problemas como degradação do solo, resíduos de rochas, poluição da água e emissões de gases de efeito estufa. Além disso, encurta as cadeias de suprimentos e reduz a dependência de importações. No entanto, a mineração urbana também enfrenta desafios consideráveis. Em muitas áreas, a economia da reciclagem não faz sentido. O processo de reciclagem pode gerar subprodutos de resíduos perigosos e o fornecimento de material pode ser irregular.

Essas questões ressaltam a necessidade urgente de avanços tecnológicos para refinar e otimizar ainda mais os processos de mineração urbana. Inovações como melhorias em processos hidro e pirometalúrgicos e novas tecnologias, como inteligência artificial, prometem aumentar a eficiência da recuperação de materiais de fontes complexas de sucata.

IA e mineração: uma relação que se reforça mutuamente

Os sistemas de IA dependem de minerais e metais de diversas maneiras fundamentais. Os chips semicondutores são feitos de silício e contêm metais como cobre, ouro, estanho, níquel, paládio e prata. Os dispositivos de armazenamento dependem de metais como platina, paládio e ouro por suas propriedades magnéticas e condutoras. As instalações de data centers utilizam grandes quantidades de metal em sua construção.

A demanda por IA está contribuindo para aumentar a necessidade desses metais. Ao mesmo tempo, integrar a IA à mineração urbana permitirá que a indústria obtenha maior eficiência, melhores taxas de recuperação de material, custos reduzidos e menor impacto ambiental. As aplicações atuais de IA incluem:

Usando sensores, aprendizado de máquina e visão computacional, os sistemas baseados em IA podem identificar e separar diferentes tipos de metais com mais precisão e eficiência do que os métodos tradicionais.

A IA ajuda a otimizar a logística e a cadeia de suprimentos da reciclagem de metais, garantindo que os materiais sejam coletados, processados e entregues aos fabricantes do modo mais eficiente. A IA também pode ser usada para reconhecer melhor os primeiros sinais de indisponibilidade de materiais e prever escassez com base em padrões de dados anteriores.

Algoritmos de IA podem analisar a qualidade de metais reciclados e garantir que eles atendam aos padrões necessários para reutilização na fabricação.

Dependendo do material de origem, o setor de reciclagem de metais pode ser considerado emergente, em desenvolvimento ou maduro em relação ao seu desenvolvimento de mercado. Embora os avanços tecnológicos, o aumento dos investimentos e regulações crescentes que apoiam práticas sustentáveis sejam os principais impulsionadores, o ganho econômico obtido com a reciclagem é um incentivo importante, diante do aumento de preços das commodities.

26%

é a proporção da produção de metal do grupo da platina (PGM) reciclada hoje. Em 2000, o percentual era inferior a 5%.

Johnson Matthey

O ecossistema maduro de reciclagem de metais inclui o cobre e os PGMs. O cobre tem sido reciclado há séculos, pois o cobre de alta qualidade pode ser facilmente refundido – cerca de 30% do suprimento de cobre hoje é gerado a partir de material reciclado. Os PGMs são famosos por suas qualidades catalíticas excepcionais e são amplamente utilizados em diversas aplicações industriais, inclusive no setor automotivo. Dada a relativa escassez de PGMs e a crescente demanda por eles em vários setores industriais, a reciclagem desses metais é economicamente vantajosa e ambientalmente benéfica. Até por volta de 2000, menos de 5% da produção de PGM era reciclada. Hoje, de acordo com Johnson Matthey, a proporção é de 26% – a reciclagem de paládio chega a 31%.

A reciclagem de metais críticos, como lítio e elementos de terras raras, está em um estado emergente de maturidade. O lítio é usado principalmente na fabricação de baterias recarregáveis de íons de lítio, que são essenciais para a operação de uma ampla gama de dispositivos eletrônicos, incluindo veículos elétricos. Esperamos que haja um aumento significativo na reciclagem de lítio dentro dos próximos 10 a 12 anos, em linha com a vida útil média dos veículos.

Os requisitos impostos por regulamentações são um importante fator para impulsionar o crescimento projetado das taxas de reciclagem de metais, especialmente de lítio. O Regulamento (UE) 2023/1.542 da União Europeia estipula que os materiais ativos devem conter certas proporções mínimas de materiais “recuperados de resíduos de fabricação de baterias ou resíduos pós-consumo” até 2031 e 2036, respectivamente (ver gráfico abaixo).

O cumprimento dessas metas exigirá um grande aumento na reciclagem e taxas de crescimento anuais elevadas e sustentadas. Em um cenário otimista, baseado nos pressupostos de que os esforços globais de reciclagem se alinharão com as normas estabelecidas pelos regulamentos da União Europeia e que todas as entidades participantes atingirão a conformidade total, a reciclagem será responsável por cerca de 30% do fornecimento total de lítio daqui a 50 anos. No cenário mais conservador, levando em consideração os desafios e limitações práticas, presumimos que os esforços globais atingirão aproximadamente 50% das metas de reciclagem especificadas pelos regulamentos da UE — nesse caso, quase 20% do lítio será reciclado daqui a 50 anos (veja o gráfico abaixo).

Expansão de lítio

Os produtores de lítio estão sub-representados no Top 40, porque são frequentemente classificados como empresas químicas, por causa do seu foco no processamento na cadeia de valor. Dado o papel crítico do lítio na transição energética, agregamos as demonstrações financeiras disponíveis publicamente de dez principais mineradoras de lítio. O crescimento constante da produção nem sempre se traduziu em crescimento das receitas, devido à volatilidade dos preços. Os investimentos em lítio são geralmente menos intensivos em capital e têm períodos de amortização mais curtos. A previsão de crescimento da demanda por lítio incentiva o aumento de investimento.

O imperativo da produtividade

A mineração urbana é um dos muitos pilares responsáveis pela produtividade na indústria. Mas os mineradores estão sob a pressão de duas tendências poderosas. Como observado, os preços das commodities estão caindo. Ao mesmo tempo, nos últimos cinco anos, os custos de produção da mineração aumentaram em quase 30%, o que torna urgente que as empresas invistam em tecnologia de redução de custos (veja o gráfico abaixo). No cenário cada vez mais complexo da mineração, a ampliação dos compromissos com a sustentabilidade, o aumento dos custos de produção, o declínio dos teores de minério, a maior dispersão das reservas e a escassez de talentos com conhecimento em tecnologia contribuem para que a produtividade se torne o foco das 40 maiores empresas de mineração.

Ao longo dos últimos 20 anos, através de ciclos de crescimento e contenção, a indústria de mineração percorreu uma jornada para melhorar a produtividade (ver linha do tempo acima). Em relação ao futuro, as mineradoras identificaram oportunidades claras para aumentar a produtividade, mitigando riscos e maximizando o impacto positivo nos seus negócios, ao aproveitar a tecnologia, promover a inovação e adotar novas formas de trabalhar. O Fórum Econômico Mundial divulgou previsões de provedores de soluções de tecnologia e fornecedores de inteligência de negócios de que o mercado total da Internet das Coisas (IOT) e o valor incremental potencial dos avanços tecnológicos na mineração valerão bilhões de dólares até 2030. O progresso pode ser visto em diversas atividades:

Em processos que vão da exploração à extração, assim como no transporte e na gestão de recursos-chave (como energia e água), os mineradores estão revisando e otimizando completamente a produção e a operação. No Chile, na maior mina de cobre do mundo, chamada Escondida, a BHP e a Microsoft estão colaborando. Usando dados em tempo real de plantas concentradoras e recomendações baseadas na plataforma Azure da Microsoft, os operadores das concentradoras na Escondida podem ajustar variáveis operacionais para melhorar o processamento de minério e a recuperação de teor. A Freeport-McMoRan fez investimentos em inteligência artificial e análise de dados para maximizar a extração de cobre sob a iniciativa Concentrator das Américas, começando em Bagdá, Arizona, e expandindo para outras operações na região.

Com operações em áreas remotas, as empresas costumam enfrentar a possibilidade de interrupção do fornecimento de energia, mesmo quando se esforçam para descarbonizar. A Anglo American firmou uma parceria em 2022 com a EDF Renewables para desenvolver um ecossistema regional de energia renovável na África do Sul, país atingido pela escassez de eletricidade. A Envusa Energy, a empresa conjunta que as duas formaram, planeja desenvolver pelo menos 500 megawatts de capacidade solar e eólica e tem ambições de aumentar a capacidade para três a cinco gigawatts até 2030.

A calcopirita e os sulfatos primários de baixo teor são desafios à eficiência da mineração de cobre. E a presença de argilas e impurezas nas principais jazidas afeta a produtividade, devido a restrições operacionais. Em 2023, a unidade de risco da BHP investiu na Ceibo, uma startup que está desenvolvendo um processo revolucionário para lixiviar sulfuretos de cobre primários de baixo teor.

Automação, robótica e sistemas de controle avançados podem ser totalmente integrados para aumentar a eficiência na extração e processamento mineral. A mineração autônoma está aumentando. Caminhões e equipamentos operam de forma mais segura e com menos intervenção humana. A First Quantum Minerals utiliza tecnologia de internet das coisas (IoT, na sigla em inglês) para aumentar a eficiência energética e otimizar processos. Já a Barrick Gold está usando ferramentas preditivas para planejar a produção de ouro.

Os sistemas de gestão de saúde, segurança e meio ambiente permitem fazer monitoramento e gerenciamento proativos da segurança no local de trabalho. A Ivanhoe Mines e o Zijin Mining Group estão usando realidade virtual e treinamento em simulador para proporcionar mais rapidamente oportunidades de qualificação da força de trabalho na mina de cobre Kamoa-Kakula, na República Democrática do Congo. Os gêmeos digitais permitem a criação de modelos virtuais para otimizar processos e a previsão de falhas. A BHP está usando IA para detectar precocemente falhas de equipamentos. A Vale utiliza gêmeos digitais para otimizar a produção e prevenir falhas de equipamentos. Já a Glencore está implementando gêmeos digitais em suas operações de mineração subterrânea.

Os esforços para minimizar os impactos ambientais com a reutilização da água e de processos energeticamente eficientes podem ajudar as mineradoras a cumprir as metas de sustentabilidade, ao mesmo tempo que geram redução de custos e eficiências operacionais. A Fortescue (anteriormente Fortescue Metals Group) gasta US$ 560 milhões em diesel e gás anualmente. Até 2030, a descarbonização permitirá à empresa poupar mais de 700 milhões de litros de diesel e 15 milhões de gigajoules de gás, além de evitar a emissão de três milhões de toneladas de dióxido de carbono equivalente por ano. Com o seu principal programa de sustentabilidade, o Ecoterako, a PT Vale Indonesia reduziu custos em US$ 2,5 bilhões ao utilizar escória de níquel como substituto da pedra natural na produção de agregados rodoviários.

Riscos tecnológicos

A dependência de tecnologias que melhoram a produtividade também pode trazer riscos, o que significa que as mineradoras precisam estar vigilantes para evitar potenciais impactos negativos. Entre as áreas que merecem atenção estão:

Devido à crescente dependência das empresas das tecnologias digitais, protocolos robustos de segurança cibernética são vitais para proteger dados operacionais e pessoais críticos contra possíveis violações e ameaças.

Falhas inesperadas no sistema ou disrupções tecnológicas podem levar a vulnerabilidades. Uma abordagem equilibrada, combinando tecnologia de ponta com expertise tradicional em mineração, é crucial para manter a resiliência operacional.

A rápida obsolescência da tecnologia e as atualizações contínuas de software representam um grande risco, que afeta a viabilidade financeira das carteiras e dos investimentos de capital.

O impacto das transações

As fusões e aquisições continuam a ser uma estratégia fundamental para as empresas mineradoras que pretendem sustentar sua vantagem competitiva, acelerar a transformação e garantir recursos essenciais para o crescimento futuro. Além disso, devido ao papel significativo da indústria no fornecimento de produtos agrícolas, infraestrutura e materiais para a transição energética, investidores externos estão demonstrando maior interesse. Esses fatores estão levando mais capital para o setor e preparando o terreno para negócios de alto impacto. Em 2023, o número total de transações entre as 40 principais empresas de mineração caiu cerca de 15% em relação a 2022, enquanto o valor total aumentou mais de 3%, alcançando mais de US$ 64 bilhões. Não é de estranhar que o percentual de transações que envolveram minerais críticos tenha subido para 40% em 2023.

As transações recentes foram impulsionadas por quatro principais motivos:

Consolidação

A consolidação continuou a ser uma tendência dominante em fusões e aquisições, à medida que as empresas reconfiguram as suas carteiras de ativos e ajustam a direção dos seus negócios. Essa abordagem geralmente envolve o desinvestimento de ativos não essenciais e a realocação de capital para oportunidades estratégicas de crescimento.

Em novembro de 2023, por exemplo, no maior negócio da história do setor de ouro, a Newmont adquiriu a Newcrest por US$ 14,5 bilhões. A Newmont, da qual se esperava que a produção anual se mantivesse estável na próxima década, expandiu seu portfólio adicionando cinco minas em operação e dois projetos em estágio avançado, além de aumentar sua exposição ao cobre. Após essa aquisição, a Newmont anunciou planos de alienar oito ativos não essenciais.

Minerais críticos

A previsão de um déficit de oferta de diversos minerais críticos provocou uma corrida entre competidores para garantir recursos. A grande volatilidade dos preços que acompanhou a rápida expansão apresenta oportunidades para investidores com uma elevada tolerância ao risco, atraindo novos players para o cenário de investimento e valorizando os minerais mais estáveis para outros.

Em 2023, o cobre e o lítio dominaram as transações de minerais críticos, representando mais de 70% em volume – ligeiramente acima do ano anterior. O cobre, porém, respondeu por mais de 80% do valor total das transações de minerais críticos.

No início de 2024, a mineradora chinesa MMG adquiriu a Cuprous Capital, empresa controladora da Khoemacau Copper Mine em Botsuana, por US$ 3,6 bilhões. A transação se alinha à estratégia da MMG de construir um portfólio de minas de alta qualidade, que podem fornecer os minerais mais importantes para um mundo descarbonizado.

Sustentabilidade

Aspectos de sustentabilidade têm sido um elemento essencial nas decisões de negócio. Em sua busca pela descarbonização, as empresas de mineração estão investindo em projetos de energia renovável. Esses projetos reforçam seus perfis de sustentabilidade e as ajudam a obter maior controle sobre um de seus custos operacionais mais importantes.

A Rio Tinto concluiu recentemente, por US$ 700 milhões, a aquisição de uma participação de 50% no negócio de alumínio reciclado da Matalco do Giampaolo Group, com o objetivo de atender à crescente demanda por alumínio de baixo carbono – um material essencial na transição energética.

Em março de 2024, a Vale adquiriu a parcela restante de 45% das ações da Aliança Energia que ainda não possuía por aproximadamente US$ 540 milhões. O negócio traz ativos de geração hidrelétrica e eólica para o portfólio da Vale, alinhando estrategicamente os investimentos da empresa com seus objetivos ambientais, sociais e de governança (ESG).

Parcerias

O setor de mineração há muito tempo reconhece o valor de parcerias e joint ventures. Historicamente, esses esforços colaborativos têm sido fundamentais para ajudar as empresas a cumprir as regulamentações locais, ao aprimorar a cooperação, reunir expertise e distribuir riscos associados à extração mineral. As empresas de mineração buscam cada vez mais alianças além dos limites tradicionais do setor, à medida que sua visão do ecossistema se amplia. Esses movimentos estratégicos são motivados pela necessidade de acessar capital, integrar novas habilidades em áreas altamente especializadas – como tecnologia e sustentabilidade – e trabalhar mais estreitamente com o governo (veja a tabela abaixo).

Objetivos da parceria de mineração

Objetivos das transações Exemplos recentes

Acesso ao capital

  • Fundos soberanos e fundos de pensão

  • Aquisição de fornecimento seguro de commodities pelas indústrias

 
  • A joint venture da Ma'aden com o Fundo de Investimento Público da Arábia Saudita na Manara Minerals para diversificar para além do petróleo e gás e expandir o investimento local em mineração

  • O investimento da General Motors na Lithium Americas para acelerar o desenvolvimento da Mina de Lítio Thacker Pass, firmando também um acordo de compra da mineradora

Aproveitar a tecnologia

  • Inteligência artificial

  • Melhoria da eficiência

  • Reciclagem de commodities


 
  • Parceria da Ivanhoe Electric com a Ma'aden, alavancando a tecnologia Typhoon (IA) da Ivanhoe para exploração mineral na Arábia Saudita

Melhorar a sustentabilidade

  • Diversificação de ativos intensivos em carbono

  • Descarbonização das cadeias de abastecimento e das operações de mineração

 
  • A parceria da Rio Tinto com a Sumitomo e a Agência Australiana de Energia Renovável para explorar o uso de hidrogênio verde para refinar alumínio

Colaborar com o governo

  • Acesso a recursos por meio de alianças

  • Leis e regulamentos

  • Infraestrutura e desenvolvimento


 
  • A joint venture entre a Corporación del Cobre do Chile (Codelco) e a SQM para extração de lítio no Salar do Atacama até 2060

Mineração 2024 – Preparando-se para o impacto

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Patricia Seoane

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Sócia e líder do setor de Mineração e Siderurgia, PwC Brasil

Tel: 4004 8000

Adriano  Correia

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Sócio, PwC Brasil

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