Riscos são inevitáveis. A forma como uma empresa os assume e mitiga para crescer e prosperar é que diferencia os líderes.
No atual cenário global e interconectado, o risco de fraudes e crimes econômicos é um desafio persistente. As pressões geopolíticas estão aumentando os riscos relacionados a sanções e controles de exportação. A exposição a suborno e corrupção tem aumentado à medida que multinacionais entram em novos mercados em busca de crescimento.
Há um escrutínio público e regulatório cada vez maior em relação ao uso de trabalho análogo ao escravo e outras responsabilidades ESG (Environmental, Social and Governance, na sigla em inglês) – não apenas nas empresas em si, mas em toda a cadeia de suprimentos que as sustenta.
Além disso, à medida que o mercado de fusões e aquisições se fortalece, quem compra pode estar exposto a eventuais passivos associados a atos ilegais encobertos nos novos ativos. Em resumo, o risco de fraudes e crimes econômicos está mais complexo do que nunca – e proteger e criar valor são uma tarefa ainda mais desafiadora
Em paralelo, em todo o mundo, governos estão sinalizando expectativas crescentes de que as empresas façam a sua parte para prevenir fraudes e crimes econômicos e sejam totalmente transparentes sobre suas consequências. O enforcement regulatório e a cooperação transnacional entre as agências de aplicação da lei estão aumentando em um esforço de combater criminosos e o impacto devastador de suas ações sobre indivíduos, empresas e economias.
Neste relatório, compartilhamos os destaques do cenário regulatório e de aplicação da lei no mundo, além de mostrar onde as empresas estão posicionando seus esforços para aprimorar a gestão de riscos. Apresentamos ainda as perspectivas de líderes do setor sobre as etapas críticas para estruturação de programas de compliance que apoiem os negócios na preservação da confiança e construção da resiliência, contribuindo para a segurança necessária que levará à transformação, ao investimento e ao crescimento.
“Estamos vivendo em uma era de múltiplos riscos impulsionados pela disrupção tecnológica, pelos conflitos geopolíticos, pela instabilidade econômica e pelas demandas ESG. São desafios que podem se tornar oportunidades, dependendo do seu apetite ao risco. O que está em questão aqui é a saúde da sua gestão de riscos e do seu compliance. Por outro lado, a formação de equipes com as competências corretas pode garantir as bases de dados e os recursos tecnológicos necessários para gerar insights mais precisos e tomadas de decisão mais assertivas.”
Marcos Panassol,sócio e líder de Risk Services – Forensics da PwC BrasilUma das formas mais antigas de fraude, aquela que acontece em contratos de compra, é ainda muito comum. Ela preocupa tanto pequenas empresas quanto multinacionais, independentemente da região ou setor da indústria.
Nossa pesquisa revela que a fraude em procurement, em particular, está entre os três crimes econômicos mais disruptivos enfrentados pelas organizações em todo o mundo nos últimos 24 meses, atrás do crime cibernético e da corrupção.
Embora haja dados em abundância para apoiar esforços de diligência em relação a terceiros e ainda que os sistemas de planejamento de recursos empresariais reforcem boas práticas nos processos de compra, a tecnologia não é uma força que vem apenas para o bem. Nas mãos de criminosos, ela também possibilita esforços sofisticados para perpetrar fraudes em procurement.
Em todo o mundo, governos sinalizam expectativas crescentes de que os programas de compliance corporativos precisam se tornar mais sofisticados. Autoridades judiciais e reguladores têm elevado as exigências para a gestão de riscos de terceiros, assim como para o uso de análises de dados para apoiar os esforços de compliance e investigação.
Incentivos ou proteções novas ou revisadas recentemente para lidar com whistleblowers em diversos países têm aumentado a pressão para que as empresas descubram e reajam rapidamente a alegações de má conduta, independentemente de o caso acontecer dentro da companhia ou em um fornecedor. Decidir se a denúncia deve ser feita, e para quem, continua sendo um desafio.
Nossa pesquisa aponta ainda que 81% dos executivos entrevistados acreditam que os esforços governamentais para aplicar leis anticorrupção estão se tornando mais robustos ou ao menos permanecendo estáveis nos países onde operam – e esse percentual chega a 92% para companhias sediadas na América do Norte.
No Brasil, são mais de 70%. No total, 37% acreditam que esses esforços estão se tornando mais robustos e 35% entendem que está tudo igual. Chama a atenção, entretanto, a expressiva parcela (27%) que avalia que as ações de combate à corrupção, por parte do governo, estão perdendo força. O que pode ser um alerta para os negócios.
Como os esforços do governo para fazer cumprir as leis anticorrupção estão mudando no país/países em que você opera?
Como terceiros estão envolvidos na maioria dos principais incidentes de suborno ou corrupção, a importância de monitorá-los continuamente – e fazer a diligência devida em novos fornecedores de alto risco – não pode ser subestimada.
Entre os componentes de um programa eficaz de compliance e anticorrupção de terceiros, o risk scoring, o monitoramento e as auditorias são elementos críticos.
Um escrutínio público cada vez maior e um ambiente regulatório em rápida evolução estão impondo uma pressão crescente para que as empresas identifiquem e reduzam os riscos associados ao trabalho análogo ao escravo e a outros abusos em relação aos direitos humanos em suas cadeias de suprimento.
Muitas das regulamentações novas e emergentes na União Europeia (UE) estão exigindo mapeamento da cadeia de suprimentos e avaliações de risco relacionadas a direitos humanos.
Mais de um em cada três executivos (34%), no mundo, acredita que a avaliação dos riscos do trabalho análogo ao escravo em suas cadeias de suprimentos é uma prioridade – e quase 50% das empresas que estão na Europa Ocidental já fizeram esse tipo de avaliação ou planejam fazer no próximo ano.
No entanto, a preocupação das empresas brasileiras em relação a esse tema é menor. Somente 27% apontaram que uma avaliação dos riscos do trabalho análogo ao escravo já teria sido concluída, estaria em andamento ou poderia ocorrer dentro de um ano. Por outro lado, 35% declararam que essa não é uma prioridade para a empresa. Globalmente, 26% pensam da mesma forma.
A avaliação dos riscos do trabalho análogo ao escravo é prioridade ou não para a sua empresa?
Sua organização mapeou sua cadeia de suprimentos?
Questões geopolíticas – como o conflito entre Rússia e Ucrânia, as tensões entre China e Estados Unidos e as incertezas no Oriente Médio – dão origem ao ambiente regulatório de sanções e controles de exportação em que empresas de todo o mundo têm de operar. O governo americano, com seus departamentos de Justiça, Tesouro e Comércio, está impulsionando muitos desses desenvolvimentos, ao mesmo tempo que o alinhamento de outros países com essas políticas está aumentando. As multinacionais, por sua vez, independentemente de apoiarem ou não essas prioridades políticas, têm pouca escolha a não ser seguir as mudanças legislativas e regulatórias.
Nossa pesquisa sugere que a comunidade empresarial está de fato prestando atenção a esses desenvolvimentos. Globalmente, 59% dos executivos entrevistados concordam que os controles de exportação se tornaram mais complexos nos últimos dois anos. No Brasil, 61% fizeram a mesma avaliação. Esse percentual vai a 69% para empresas com mais de US$ 5 bilhões em receitas anuais e em organizações norte-americanas.
Até que ponto você concorda ou discorda das seguintes afirmações:
A gestão de riscos associados a controles de exportação é uma prioridade em nossa organização.
Nossa empresa tem um processo robusto de avaliação de riscos de controles de exportação, inclusive com participação de equipes jurídicas, de compliance comercial e de operações – tanto na sede quanto em jurisdições de maior risco.
Assim como demonstra uma especial atenção aos riscos associados a controles de exportação, metade das empresas brasileiras apontou que o compliance com regulamentações sobre sanções tem uma prioridade alta. Outros 33% atribuíram ao tema prioridade moderada.
No total, 65% dos respondentes da pesquisa consideram que a possibilidade de envolvimento de terceiros em atividades ilícitas representa um dos dois maiores riscos de sanções. No caso do Brasil, a percepção na liderança ainda é mais evidente, já que 71% enxergam riscos em terceiros como fornecedores, distribuidores e clientes.
A complexidade não precisa ser sua adversária. Assuma riscos de forma inteligente e construa ainda mais confiança no compliance. Aborde estas questões com sua equipe antes de receber questionamentos do conselho de administração ou dos reguladores:
A Pesquisa Global de Crimes Econômicos de 2024 da PwC é a mais recente de uma série de mais de 20 anos. Para esse estudo, realizado entre janeiro e março de 2024, a PwC entrevistou quase 2.500 empresas em 63 países. Dois terços dos respondentes eram executivos C-Level – incluindo 450 diretores de Auditoria, chief compliance officers e diretores jurídicos – e 40% atuavam em empresas com receitas superiores a US$ 1 bilhão.
Foram conduzidas ainda mais de 45 entrevistas com executivos sêniores de grandes corporações sobre suas melhores práticas. Essa ampla investigação proporcionou um olhar único sobre como os conselhos de administração e as lideranças empresariais estão lidando com os riscos de crimes econômicos que as empresas enfrentam diariamente.
Sócio e líder de Risk Services – Forensics, PwC Brasil
Tel: +55 (11) 99673 2787