Bancos de atacado pós-2025

Para ser proativo na agenda de transformação, é preciso viabilizar o crescimento em um mercado em constante evolução

Visão geral

O setor bancário atacadista passou por um período difícil recentemente. O esforço de ter que lidar com desafios imediatos, como a crise sanitária causada pela pandemia de covid-19, que impôs enormes limitações às pessoas e às empresas e testou os mercados financeiros, adiou uma transformação extremamente necessária. No entanto, ao ajudar os clientes a enfrentar uma recessão global e provar sua resiliência, o setor passou com extraordinário sucesso no teste de estresse mais rigoroso desde a crise financeira global.

No horizonte, vemos que o ambiente financeiro está novamente entrando em um período de volatilidade, com juros, preocupações com a inflação e instabilidade geopolítica em ascensão. Para enfrentar a tempestade atual, os bancos incumbentes devem acelerar e expandir suas agendas de transformação para conseguirem enfrentar antigos e novos desafios ao mesmo tempo. As estruturas de mercado estão mudando, as exposições se tornaram mais complexas e interconectadas, novas classes de ativos estão grandes demais para serem ignoradas e aspectos não financeiros, como as questões ESG (ambientais, sociais e de governança), agora são fatores críticos de negócio. A indústria está pronta para atender a um conjunto cada vez maior de demandas dos clientes e da sociedade.

Este relatório, o novo capítulo da série “Pós-2025” da PwC, se concentra nas tendências que exercerão forte influência sobre os bancos atacadistas em um futuro próximo.

Onde estamos agora?

Mudanças geopolíticas profundas. Pressão nas cadeias de suprimentos globais. Picos de inflação que ocorrem uma vez a cada geração. Insegurança energética e de commodities. Disrupção tecnológica. Competição interna e externa intensa, à medida que novos players e os já estabelecidos disputam participação no mercado.

A indústria global de bancos de atacado está em risco de uma forma nunca vista. Da mesma forma, o tradicional papel dos bancos como únicos provedores de intermediação de crédito está ameaçado por novos entrantes que vêm ganhando ímpeto com o crescimento exponencial de suas capacidades tecnológicas. Em poucos anos, o cenário do mercado deixou de ser dominado por modelos um-para-muitos para um cenário em que prevalecem abordagens muitos-para-muitos. A capacidade de acesso à liquidez é agora mais democrática e quase instantânea.

O objetivo dos bancos incumbentes será evitar a desintermediação, enquanto incertezas econômicas se mantiverem como principal preocupação dos clientes corporativos e privados. Para fazer isso, os bancos devem traçar um caminho entre duas forças que exercem forte pressão sobre eles: mudanças na estrutura do mercado e disrupção tecnológica. Iniciativas de transformação em menor escala e reativas – comuns no setor – não serão mais suficientes. Incumbentes que não formulam uma estratégia de transformação proativa e abrangente correm o risco de enfrentar grandes pressões de margem, perder oportunidades de crescimento e ficar bem atrás de seus pares em áreas como parcerias, pagamentos e inovação tecnológica rumo a modelos operacionais de bancos digitais totalmente integrados.

Um mercado de oportunidades

As implicações são abrangentes. O cenário é o da rápida digitização do mercado financeiro com a tecnologia blockchain e a tokenização de ativos, associadas a mudanças de infraestrutura necessárias para uma adoção e participação em larga escala dessas transformações na estrutura do mercado. Tudo isso também representa uma oportunidade para desenvolver novos motores de crescimento no setor bancário de atacado.

Estamos confiantes que os líderes do setor entendem a oportunidade. Quando perguntamos a 678 executivos dos Estados Unidos sobre quais possíveis mudanças políticas estão gerando mudanças importantes em seus negócios, os executivos de serviços financeiros estavam especialmente atentos a regulamentações de tecnologia e dados (63%). Sessenta e nove por cento deles também nos disseram que capitalizar a transformação digital seria fundamental para ampliar a capacidade de crescimento de suas empresas em 2022, bem acima da média de todos os setores – 60%.

Fonte: PwC

Além da tecnologia tão necessária, há a crescente agenda ESG: regulamentações novas ou em elaboração, expectativas de governança corporativa e um crescente apetite dos investidores – tanto do lado da compra quanto do lado da venda – por ativos sustentáveis, como o comércio de carbono. Aqui, também, os bancos veem a oportunidade de ajudar os clientes a financiar sua agenda verde e introduzir novos parâmetros de referência e medidas.

O principal desafio para os líderes dos bancos de atacado – e o que acreditamos ter impedido os incumbentes de adotar uma abordagem mais proativa para sua transformação – é equilibrar as crescentes complexidades das operações diárias no setor com o foco em uma transformação ampla e de longo prazo em toda a organização. Iniciativas de transformação digital em larga escala em bancos de atacado também são conhecidas por seus impactos imprevistos em equipes funcionais, como as de risco, finanças, conformidade e até mesmo front office. Além disso, a histórica falta de alinhamento entre a linha de frente e os bastidores comprometeu a eficácia dos programas e colocou pressão sobre os recursos – de tempo, talento e dinheiro – quando eles eram necessários em outro lugar.

Na verdade, o escopo do empreendimento não deve ser confundido. Considerando apenas o nível de investimento, a mudança na escala necessária para mudar o rumo dos bancos exigiria um aumento significativo do investimento atualmente destinado para iniciativas de transformação. À medida que olhamos para o futuro, também temos a expectativa de que ventos contrários na macroeconomia venham a exercer tensão sobre os líderes e seus balanços, exatamente quando o chão em que pisam parecer movediço. A inflação elevada, em particular, criou condições de mercado que restringem os players tradicionais de fornecer liquidez devido ao custo do capital e às pressões sobre os retornos.

Para ajudar os bancos a dar o primeiro passo, este relatório define quatro tendências principais que impactam a agenda de transformação do setor bancário de atacado no mundo nos próximos cinco anos e aponta as oportunidades de crescimento – em estrutura de mercado, ESG, finanças descentralizadas (DeFi) e ativos digitais – disponíveis para bancos que entendem essas oportunidades e se adaptam rapidamente. Quando formulada e executada adequadamente, a transformação levará a maiores receitas, custos operacionais reduzidos e insights baseados em dados que protegerão melhor suas empresas.

Uma abordagem integrada para a agenda de transformação

Historicamente, os bancos gastam muito para realizar a transformação de modo fragmentado, geralmente impulsionados por uma necessidade comercial urgente, demandas regulatórias decorrentes de ações de fiscalização, constatações da fiscalização, erros operacionais ou atualizações essenciais de sistemas. No ano passado, os principais bancos gastaram cerca de US$ 20 bilhões para manter a arquitetura de sistemas antigos e remediar a falta de gerenciamento de dados em suas empresas. Além disso, à medida que aumentam as ameaças às atividades tradicionais de atacado, depender de uma estratégia de transformação cara e muito reativa é insuficiente se o objetivo for alterar as principais tecnologias para garantir a capacidade de desenvolver, iterar e escalar produtos e serviços.

Muitos dos processos de negócios que já foram digitizados, como negociação de ações e modelagem de risco de fraude, estão desconectados uns dos outros. Além disso, existe uma abordagem fragmentada sobre como e onde os processos e tarefas são automatizados e digitizados. Os bancos devem abordar esse esforço com uma perspectiva de negócios para simplificar sua capacidade de fornecer produtos aos clientes. Para aproveitar todos os benefícios trazidos pela digitização – redução do custo total de propriedade, melhor tempo de processamento, redução do risco operacional e capacidade de concorrência com novos entrantes – é preciso ter um conjunto mais ágil de tecnologias do que os atuais sistemas proprietários da maioria dos bancos.

Criar uma abordagem integrada para sistemas proprietários – em vez de comprar ou fazer parceria com fornecedores – não representa mais uma boa prática de negócios. Continuar a competir em escala requer a adoção de arquiteturas modernas, como a nuvem. Para operar de forma eficaz com a nova agenda de transformação, os CIOs e os CTOs de bancos precisam agir mais como investidores e gestores de fundos de capital de risco que buscam otimizar parcerias com fornecedores de tecnologia, em vez de desenvolver esses sistemas por conta própria.

Fonte: Análise de Tricumen para PwC

Tendências atuais, estratégias futuras

A transformação no setor bancário de atacado está sendo impulsionada por quatro tendências principais: mudança na estrutura do mercado, crescentes exigências ESG, ascensão das finanças descentralizadas e a emergência dos ativos digitais como uma classe de ativos viável. Cada uma dessas tendências apresenta novos desafios e oportunidades para o crescimento sustentável, desde que os líderes de negócios adotem uma abordagem proativa para a transformação de seus produtos, serviços e operações.

Adapte-se à mudança na estrutura de mercado

Manter as operações do banco. Mudar o banco. Não surpreende que essas sejam as duas prioridades dos bancos, à medida que mudanças no mercado desestabilizam os modelos de negócios tradicionais nas principais atividades de atacado – incluindo investimentos, empréstimos, serviços de transações e gestão de patrimônio. O que há de novo? A tensão entre manter o banco e mudar o banco nunca foi tão alta. Em um setor geralmente dominado por exigências de transformação – e, portanto, lento para se adaptar estrategicamente – criar o banco de atacado do futuro requer liderança ágil para traçar um rumo em meio a um cenário de disrupção digital, transições ESG e novos obstáculos regulatórios. Ao mesmo tempo, a instabilidade geopolítica e a primeira situação de inflação generalizada em décadas põem pressão sobre as equipes de gestão, desviando ainda mais o foco da tão necessária transformação de longo prazo.

No entanto, nos próximos anos, os bancos que agirem com ousadia terão grandes oportunidades. Seja abandonando a passividade em relação aos ativos digitais ou protegendo as margens de lucro sob o ataque de fintechs, conquistar o que seria uma vantagem de player pioneiro exige investir em novos recursos – mais do que adaptar modelos de negócios e buscar novos fluxos de receita. Os bancos podem criar resultados sustentáveis que permitam a eles se diferenciar dos concorrentes e atender às demandas de uma estrutura de mercado em mudança. Os incumbentes vencedores serão aqueles que adotarem novas tecnologias, fizerem parceria com os insurgentes, estabelecerem novas unidades digitais e adotarem uma agenda de transformação proativa. 

O ritmo acelerado de transformação também é evidente no momento em que os reguladores globais aceleram os esforços de desenvolvimento de áreas do mercado, principalmente em ativos digitais e ESG. A expectativa é que surjam novas regras para criptomoedas e stablecoins, assim como para fluxo de ordens de pagamento, provedores de liquidez não bancários e para relatórios e supervisão do mercado de títulos. O ESG também é importante, pois o cenário de divulgação é definido e padronizado em jurisdições globais.

O aumento dos custos de conformidade ocorre no momento em ondaque os bancos buscam oportunidades de redução de custos. A automação e a digitização da conformidade reduzirão os custos e trarão eficiência, o que reforçará a ideia de que as instituições do mercado de capitais devem continuar a ser tecnologicamente avançadas. Os bancos precisam encontrar um equilíbrio entre buscar novas maneiras de operar e o aproveitamento de recursos que estão atingindo o pico de adoção – tudo isso sem deixar de ser bons cidadãos globais que aderem às expectativas de ESG.

Ameaças competitivas de players não tradicionais

A diversidade do setor financeiro aumentou tanto nos mercados desenvolvidos quanto nos emergentes. Fintechs e grandes empresas de tecnologia estão oferecendo uma ampla e crescente gama de serviços financeiros. Alguns permanecem focados em um único produto ou serviço, enquanto outros alavancaram seus sucessos iniciais para ampliar as ofertas de serviços – por exemplo, Square e PayPal migrando de pagamentos para empréstimos. Algumas fintechs tornam-se prestadoras de serviços ou parceiras da cadeia de valor de bancos e outras pretendem se tornar bancos.

Nos últimos anos, surgiram também os neobancos exclusivamente digitais e principalmente digitais. Eles competem no mesmo espaço regulatório que os incumbentes, mas modernizaram modelos de negócios e simplificaram a infraestrutura. As grandes empresas de tecnologia nos principais mercados – incluindo telecomunicações, logística, transporte, mercados de comércio eletrônico e pesquisa on-line – adicionam outro conjunto de participantes ao setor. As incumbentes, por sua vez, também estão adotando novas tecnologias, fazendo parcerias com fintechs e estabelecendo novas unidades digitais, enquanto buscam maneiras de se adaptar ao novo ambiente. 

Essa hiperdiversificação de serviços financeiros tem implicações tanto para a concorrência quanto para a regulamentação. As medidas dos reguladores com relação aos serviços financeiros e à concorrência tendem a recompensar mais certos modelos de negócios do que outros.

Assuma uma postura ESG mais forte e confiável

Nos primeiros nove meses de 2022, US$ 586 bilhões foram destinados a títulos financeiros sustentáveis. Isso representou um retorno aos níveis anteriores à pandemia e uma diminuição de 26% em relação aos recordes alcançados no mesmo período de 2021, quando o mercado se ajustava à volatilidade macroeconômica. No entanto, os investimentos sustentáveis continuam a ser um mercado de importância crescente para os investidores. Pesquisas da PwC revelaram que oito em cada dez investidores planejam aumentar seus investimentos em produtos ESG nos próximos dois anos.

Embora a oportunidade de mercado seja clara, os bancos devem se manter vigilantes e aprender com situações anteriores, quando a regulamentação interferiu no mercado e forçou mudanças (por exemplo, Dodd-Frank em 2010). Transparência e forte capacidade de gerenciamento de riscos criarão uma vantagem competitiva. Também esperamos que os bancos desempenhem um papel mais relevante para permitir que os clientes cumpram suas obrigações climáticas, seguindo iniciativas como a Glasgow Financial Alliance for Net Zero, uma coalizão de bancos, gestores de ativos e seguradoras que busca alinhar US$ 130 trilhões em ativos com a meta de zero líquido até 2050. As pressões mais recentes vêm da Comissão de Valores Mobiliários dos Estados Unidos (SEC, na sigla em inglês), que propôs requisitos de divulgação climática. O setor apoia o espírito da regra, mas são necessárias mudanças para torná-la mais clara e operacional.

No entanto, para que os bancos realmente se diferenciem e aproveitem as oportunidades ESG, eles precisarão fazer mais do que financiar a transição verde e promover o marketing – será necessário capturar o impacto total em toda a organização e direcionar seu foco para isso. Para tanto, os bancos precisarão analisar oportunidades de receita, como financiamento sustentável, vendas e negociações com foco em ESG e novos setores; capacidades de gerenciamento de risco, como a incorporação de risco climático, melhorias nos modelos de risco de crédito e considerações sobre riscos reputacionais; e funcionalidades de relatórios, incluindo requisitos regulatórios relativos a divulgações ESG da SEC, relatórios de risco para contabilizar o risco climático e relatórios para atender à crescente demanda dos clientes por métricas climáticas e ESG.

Todos esses três componentes têm uma dependência comum e fundamental: dados. A falta de padronização dos dados ESG levou à situação atual, na qual empresas e produtos têm suas próprias métricas ESG e, em alguns casos, dados são capturados manualmente em planilhas. Embora métodos pouco rigorosos tenham sido comuns nos relatórios ESG, os dias de “greenwashing” estão rapidamente chegando ao fim. Para calibrar com sucesso ESG e transformação, os bancos precisarão adotar uma abordagem estratégica e cuidadosa para capturar, comparar e desenvolver os dados necessários.

Os dados necessários para analisar novas oportunidades de receita variam entre as linhas de negócios dos bancos. Enquanto as equipes de vendas e negociação podem estar focadas no desenvolvimento de modelos de precificação e estratégias de cobertura com base no risco climático, as equipes de subscrição e empréstimo podem se concentrar no financiamento de iniciativas sustentáveis e no desenvolvimento de novas ofertas de produtos, como “títulos azuis” – um título de sustentabilidade relativamente novo relacionado à conservação dos oceanos – bem como avaliar o risco de transição para os investimentos existentes. Os dados necessários para avaliar as capacidades de risco também variam entre as faixas de risco e as áreas dentro da organização, sejam riscos físicos e de transição ou riscos de contraparte, riscos de taxa de juros ou riscos de reputação. Finalmente, dados abrangentes serão especialmente importantes para a capacidade de elaborar relatórios das empresas. Embora as divulgações ao mercado e aos investidores tenham sido em grande parte voluntárias até o momento, os investidores agora estão exigindo relatórios mais detalhados e confiáveis. Os reguladores nos Estados Unidos e em outros países estão em processo de padronização das divulgações exigidas, que obrigarão os bancos a desenvolver análises abrangentes de carbono.

Essas iniciativas se estenderão ao processo de investimento. As avaliações e a seleção de ativos terão que atender às diversas necessidades dos clientes. Com o movimento para “contabilizar” o ESG ganhando força, menos bancos podem emprestar para empresas com impacto social ou climático negativo. O custo de capital para essas empresas aumentará. Reguladores, conselhos globais de contabilidade e relatórios e o Fórum Econômico Mundial começam a olhar para a chamada transparência de impacto – uma maneira de medir o ESG sistematicamente. Conforme as empresas avançam na medição, isso afetará em última instância a contabilidade, a lucratividade, os empréstimos, a avaliação e a forma como a comunidade de investidores enxerga as empresas e seus bancos. 

O ESG no setor bancário não vai desaparecer. As empresas que adotam abordagens rápidas terão dificuldades para se equiparar às que desenvolvem requisitos de dados completos e abrangentes, tanto para aproveitar as novas oportunidades oferecidas pelo ESG no mercado quanto para dar conta da crescente variedade de divulgações exigidas. Dado que 45% da população global é altamente vulnerável a mudanças climáticas e até US$ 14,2 trilhões em ativos de infraestrutura em todo o mundo correm o risco de inundações extremas nos próximos 80 anos, a transformação não é mais opcional. Ou as organizações se posicionam para aproveitar as oportunidades que a transformação ESG está oferecendo ou serão forçadas a se transformar mais tarde, a um custo alto.

Conquiste vantagem em relação às finanças descentralizadas

Um sistema financeiro descentralizado (DeFi) tem a audaciosa pretensão de destituir os bancos de seu papel tradicional de intermediários financeiros e revolucionar o sistema financeiro por meio de transações ponto a ponto (P2P) e tecnologia blockchain. No entanto, o DeFi ainda não se estabeleceu plenamente como um concorrente para substituir o sistema existente, considerando que os valores totais dos ativos bloqueados oscilaram entre o máximo de US$ 257 bilhões em 2021 para o mínimo de US$ 58 bilhões atualmente e diante das frequentes e injustas associações à lavagem de dinheiro, ao cibercrime e à falta de privacidade de dados (em contraste com os sistemas financeiros tradicionais).

O desafio para os bancos é claro. O setor de atacado bancário deve transformar sua aparente fraqueza em força, em parte alavancando seu status de setor regulamentado para fortalecer a confiança e gerenciar riscos – e deve fazer isso enquanto se prepara para um ataque total. Fintechs tradicionais e novos participantes da área de ativos digitais inovam no espaço DeFi em um ritmo que os bancos simplesmente não conseguem acompanhar. Os novos entrantes também se beneficiam de um conjunto de tecnologias mais ágeis e, portanto, não carregam o peso de sistemas legados. Os bancos, se não agirem rapidamente, correm o risco de serem atingidos pela desintermediação de suas atividades principais. Novos modelos P2P, por exemplo, estão reduzindo os depósitos, o que, por sua vez, afetará a capacidade dos bancos de se capitalizar e emprestar.

O ritmo crescente de inovação também tornará a escolha do melhor parceiro uma atividade permanente. Os bancos atacadistas precisarão forjar parcerias inovadoras e assumir papéis nos ecossistemas financeiros. Ter uma estratégia de interface de programação de aplicativos (API, na sigla em inglês) também será um foco importante para todos os bancos daqui para frente, pois eles começam a tratar as APIs como um produto e a desenvolver o modelo operacional mais adequado para apoiá-las.

Os bancos optarão por receber depósitos e continuarão a oferecer gerenciamento de riscos de maneiras novas e tecnologicamente avançadas. O gerenciamento de riscos será fortemente automatizado e incluirá riscos de segunda e terceira ordem vinculados a questões sociais e de reputação. Com essa abordagem, todos os aspectos de inovação de produtos, experiências do usuário e distribuição serão gerenciados por um ecossistema, em grande parte “bancos sombra” e empresas de tecnologia, que, por sua vez, venderão por meio de bancos. À medida que a formação de capital, a tecnologia e a governança continuam a evoluir nos bancos atacadistas, esperamos que os ecossistemas descentralizados, como as organizações autônomas descentralizadas (DAO, na sigla em inglês), continuem a evoluir e abalar o setor.

Linhas de negócios preparadas para o futuro com ativos digitais

Como mostraram eventos recentes, a alta volatilidade, a falta de clareza regulatória e um conjunto de atributos, tokens e protocolos em constante mudança geralmente impedem a entrada no mercado de empresas que não têm uma agressiva tolerância ao risco. Ficar à margem tem sido uma escolha prudente para muitos até o momento, mas se tornará cada vez mais difícil.

Muitos participantes do mercado acreditam que os eventos recentes vão remover do setor empresas com modelos de negócios questionáveis. Em paralelo, aqueles com melhores práticas terão a oportunidade de se concentrar no desenvolvimento de seus produtos e no fortalecimento de sua gestão de riscos. Compartilhamos dessa visão. As empresas que aprimoram suas capacidades nas áreas de proteção ao investidor, divulgação e gerenciamento de liquidez estarão bem preparadas para atender às crescentes expectativas de reguladores, formuladores de políticas e clientes.

Dado o lento movimento de instituições bancárias tradicionais para ativos digitais e a maior clareza regulatória por parte do governo dos Estados Unidos e de órgãos reguladores em todo o mundo, a próxima onda de participantes do mercado provavelmente incluirá mais instituições financeiras tradicionais. Aproveitando sua expertise em gerenciamento de riscos e regulamentação, esses participantes oferecerão uma gama cada vez maior de produtos e serviços. Isso inclui custódia segura; spots de fundos negociados em bolsa (EFTs, na sigla em inglês) de criptomoedas; um mercado de derivativos robusto que permite liquidez e menor volatilidade; e pools de liquidez descentralizados, mas interligados, que permitem melhor formação de preços, tokenização e securitização de ativos do mundo real (por exemplo, imóveis e fundos).

Conforme as pressões macroeconômicas e inflacionárias aumentam – e o custo do capital continua a explodir – as empresas devem aproveitar a desaceleração para desenvolver planos e estratégias de negócios claros, que tragam serviços bancários tradicionais para empresas nativas de criptomoedas e lancem produtos e serviços expandidos para ativos digitais nativos, capazes de preparar suas linhas de negócios para o futuro. No longo prazo, acreditamos que as eficiências dos ativos digitais para operações permitirão reduzir o custo de capital, quando a volatilidade diminuir.

Sete estratégias de adaptação para os bancos

Um dos principais desafios de qualquer banco é identificar a melhor forma de alocar recursos e capital para promover os tipos de transformação necessários para o sucesso sustentável. Isso é especialmente desafiador quando variáveis externas, como regulamentação, juros e volatilidade econômica, mudam drasticamente.

Nos bancos incumbentes, a tomada de decisões será pressionada no curto prazo, à medida que as prioridades para a transformação – sobretudo os recursos operacionais e humanos – se tornarem cada vez mais urgentes. Enquanto isso, os bancos devem administrar a tensão entre as operações do dia a dia e um programa de mudança sustentável. Apresentamos a seguir sete considerações estratégicas para ajudar os líderes do setor bancário a identificar lacunas em sua agenda de transformação e desenvolver uma capacidade de adaptação para prosperar nos próximos anos.

1. Avalie continuamente sua agenda de transformação considerando as mudanças cada vez maiores do mercado.

Entenda o horizonte das mudanças do setor e das ameaças aos negócios e esteja sempre pronto para a mudança. Além disso, torne a mudança uma competência essencial, desenvolvendo as habilidades certas em toda a empresa para incentivar a agilidade.

2. Crie capacidade e recursos para avaliar atividades de manutenção do banco em comparação com atividades de mudança.

Tenha em mente uma mudança em larga escala ao abordar o processo de definição da estratégia e alocação do orçamento. Mantenha o foco no curso que você definiu durante os períodos de volatilidade, abordando as metas de sustentabilidade e neutralidade de carbono para você e seus clientes e definindo como se preparar para os ativos digitais e a Web3.

3. Aprimore os recursos de dados e análises. 

Desenvolva um arsenal de análises abrangentes e em tempo real usando uma abordagem multidisciplinar que atenda às necessidades do front office e de gerenciamento de riscos.

Foco em dados e análises

A volatilidade do mercado e as crises de liquidez, como as que ocorreram durante a fase aguda da pandemia de covid-19 no início de 2020, expuseram as limitações de conjuntos de dados com informações relacionadas a uma única classe de ativos, do gerenciamento da exposição e da tomada de decisões. Isso levou nossos clientes a aumentar o foco no desenvolvimento de análises abrangentes em tempo real e abrangendo várias classes de ativos. 

De forma mais ampla, as estratégias de big data começaram a impactar várias outras áreas nos mercados de capitais nos últimos anos, como análise de sentimento para negociação, análise de risco (como mencionado acima) e vigilância de mercado. O gerenciamento de dados é agora uma função estratégica na maioria das instituições financeiras. Além disso, fatores internos, regulatórios e relacionados a clientes estão levando as empresas a reavaliar dados sobre negociação, gerenciamento de riscos e operações.

Normalmente, as estratégias de dados podem ser aplicadas a uma ampla gama de funções, desde a negociação de front-office até o processamento de back-office, vigilância, dados de referência e suporte. Não surpreende que as empresas focadas em iniciativas orientadas por dados estejam buscando maneiras únicas pelas quais os dados possam abordar problemas atuais em toda a sua cadeia de valor e, principalmente, forneçam uma vantagem competitiva em um ambiente em rápida mudança.

4. Empodere líderes de nível médio e sênior para facilitar a mudança.

Empodere e desenvolva líderes para que transitem de forma ágil por toda a organização, percorrendo diferentes áreas, com uma atitude voltada para se aprofundar onde for necessário para compreender e resolver questões complexas. Eles também devem ser capazes de simplificar o modelo operacional da organização para torná-lo mais ágil. Promova uma mentalidade de gestão que considere as iniciativas de manutenção e mudança do banco como partes integrantes de um mesmo objetivo.

5. Capacite continuamente suas equipes para aprimorar e acelerar a adoção de novos recursos.

Invista para atualizar todos os seus funcionários em relação a essas tendências. Envolva e capacite todos para que aprendam sobre a disrupção e seja transparente sobre qual será a estratégia e a abordagem de sua organização, independentemente do seu estágio de maturidade. Desenvolva maneiras cuidadosas de demonstrar como as tendências e as transformações afetarão os papéis e funções de seus funcionários.

6. Tome decisões estratégicas sobre o lugar que deseja conquistar no mercado.

Avalie seus recursos operacionais para identificar onde você precisa construir em vez de comprar, contratar e controlar. Analise sua posição de mercado e seus recursos para aumentar sua participação em relação à concorrência e a carteira de clientes considerando sua transformação. Como a mudança posiciona melhor sua organização? Desenvolva critérios e métricas para conquistar o que deseja e os monitore para enfatizar o sucesso.

7. Comunique-se efetivamente com toda a organização para influenciar stakeholders diversos.

Formular claramente as razões das iniciativas de transformação é fundamental para motivar os stakeholders em todos os níveis da organização, não apenas em um departamento específico. Contar com as pessoas certas em cargos de liderança é crucial para desenvolver a adaptabilidade e a agilidade na tomada de decisão, aspectos necessários para prosperar e vencer em um ambiente marcado por disrupções tecnológicas, competitivas e geopolíticas.

Em um cenário de mudanças constantes, o desafio dos líderes é enxergar em meio à neblina, compreender o tamanho da evolução em curso e agir com ousadia para alcançar o sucesso sustentável.

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Lindomar Schmoller

Lindomar Schmoller

Sócio e líder da indústria de Serviços Financeiros, PwC Brasil

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