Entre 2019 e 2021, o segmento de fintechs de crédito no Brasil amadureceu seu modelo de negócio e se renovou. É o que mostra a 2ª edição da Pesquisa Fintechs de Crédito Digital promovida pela PwC e a Associação Brasileira de Crédito Digital (ABCD).
O estudo, baseado em respostas fornecidas por executivos de 37 empresas do setor, revela que 74% dessas fintechs estão na fase de consolidação e expansão – eram 49% há dois anos. O percentual de empresas com mais de 300 funcionários subiu de 9%, em 2019, para 18% em 2021.
A pesquisa mostra também os impactos da publicação da Resolução 4.656/18 do Banco Central (Bacen) – que criou duas modalidades de empresa digital no setor financeiro – e de outras regulações que trouxeram segurança jurídica para a atuação das fintechs, além de promoverem a competição. A publicação traça ainda um panorama de como as fintechs estão posicionadas para o open finance – evolução do open banking que deve impulsionar uma nova onda de expansão do setor.
Os dados mostram tendências opostas dependendo do mercado atendido. Para pessoas físicas, houve uma ampliação da oferta de produtos, enquanto as fintechs que concedem empréstimos para pessoas jurídicas estão cada vez mais especializadas.
Empresas que atendem pessoas física:
Empresas que atendem pessoas jurídicas:
A rapidez na resposta ao cliente, em um processo fácil e sem burocracia, altos índices de aprovação de crédito e taxas de juros competitivas continuam sendo as metas para as fintechs de crédito em termos de experiência de serviço. A maioria delas diz conseguir realizar a análise de crédito e a liberação do empréstimo em menos de 24 horas.
Indique em quanto tempo sua empresa faz a análise de risco para liberação de crédito desde a solicitação do cliente até a aprovação
O pagamento por WhatsApp e a inteligência artificial aparecem em primeiro lugar na lista de tecnologias que as fintechs de crédito digital planejam dominar (com 46% de menções). Esses dados apontam para duas tendências. A primeira é que as empresas sabem que precisarão aprender a entregar tudo que fazem atualmente por meio de apps de mensagens instantâneas, não apenas o atendimento ao cliente. A outra tendência está associada ao próprio avanço do open finance, que vai exigir das fintechs um investimento muito maior em inteligência artificial e data analytics para avaliar o risco de crédito dos clientes.
Nos últimos dois anos, o segmento de fintechs experimentou os efeitos do impulso dado pela Resolução 4.656/18 do Bacen, que regulamentou a atuação de empresas digitais no setor financeiro, dando mais segurança jurídica às fintechs e uma nova dinâmica ao mercado.
O percentual de empresas participantes da nossa pesquisa com autorização do Bacen para operar como Sociedade de Crédito Direto (SCD) ou Sociedade de Empréstimo entre Pessoas (SEP) mais que triplicou.
O impulso ao crescimento do crédito veio principalmente dos empréstimos a pessoas físicas, que se expandiram 141%. Para pessoas jurídicas, o aumento foi de 46%.
As fintechs pesquisadas registraram crescimento anual médio de 233% de sua carteira em 2021, após uma alta de 84% em 2020.
As empresas evoluíram muito no uso de dados nos últimos anos e devem se aperfeiçoar ainda mais com o avanço do open finance. Além disso, a adoção do Pix em 2021 reduziu os custos transacionais, dando margem maior para as fintechs operarem de forma competitiva.
A expectativa é que as fintechs mais maduras consigam avançar, mesmo em um cenário econômico mais desafiador, para encontrar os clientes que podem usar o crédito de forma sustentável e rentável.
O open finance traz uma gama de oportunidades para os novos entrantes. A previsão é que ele impulsione uma nova onda de crescimento do setor de fintechs de crédito, facilitando o processo de onboarding de novos clientes e tornando a experiência do consumidor muito mais conveniente.
Em um primeiro momento, a tendência é haver vários modelos de negócios coexistindo no ambiente das fintechs de crédito, enquanto os consumidores vão tomando conhecimento dos novos serviços e seus benefícios e ditando suas ofertas de acordo com os hábitos e preferências das diferentes gerações.
Atrair recursos humanos qualificados continua sendo o principal obstáculo na gestão das fintechs. Não se avista solução para o problema no curto e médio prazos. Além das falhas na educação básica e no letramento digital de crianças e jovens, falta coordenação nacional para empreender um esforço de formação de especialistas no ritmo exigido pelo mercado. Isso é um problema para um país que se prepara para entrar no open finance.
Em relação à obtenção de capital, para mais de um terço das fintechs de crédito, a crise econômica e política foi o principal entrave. O problema foi citado por 37% dos participantes, em comparação com 30% na primeira edição da pesquisa.
Dois terços das empresas já conseguiram participar de pelo menos uma rodada de investimento e 76% estão buscando recursos para investir – a maioria delas pretende obter mais de R$ 100 milhões para financiar o crescimento de sua carteira ou operação.
Depois do capital próprio, os fundos de investimento em direitos creditórios (FIDCs) se consolidaram como a principal fonte de financiamento das empresas participantes da nossa pesquisa.
Qual é a fonte de investimentos da sua empresa (em 2021)?
Quanto às fontes de captação de recurso, a diversificação ocorrida em 2021 e o aumento gradual da participação do BNDES entre as opções listadas chamam a atenção. Ao longo de 2021, o banco aportou mais de R$ 2 bilhões em seis FIDCs de plataformas digitais que oferecem crédito para esse segmento.
Em dois anos, o percentual de empresas que não conseguiram captar diminuiu ligeiramente. Ao mesmo tempo, mais que dobrou a parcela de empresas que captaram acima de R$ 100 milhões.