Até hoje as organizações brasileiras não contavam com uma abordagem sistematizada para mensurar seu processo de transformação digital. Com este levantamento, apresentamos uma metodologia exclusiva para consolidar os diversos aspectos da transformação digital em um indicador inédito e mensurável, o Índice Transformação Digital Brasil (ITDBr).
A proposta da PwC Brasil e da Fundação Dom Cabral (FDC) é medir o nível de maturidade digital das empresas em dez dimensões. O ITDBr médio das empresas participantes ficou em 3,3, pouco acima da metade da escala, que vai de 1 a 6.
Uma estratégia digital eficaz se inicia com um claro mapeamento de oportunidades e uma visão de futuro tanto para a empresa quanto para o negócio digital. Isso inclui a criação de um plano inicial de 100 dias, além de uma estratégia para o curto, médio e longo prazos, identificando as tecnologias necessárias para concretizar essa visão de futuro digital.
Itens com melhor e pior avaliação em cada dimensão
5
Importância da estratégia de transformação digital na organização
3,3
Plano de metas estabelecido e adoção de métodos ágeis para a execução da estratégia de transformação digital
O sucesso da transformação digital pode ser alcançado com base na implementação de sólidos mecanismos de governança e gestão. Essa estrutura envolve a criação de fóruns e comitês, definição de métricas de acompanhamento e iniciativas focadas na gestão de pessoas, mudanças e parcerias.
Itens com melhor e pior avaliação em cada dimensão
3,2
Estímulo para iniciativas de inovação aberta com foco na transformação digital
2,7
Avaliação constante do nível de maturidade para a transformação digital
A justificativa para a transformação digital está na capacidade de criar negócios e gerar receitas adicionais com base em produtos e serviços digitais. Para isso, é essencial gerar valor tanto internamente – com a digitização das áreas de negócio e operações e melhoria de indicadores de eficiência – quanto externamente, atraindo novos clientes e parceiros. A organização precisa desenvolver processos e soluções internas e externas que garantam esse sucesso.
Itens com melhor e pior avaliação em cada dimensão
3,9
Práticas para adoção de novos canais digitais para os clientes atuais
3,4
Práticas para o desenvolvimento de novos modelos de negócio totalmente digitais
A promoção de uma cultura voltada para a transformação digital deve ser prioridade. Isso envolve o desenvolvimento de líderes aptos a conectar negócios e tecnologia e a criação de uma plataforma on-line de treinamento para disseminar conhecimento em todos os níveis organizacionais. A estrutura organizacional deve ser ágil, encorajando a experimentação e facilitando a colaboração entre diferentes setores.
Itens com melhor e pior avaliação em cada dimensão
3,8
Percepção da liderança como influenciadora para a transformação digital da organização
3,2
Política de gestão de pessoas e valores da organização abrangem a transformação digital
Uma infraestrutura sólida representa a base tecnológica da organização. Ela integra ativos digitais essenciais para o emprego de analytics e inteligência artificial (IA), além de envolver o investimento em tecnologias, como cloud computing, e a automação e o desenho de processos digitais para o fluxo de informações da organização. O objetivo é melhorar e inovar continuamente, gerando valor para a jornada do cliente.
Itens com melhor e pior avaliação em cada dimensão
4,2
Existência de equipes dedicadas aos projetos de infraestrutura tecnológica e engenharia de dados
3,1
Existência de equipes dedicadas para o desenho da jornada do cliente e entendimento adequado para experiência e interface do usuário
Abordagem organizacional na qual decisões são tomadas com base em dados e análises, em vez de intuições, percepções ou experiências pessoais. Uma organização com uma cultura data-driven valoriza e utiliza informações e métricas para orientar estratégias, operações e avaliações de desempenho.
Itens com melhor e pior avaliação em cada dimensão
4,7
Preocupação sobre dados, atendimento à LGPD e mitigação de riscos relacionados à transformação digital
3,4
Senso de urgência para a formação e contratação de novas competências digitais
A estratégia tecnológica deve definir as prioridades para a arquitetura tecnológica da empresa, estabelecendo prioridades que suportem a estratégia do negócio e buscando suportar movimentos incrementais ou disruptivos.
Itens com melhor e pior avaliação em cada dimensão
3,7
Desenvolvimento de alianças estratégicas para impulsionar a transformação digital
3,6
Percepção do desenvolvimento de uma estratégia com foco em novas tecnologias e modelos de negócio digitais
Integrar a inteligência artificial em diversos processos, sistemas, produtos e serviços pode elevar significativamente a eficiência operacional e estratégica da organização.
Itens com melhor e pior avaliação em cada dimensão
2,7
Uso de IA em projetos estratégicos
2,0
Agenda prioritária de treinamento de hardware com foco em projetos de IA
É importante concentrar esforços na coleta e análise de dados de clientes provenientes de diferentes canais, como mídias sociais, para desenvolver estratégias personalizadas que melhorem a experiência do cliente.
Itens com melhor e pior avaliação em cada dimensão
3,8
Realização de captura e tratamento de dados de clientes em ambientes comerciais
2,4
Existência de projetos de gamificação para captura e tratamento de dados de clientes
Explorar inovações que estão na fronteira tecnológica, inclusive em áreas como nanotecnologia, blockchain, 3D e robótica e cloud computing pode revolucionar setores inteiros e impulsionar avanços significativos, ultrapassando os limites do conhecimento atual.
Itens com melhor e pior avaliação em cada dimensão
3,7
Existência de projetos em andamento para o uso de contratos digitais
1,7
Existência de projetos em andamento para o uso de tecnologia de metaverso
“Quando começamos a trabalhar na metodologia do índice, ficou claro que muitas organizações ainda precisam esclarecer o que é transformação digital. Algumas a veem apenas como produtos de tecnologia, o que revela a necessidade de ampliar essa discussão no mercado. Com o ITDBr, podemos ajudar as organizações a entender onde elas estão posicionadas nessa jornada de transformação e o que precisam fazer para avançar.”
Quase metade dos participantes do estudo faturam acima de R$ 1 bilhão por ano.
Empresas de grande porte incorporam de forma mais abrangente a agenda de transformação digital em suas operações cotidianas, enquanto as menores tendem a adotar ações e soluções pontuais. Independentemente do tamanho, todas demonstram espaço significativo para melhorias em sua trajetória de digitização.
Respondentes na administração executiva das empresas participantes correspondem a 58% do total. Outros 6% estão no conselho de administração.
“Muitas organizações têm vinculado a agenda da transformação digital somente aos avanços de tecnologias modernas. É preciso entender claramente qual é o problema do negócio, a disponibilidade para investimentos, a qualificação das equipes e o perfil do diretor digital. Mais importante ainda é criar uma disciplina para estabelecer processos digitais, alinhados com a alta liderança, demandas de clientes e novas habilidades das pessoas. A criação do índice da FDC com a PwC tem este objetivo, isto é, trazer o devido entendimento para o mercado brasileiro sobre o que realmente é e não é digital, além de um hype usualmente propagado no mercado nacional.”
O segmento de Serviços financeiros é o mais avançado em relação à transformação digital, com índices acima de 4 em sete das dez dimensões analisadas. Em seguida, o setor de TI teve resultados acima de 4 em cinco das dez dimensões, mas apresentou um resultado fraco no quesito fronteira tecnológica – de exploração de inovações em áreas com potencial transformador. O segmento de Energia obteve o índice mais elevado entre todos os setores em uma dimensão específica: 5,1 para estratégia tecnológica.
Fatores internos e externos que afetam a jornada de transformação digital das empresas brasileiras.
Para dois terços dos respondentes, visão estratégica é o termo que melhor resume a compreensão que eles têm da transformação digital nas organizações. O resultado mostra que o processo de digitização vai além do nível operacional e de curto prazo.
A cultura representa o principal obstáculo para o progresso na agenda de transformação digital. Os respondentes também indicaram a existência de um baixo senso de urgência para a formação e contratação de competências digitais. Além disso, o ambiente para experimentação e agilidade tem avaliação baixa.
As organizações ainda estão mais voltadas aos impactos imediatos ou de curto prazo da digitização e menos à transformação estratégica e cultural, processos que exigem mais tempo, mas são cruciais para a competitividade e a sustentabilidade do negócio.
O backoffice é o principal alvo da transformação digital nas empresas. Muitas destacaram a adoção de processos digitais e automação (93%) e a configuração de aplicativos e sistemas (61%). Essas mudanças incluem a incorporação de RPAs, ERPs, ferramentas digitais e a integração entre sistemas.
“Esse descompasso pode resultar em transformações que não atendam plenamente às necessidades dos clientes, deixando de capturar oportunidades provenientes de novas possibilidades de interação, novos canais e tecnologias inovadoras. É imprescindível um alinhamento preciso entre as tecnologias digitais e as novas prioridades e comportamentos dos clientes, a fim de criar experiências personalizadas em escala, para fortalecer relacionamentos cliente-marca e capturar novos valores nos negócios.”
“Ainda que a adoção de tecnologias digitais, como inteligência artificial, e a criação de novos produtos e serviços sejam aspectos importantes para a transformação digital, os líderes precisam garantir que todas as iniciativas estejam conectadas à estratégia da companhia e possuam a governança adequada para sua execução. Caso contrário, esses esforços acabam se tornando projetos isolados, não geram os resultados esperados, e perdem espaço na agenda dos executivos."
Embora encarem a estratégia de transformação digital como fundamental, as empresas ainda não priorizam a transformação integral do negócio para um modelo plenamente digital. Apenas 7% dos participantes indicaram mudanças abrangentes em sua estratégia, incluindo o redesenho do núcleo do negócio e a implementação faseada em todas as áreas.
A maturidade da governança digital é baixa nas organizações: somente 1% dos respondentes mencionou iniciativas concretas de implementação de governança digital. Além disso, poucas empresas estão incorporando práticas de gestão de riscos (1%) ou realizando avaliações regulares de maturidade em relação à transformação digital.
A cibersegurança também não ocupa posição de destaque nesse cenário: somente 3% relataram iniciativas robustas, como análise preditiva de fraudes e reforço na segurança dos dados. Embora haja uma preocupação com a conformidade a Lei Geral de Proteção de Dados (LGPD), a ausência de práticas sólidas de gestão de riscos e cibersegurança enfraquece a proteção dos dados pessoais.
Sócia líder de Transformação Digital & Inteligência Artificial, PwC Brasil
Tel: 4004 8000