Ainda mais cautelosas do que no ano passado, as empresas no segmento de fintechs estão priorizando a sustentabilidade financeira, com foco em estratégias de expansão controlada e no uso eficiente de capital próprio. A busca por investimentos continua, mas em valores mais modestos, refletindo um ambiente de captação mais seletivo e desafiador. É o que mostra a sexta edição da Pesquisa Fintech Deep Dive, realizada pela Associação Brasileira de Fintechs (ABFintechs) e pela PwC Brasil.
As fintechs estão ajustando suas estratégias para priorizar a automação, a integração com parceiros e a personalização de serviços, enquanto mantêm operações enxutas e sustentáveis.
Tecnologias disruptivas estão ganhando espaço, não apenas para reforçar a competitividade, mas também para atender às exigências de eficiência e segurança em um mercado em constante evolução.
À medida que as fintechs buscam atender nichos e fortalecer sua posição em um ambiente altamente competitivo e regulado elas voltam seu foco para o mercado B2B.
Ecossistema jovem. O segmento é formado por empresas jovens e ágeis, mas ainda em processo de consolidação.
Atuação. Crédito e meios de pagamento continuam a liderar entre os setores de atuação.
Estabilidade e crescimento moderado. Mais da metade das fintechs já atingiu o ponto de equilíbrio financeiro, com um crescimento moderado entre 1% e 50%. Isso indica que há uma transição para um ambiente econômico mais estável após as flutuações dos últimos anos.
Aproximação do mercado B2B. Há uma tendência clara de concentração no atendimento a empresas, especialmente pequenas e médias.
Dependência de capital próprio. Aumentou o uso de capital próprio. As fintechs vêm priorizando a autonomia financeira e reduzindo a necessidade de grandes aportes externos.
Adaptação estratégica e tecnológica. As empresas estão investindo em automação e integração com parceiros, além de planejar a ampliação do uso de inteligência artificial, data analytics e blockchain para melhorar a eficiência e a personalização dos serviços.
Mais cautela na captação de recursos. As fintechs estão buscando investimentos em valores mais modestos, com um foco na expansão controlada e uma menor disposição para buscar grandes aportes via fundos ou IPOs.
Mais da metade das empresas pesquisadas já atingiu o equilíbrio de contas (break-even point). Esse grupo aumentou pelo segundo ano consecutivo e alcançou 51% da amostra total. O resultado reflete a prioridade que muitas fintechs deram à sustentabilidade financeira, adotando operações mais conservadoras e eficientes.
Houve um aumento significativo do uso de capital próprio, após um período de maior dependência de fundos em 2023. Isso indica um ambiente de maior cautela, no qual as empresas preferem fortalecer sua autonomia financeira e reduzir a exposição a investidores, possivelmente devido a um cenário econômico mais incerto ou à busca por maior resiliência no longo prazo. A fatia de empresas que receberam recursos cresceu de 41% para 45% de 2021 para 2022.
Houve um ligeiro aumento na busca por investimentos (76% em 2024 ante 74% em 2023), com uma mudança concentrada principalmente em valores na faixa abaixo de R$ 5 milhões. Isso sugere que as empresas estão focando em expansão, mas de forma controlada. A redução na busca por investimentos nas faixas de valores mais altos indica uma abordagem mais conservadora ou seletiva em relação a grandes aportes de capital.
Seguindo uma tendência já observada na edição anterior da pesquisa, as fintechs demonstram uma postura mais conservadora este ano. Houve um aumento na preferência por manter a empresa privada e uma menor disposição para buscar grandes aportes via fundos ou IPOs, especialmente no Brasil. Essas mudanças são um indicador de que as empresas estão priorizando a estabilidade e buscando preservar o controle.
A pesquisa revela uma clara mudança estratégica das fintechs ao longo dos anos, com um foco crescente no mercado B2B (business-to-business), que aumentou de 40% para 64% em dois anos. Ao mesmo tempo, o segmento que combina B2B e B2C (business-to-consumer) tem apresentado uma queda contínua, o que indica uma concentração maior no atendimento exclusivo a empresas. O foco no atendimento à pessoa física (B2C) teve uma leve recuperação nesta edição da pesquisa.
As fintechs estão priorizando o atendimento a pequenas e médias empresas, cuja participação aumentou significativamente, de 38% para 56% em dois anos, tornando-se o principal perfil de cliente.
As empresas do segmento continuam priorizando a personalização dos serviços para atender a nichos específicos do mercado.
A integração ao ecossistema de parceiros é ao mesmo tempo um desafio e uma oportunidade estratégica para as fintechs. Essa integração se intensificou com a evolução do arcabouço regulatório, como o do Open Finance, que tem forçado as empresas a se conectarem mais estreitamente. A complexidade desse processo envolve alinhar tecnologias, processos e interesses de diversos players, o que demanda coordenação estratégica. No entanto, ao superarem esse desafio, as fintechs conseguem oferecer soluções mais inovadoras e abrangentes, ampliando seu alcance e sua competitividade no mercado.
Além da integração com parceiros, as fintechs estão investindo em diferenciais competitivos que incluem principalmente a automação de processos e a redução de custos, aspectos essenciais para alcançar escalabilidade e eficiência. A adoção crescente de modelos analíticos avançados ou inteligência artificial destaca a importância de dados e tecnologia para melhorar a tomada de decisões e otimizar operações.
Enquanto a inteligência artificial promete melhorar a eficiência e a personalização dos serviços, o blockchain é visto como uma tecnologia com grande potencial para revolucionar a segurança e a transparência das transações financeiras.
Em relação a financiamento, as fintechs ainda dependem muito de capital próprio: 69% das operações financeiras são sustentadas por recursos internos. Isso insinua que muitas dessas empresas ainda estão em uma fase de maturidade inicial ou enfrentam dificuldades para acessar fontes de financiamento externas mais diversificadas, como securitizações e linhas de crédito com bancos e fundos.
Willer Marcondes, sócio da Strategy& e líder de Consultoria em Serviços Financeiros
Sócio e líder de Serviços Financeiros, Bancos e Mercados de Capitais, PwC Brasil
Tel: 4004 8000