Os mercados de ações nos EUA e na Europa tiveram retornos de dois dígitos em 2021, graças à reabertura da economia global, aos ganhos expressivos das empresas e à acomodação das políticas monetárias. Nem mesmo o aumento da inflação e um certo grau de instabilidade geopolítica no segundo semestre foi capaz de mudar esse cenário positivo. O S&P 500 subiu 27% e o Stoxx 600 teve alta de 22% em 2021. Ações do setor de tecnologia e algumas das ações com alto potencial de crescimento foram negociadas no segundo semestre, à medida que os mercados antecipavam a redução de medidas de flexibilização quantitativa (quantitative easing – QE) e o aperto da política monetária.
Além do forte desempenho das ações, os mercados estiveram bem menos voláteis em 2021, proporcionando um cenário menos imprevisível que o de 2020 e perfeito para ofertas públicas iniciais de ações, ou IPOs (sigla em inglês para Initial Public Offering). Com poder de fogo abundante, os investidores estavam ávidos para empregar seu capital, e as condições de mercado eram favoráveis. Os mercados globais de IPOs entregaram 2.682 operações, arrecadando US$ 608 bilhões, incluindo 459 IPOs na região da Europa, do Oriente Médio e da África (EMEA, na sigla em inglês), onde as operações totalizaram US$ 99 bilhões. O maior IPO global em 2021 foi o de uma montadora americana de veículos elétricos (US$ 13,7 bilhões), que atraiu grande atenção dos investidores e avaliação premium, apesar do cenário mais cauteloso do quarto trimestre.
Espera-se que o forte crescimento econômico global continue em 2022, pois as economias desenvolvidas ainda têm capacidade extra e os bancos centrais devem aumentar as taxas de juros apenas gradualmente, proporcionando um ambiente favorável para as ações. No entanto, o crescimento será mais moderado em comparação a 2021. Vários ventos contrários surgiram no segundo semestre, como a incerteza em relação a outras variantes de covid-19 e possíveis lockdowns, um ambiente geopolítico mais instável, potencial aceleração da inflação e riscos associados à desaceleração do mercado imobiliário na China. Tudo isso concorreu para um ligeiro aumento na volatilidade.
Após um ano de recordes nas atividades de IPOs, espera-se que 2022 seja um pouco menos intenso. Os investidores devem se movimentar com cautela na reabertura dos mercados de IPO, considerando sobretudo as várias estreias decepcionantes registradas, com valores de mercado menores no fim do ano do que na abertura de capital. Como observamos em nossos relatórios anteriores, os investidores estarão atentos à avaliação e à precificação de IPOs, assim como à prontidão geral das empresas para o IPO e à robustez de seus equity stories em 2022.
Esperamos que a atividade de IPOs aumente e os equity stories relacionados à tecnologia e a ações com alto potencial de crescimento sejam analisados mais detidamente pelos investidores, principalmente a precificação. Esse cuidado é uma consequência da queda do preço das ações e do ambiente desfavorável às ações de tecnologia no segundo semestre de 2021. Também esperamos que setores relacionados a temas ESG, como energia alternativa, tornem-se atraentes para os investidores. A regulamentação de fatores ESG para empresas listadas e grandes empresas de capital fechado continuará a aumentar em 2022. Estar preparado para prestar informações sobre ESG ajudará a criar valor para o IPO.
Apesar de o entusiasmo global ter diminuído em comparação com o início de 2021, o mercado apoiará determinadas SPACs, ligadas a patrocinadores renomados e com combinações de negócios atraentes.
O índice S&P 500 fechou o ano marcando 4.779 pontos, na 70ª alta histórica obtida ao longo de 2021, um recorde, atrás apenas das 77 altas históricas de 1995. Fortes ganhos corporativos, impulsionados pela reabertura das economias, menor volatilidade média e juros próximos de zero estabelecidos pelo Federal Reserve (Fed) mantiveram longe os efeitos da covid-19 e as preocupações crescentes com a inflação.
O impulso de IPOs iniciado em 2020 continuou em 2021, com emissões de ações atingindo a marca de 1.115, mais que o dobro de 2020. Os valores levantados chegaram a US$ 346 bilhões, mais do que os três anos anteriores juntos. As empresas buscaram aproveitar as condições maduras para IPOs – altas avaliações, baixas taxas de juros e forte apetite dos investidores por ações. Excluindo SPACs, os setores de tecnologia e consumo discricionário foram os mais ativos no ano. IPOs de SPACs continuaram a contribuir fortemente para os níveis de IPO, com 619 emissões – em comparação com 250 em 2020 – e receitas de US$ 163 bilhões. A percepção em relação às SPACs piorou no segundo semestre, com o aumento de resgates, maior rigor regulatório e um mercado de PIPE mais restrito.
O mercado de IPOs do Brasil caminhava para ter um ano recorde até que a incerteza política, o aumento das taxas de juros e o fraco desempenho do pós-venda levaram a uma perda de confiança. Mesmo assim, foi o melhor ano do Brasil desde 2007, com 46 emissões e US$ 14 bilhões de arrecadação.
Com ampla liquidez e um grande número de SPACs em busca de transações em 2022, há otimismo em relação ao mercado de IPOs. A atividade de negócios listados permanecerá forte em 2022, mesmo com possíveis apertos da política monetária. A incerteza política entre os EUA e a China e o aumento da regulação chinesa, juntamente com a escala crescente dos mercados da China continental e de Hong Kong, podem pressionar para baixo os volumes de IPOs de empresas chinesas nos EUA.
Os mercados de capitais dos EUA alcançaram um recorde em 2021, embora tenha havido uma mudança para pior no quarto trimestre. Em um cenário de incertezas sobre a ômicron e problemas contínuos da cadeia de suprimentos, os investidores se concentraram no aumento da inflação e na possível resposta do Fed, na forma de aumento de juros. Junte a isso a crescente agitação política na Europa e temos um início de 2022 turbulento. O pipeline de IPOs continua forte e uma liquidação de índices de mercado impulsionada por fortes ganhos de empresas já listadas pode permitir o retorno de uma intensa atividade de precificação de IPOs.
O mercado de IPOs na região EMEA apresentou volumes extraordinários ao longo de 2021. O primeiro semestre foi mais movimentado que o segundo, devido ao otimismo do mercado com a reabertura das economias e ao aumento dos lucros das empresas. Também vimos um número significativo de IPOs acima de US$ 1 bilhão envolvendo diversos setores e regiões da Europa. Os setores mais ativos na região EMEA (por receitas) foram tecnologia, consumo, comércio eletrônico e finanças. As bolsas mais ativas em 2021 (por recursos) foram Londres, Estocolmo e Amsterdã, todas entregando grandes volumes de IPOs, inclusive acima de US$ 1 bilhão. O maior IPO da região foi o da InPost, em Amsterdã, no valor de US$ 3,9 bilhões.
Após um ano tão movimentado na atividade de IPOs, os emissores não estão com pressa de ir ao mercado no início de 2022, principalmente devido a várias estreias decepcionantes, que terminaram o ano com valor abaixo de seus preços de emissão. Porém não faltam candidatos para processos de abertura de capital europeus. Os emissores e suas consultorias vêm trabalhando muito para a próxima janela de IPOs. Embora haja um grau de incerteza no ambiente geopolítico global, a recuperação macroeconômica em curso oferece um pano de fundo favorável. Os investidores vão estar bastante atentos à avaliação e à precificação dos IPOs, assim como à prontidão geral das empresas e à robustez de suas equity stories.
Em alta desde 2021, a preferência dos investidores por equity stories e simplificação corporativa provavelmente levará a mais spin-offs, cisões e IPOs em toda a Europa. Também esperamos ver uma ampliação dos setores cobertos por IPOs, à medida que o apetite dos investidores por empresas de tecnologia e com alto potencial de crescimento for testado. O interesse renovado em SPACs europeias, incluindo do Reino Unido, após a revisão das regras de listagem, é outra tendência a ser observada, principalmente em certos setores, como ESG e negócios impulsionados por tecnologia.
Tivemos um dos mercados de IPO mais movimentados da Europa em 2021, e as evidências sugerem os investidores ainda têm muito dinheiro no mercado para aplicar. Em 2022, os potenciais candidatos precisarão trabalhar duro para preparar seus negócios e maximizar valor. Com investidores atentos, haverá uma ênfase maior na demonstração de uma equity story robusta. Também haverá um exame minucioso sobre a capacidade de responder rapidamente a mudanças da regulamentação, ao ambiente geopolítico e a crescentes expectativas ESG relativas ao compromisso de alcançar emissões líquidas zero e gerar prestar informações.
As emissões de IPOs continuaram a aumentar em 2021, chegando a 1.108, com receitas subindo para US$ 162 bilhões. As emissões focadas em tecnologia e saúde tiveram maior destaque. No entanto, a atividade geral foi modesta quando comparada com as regiões América e EMEA. Mudanças regulatórias na China e temores em relação à liquidez do mercado imobiliário chinês causaram incerteza, resultando em atrasos nos cronogramas de IPO.
A emissão via IPOs em Hong Kong caiu a níveis de 2020, com redução de 25% das receitas, o que fez da região uma exceção nos mercados globais de IPO em 2021. Apesar de um forte início no primeiro semestre, a incerteza se espalhou no mercado por vários motivos, principalmente devido a regulamentações mais rígidas e penalidades financeiras sobre certas empresas de tecnologia, além de um desempenho decepcionante no pós-venda, o que tornou os investidores cautelosos em relação às avaliações.
Enquanto a China continental e Hong Kong enfrentaram desafios em 2021, Coreia do Sul, Índia e Austrália experimentaram um crescimento importante. Juntos, os recursos levantados via IPO nos três países aumentaram 214% e alcançaram US$ 44 bilhões – 27% do total da região Ásia-Pacífico, bem mais que os 12% de 2020. A confiança dos investidores no mercado e o número crescente de unicórnios regionais devem levar a um desempenho contínuo de IPOs em 2022 nesses mercados.
Espera-se que a emissão via IPOs na Coreia do Sul, Índia e Austrália siga a tendência de 2021 e a confiança dos investidores permaneça alta. O crescimento na China deve ser mais lento que em 2021. Os formuladores de políticas estão tentando resolver problemas e restaurar a confiança no mercado imobiliário endividado. A China também já vem buscando esclarecer as regulações para as empresas chinesas que realizam listagem no exterior, o que ajudará a fortalecer a confiança dos investidores em 2022. Em dezembro de 2021, uma grande empresa de tecnologia chinesa anunciou que se mudaria da NYSE para Hong Kong. Será interessante ver o efeito que isso terá na escolha dos locais de listagem entre as empresas chinesas que consideram fazer um IPO em 2022.
A atividade de IPOs na Ásia registrou um crescimento modesto em 2021, impulsionada pela forte liquidez e pelo fortalecimento da confiança nos negócios. O fluxo de transações permanece forte e ativo em meio aos ajustes políticos da China em vários setores.
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