Confira os principais temas da agenda executiva que poderão influenciar o setor farmacêutico ao longo do ano
Um setor farmacêutico saudável produz resultados positivos tanto para os pacientes quanto para os investidores.
Em 2023, testemunhamos avanços notáveis no desenvolvimento de vacinas, no tratamento do câncer, em medicamentos GLP-1 – que estão revolucionando os cuidados com a obesidade –, na terapia genética e na tecnologia de “edição” de genes para doenças raras, além de novas terapias para doenças complexas como o Alzheimer.
O desafio de gerar valor na indústria, no entanto, persiste uma vez que os investidores ainda não estão atingindo os resultados esperados. O setor continua a apresentar um desempenho abaixo das expectativas em relação aos índices dos mercados de capitais.
Nos demonstrativos de resultados, os gastos das empresas farmacêuticas estão subindo em função da inflação, das taxas de juros, dos novos regimes tributários e de um ambiente de riscos crescentes. Em relação ao cenário latino-americano, e particularmente brasileiro, embora o setor farmacêutico esteja se destacando globalmente com taxas de crescimento impressionantes, superando regiões maduras como América do Norte e Europa, que apresentam um crescimento mais modesto, o ano de 2023 trouxe também desafios significativos para o setor.
No Brasil, o varejo farmacêutico não atingiu as expectativas de crescimento para o ano, além de ter sido severamente impactado por elevadas taxas de juros que afetaram também a sua cadeia de distribuição. A indústria farmacêutica brasileira também enfrenta uma série de desafios econômicos e estruturais. Entre eles, destaca-se a necessidade de inovação contínua, que é acompanhada por altos custos de pesquisa e desenvolvimento (P&D), assim como a adaptação às novas regulamentações governamentais.
Além dos macrocenários, há uma verdade fundamental sobre estratégia na indústria farmacêutica hoje: há mais concorrência disputando o mesmo espaço.
Para se destacar, as empresas líderes do setor devem aproveitar o momento “para se reinventar e, assim, gerar valor”. Empresas visionárias devem ver 2024 como um ano para entregar resultados robustos tanto para os pacientes quanto para os investidores. Elas devem ajustar suas agendas de transformação de acordo com o contexto, o que significa:
A inovação deve estar presente em cada aspecto do modelo de negócios se as empresas realmente almejam quebrar o ciclo de compressão das margens e dos retornos abaixo dos esperados pelo mercado.
Começando pela estratégia de investimentos em P&D, as companhias líderes devem aproveitar este ano para olhar de perto o balanço dos investimentos voltados a áreas estabelecidas versus novos mercados (white space).
Os líderes em pesquisa podem confrontar suas empresas a partir destas questões:
O mercado aumentou a competição nos mesmos espaços, o que resultou em investimentos maiores nos esforços de venda e marketing, com custos de aquisição mais elevados por paciente, em picos de vendas potencialmente menores e em margens mais comprimidas. A oportunidade reside em remodelar as estratégias de P&D e se perguntar se parcela suficiente do orçamento está sendo direcionada ao white space.
Redefina as expectativas sobre o desempenho de valor dos acionistas para alinhá-las à missão de atendimento aos pacientes. Impulsione uma agenda de reinvenção do modelo de negócios.
Impulsione um modelo promocional de maior retorno sobre o investimento (ROI) por meio de escolhas estratégicas no portfólio e capacidades de atendimento ao cliente de última geração. Redobre o investimento em P&D em nichos de mercado ainda não explorados (white space).
As empresas farmacêuticas devem acelerar todo o ciclo de vida de seus produtos, desde o desenvolvimento até a chegada ao mercado. Isso implica uma adoção ágil e responsável da IA e do analytics, com aplicações que produzam resultados concretos em larga escala.
Uma análise da PwC demonstra o valor projetado de uma automação inteligente e análises avançadas impulsionadas pela IA:
As empresas líderes do setor provavelmente investirão em tecnologias digitais como a IA, data analytics e aprendizagem de máquina para ajudar a acelerar os processos de desenvolvimento de medicamentos e gerar insights preditivos. Para aproveitar todo o potencial dessas tecnologias de última geração, os líderes devem:
Lidere um pensamento de “arte do possível” ao longo da cadeia de valor. Adote uma abordagem que olhe para o “valor em primeiro lugar” no caso das novas tecnologias, ao mesmo tempo que fornece salvaguardas.
Implemente disciplinas mais robustas à alocação de recursos, vinculando-as à criação de valor na empresa. Alavanque as fusões e aquisições como uma oportunidade para transformar a empresa além das sinergias tradicionais.
Em 2024, os líderes da indústria farmacêutica precisarão tomar medidas adicionais para garantir que os gastos estejam 100% alinhados com a criação de valor. Estrategicamente, isso significa ter uma noção clara do que realmente direciona a vantagem competitiva da empresa e realocar investimentos de outras áreas para aquelas com algum diferencial.
Os custos diários para tocar a empresa devem estar na agenda das lideranças. É preciso examinar a fundo estruturas descentralizadas que possam estar duplicando atividades. Para gerar valor, os centros financeiros offshore devem assumir novas funções. Os organogramas terão de ficar mais enxutos e processos rotineiros de menor valor podem precisar migrar para serviços gerenciados habilitados por tecnologia.
Transacionar para transformar é o “mantra” das operações em 2024. Isso significa usar as fusões e aquisições (M&A, na sigla em inglês) como catalisadoras de uma transformação verdadeira. Cada transação representa uma oportunidade para aprimorar o negócio e reinventar a forma como ele opera.
A atividade de M&A envolverá colaborações e parcerias, desinvestimentos para encerrar negócios com crescimento baixo ou nulo, spin-offs para retornar ao core business (conforme se viu em negociações recentes) e estratégias ecossistêmicas para reunir stakeholders tradicionais e não tradicionais na resolução de problemas.
Em 2024, a criatividade também será um imperativo para M&A, o que levará a:
A confiança continua a ser um ingrediente essencial para o sucesso. Pedir a pacientes que tomem um novo medicamento, a reguladores que aprovem um novo produto e a funcionários que ajam segundo as orientações do compliance: esses são apenas alguns exemplos do papel fundamental que a confiança exerce no ramo farmacêutico.
O desafio de manter a confiança dos diversos stakeholders da indústria implica antecipar ameaças e gerenciar riscos. Quanto às ameaças, várias são familiares – ataques cibernéticos, deficiência de qualidade e conformidade regulatória, desvios éticos e novas obrigações legais, tributárias, além de outras de compliance – e a cada ano surgem novas variações.
Adotar uma “mentalidade de compliance” desde o início na estruturação e lançamento de novas estratégias pode auxiliar as companhias farmacêuticas enquanto buscam inovar e ter sucesso – incorporando qualidade, conformidade e confiança como parte essencial de todos os investimentos voltados ao futuro.
O C-Level focado em crescimento e aliado à agenda de riscos sabe que a confiança é crítica para sua missão. Capacidades sólidas de riscos e resiliência podem fazer a diferença entre quem prospera e quem luta para sobreviver.