Os líderes empresariais em todo o mundo estão priorizando a transformação dos negócios. Em muitos casos, porém, enquanto os talentos se mostram prontos para uma reinvenção, a transformação cultural dá sinais opostos. Isso pode explicar por que os profissionais estão hoje mais inclinados a deixar seus empregos do que no ano passado, quando todos acreditavam que o fenômeno da “grande demissão” tinha atingido seu auge.
Realizada em 46 países e territórios e com quase 54 mil entrevistados, a Pesquisa Global Hopes and Fears da PwC deste ano analisa uma força de trabalho que, no mundo e no Brasil, está ávida por adquirir habilidades digitais, adotar a inteligência artificial no dia a dia e enfrentar novos desafios de carreira.
Nesse ambiente, os entrevistados se mostram cada vez mais inquietos: 25% dos brasileiros (26% no mundo) afirmam que planejam deixar seu emprego nos próximos 12 meses, um aumento em relação aos 19% do ano passado, tanto no recorte brasileiro quanto no global.
Os CEOs e outros executivos estão diante de um desafio: eles precisam reinventar a organização para sobreviver, mas sem o apoio e a energia de todas as pessoas, seus esforços serão em vão.
28% dos respondentes no Brasil dizem que as empresas em que atuam não serão economicamente viáveis em dez anos se mantiverem o rumo atual – valor abaixo do percentual de 33% dos CEOs brasileiros que disseram o mesmo no início de 2023 na 26ª CEO Survey da PwC. No mundo, essa relação é de 33% de profissionais para 39% de CEOs. Na média global, os profissionais da geração Z (com 18 a 26 anos) são os mais pessimistas: 49% no mundo e 47% no Brasil dizem que suas empresas não sobreviverão a mais uma década sem mudanças.
Mesmo em um cenário de recessão e aumento do desemprego em algumas regiões, 25% dos brasileiros (26% no mundo) afirmam que tendem a trocar de emprego nos próximos 12 meses (em 2022, o percentual era de 19% no Brasil e no mundo). Na média global, esse percentual é ainda maior entre os profissionais mais jovens – 35% da geração Z e 31% da geração Y (27 a 42 anos) planejam mudar de emprego.
21% dos profissionais no Brasil (17% no mundo) estão com dificuldades para pagar suas contas todos os meses e 39% (42% globalmente) dizem que, depois de arcar com as despesas, têm pouco ou nada sobrando (um aumento em relação aos 37% de 2022 no Brasil e no mundo). Já 27% dos brasileiros (mais do que a média global de 21%) têm um emprego extra. Esse percentual aumenta nas gerações mais novas (30% da geração Z).
68% dos brasileiros (53% no mundo) dizem que seus empregos requerem treinamento especializado. O percentual se manteve no Brasil, mas aumentou no mundo: a média global foi de 49% no ano passado. Globalmente, os profissionais que não precisam de especialização para exercer sua função são os que enfrentam maiores dificuldades financeiras. Eles também têm menos certeza sobre como suas competências evoluirão.
Apesar da perspectiva de perda de empregos causada pela IA, os entrevistados mencionam com mais frequência os impactos positivos do que os negativos. O sentimento mais comum, expresso por 43% dos participantes no Brasil e 31% no mundo, é que a IA ajudará a ampliar a produtividade/eficiência no trabalho.
Menos da metade dos participantes da nossa pesquisa (38% no Brasil e 36% no mundo) concordam plena ou moderadamente que as habilidades necessárias para ter sucesso em suas carreiras mudarão significativamente nos próximos cinco anos.
Por outro lado, 54% no Brasil (43% no mundo) reconhecem que o desenvolvimento de novas habilidades é importante.
Pergunta: em relação à sua função atual, até que ponto você concorda ou discorda das seguintes afirmações?
Em relação às soft skills, os participantes da pesquisa no Brasil apresentam uma visão mais consciente da importância dessas habilidades do que a média dos profissionais no mundo.
Pergunta: qual será a importância das seguintes habilidades para sua carreira nos próximos cinco anos? (mostrando apenas respostas “muito importante” e “extremamente importante”)
A discrepância entre aqueles que têm e não têm competências especializadas é um problema crescente, aumentando o risco de desigualdade. Quem demorar a priorizar e aprender novas habilidades terá dificuldade para se adaptar.
Além disso, o aumento na lacuna de competências prejudicará a produtividade e a inovação nas empresas. Para CEOs e outros executivos, o caminho a seguir exige envolver – e inspirar – suas pessoas.
Toda empresa e sua liderança devem ser capazes de estabelecer uma conexão direta e comunicação clara sobre quais são os resultados que querem alcançar, inclusive sua transformação, a fim de aproveitar o potencial de todos os envolvidos e evitar surpresas.
Os executivos podem ajudar a criar um senso de urgência em torno do desenvolvimento de competências, adotando uma comunicação mais clara e transparente. Mas eles não podem esquecer da inspiração.
As empresas tendem a se concentrar mais em qualificações técnicas, formais e históricos de emprego. O resultado? Elas podem não estar aproveitando ao máximo as habilidades que as pessoas já têm. Nossa pesquisa sugere que as empresas poderiam fazer mais para compreender as habilidades que já existem em suas equipes.
34%
34%
31%
Líderes bem-sucedidos reconhecem que as pessoas são a melhor fonte de energia, ideias e inovação na empresa. No entanto, nossa pesquisa sugere que muitas organizações desencorajam as pessoas de experimentar, debater ideias ou discordar do status quo – atributos essenciais para a inovação e reinvenção corporativa. E os CEOs não fazem ideia do tamanho do problema.
Por exemplo, apenas 33% dos brasileiros entrevistados em nossa pesquisa (35% no mundo) afirmam que seu gerente tolera falhas em pequena escala. Enquanto 40% (33% no mundo) dizem que o gerente incentiva a discordância e o debate – percentuais muito menores do que os relatados pelos CEOs na 26ª CEO Survey da PwC.
Pergunta: para cada uma das afirmações abaixo, indique com que frequência elas ocorrem em sua empresa (mostrando apenas respostas “muitas vezes” e “geralmente”)
67%
59%
67%
65%
61%
Se você cresceu em uma era de expectativas e estruturas de comando e controle claras, incentivar sua equipe a correr riscos e abordar problemas de maneiras não convencionais pode não ser natural para você. Comece a criar essas condições, esclarecendo a diferença entre pequenas falhas, que são naturais em qualquer projeto, e grandes falhas, que podem ser evitadas se os líderes estabelecerem as medidas de proteção adequadas.
Fazer uma avaliação da sua cultura corporativa ajudará a esclarecer o que a torna única, evidenciando os traços que as pessoas usam para descrevê-la e os comportamentos que adotam normalmente. No entanto, é importante empregar estratégias e técnicas diferentes. Acompanhar as redes sociais e os sites de avaliação voltados aos profissionais pode revelar problemas culturais que as pessoas não estão compartilhando diretamente com você.
Os profissionais no Brasil e no mundo estão sentindo os impactos da incerteza econômica e da alta inflação. A proporção dos que dizem ter dinheiro sobrando no fim do mês caiu para 37% no Brasil, em comparação com 45% em 2022. No mundo, a queda foi de 47% para 38%. A parcela dos que enfrentam dificuldades para pagar suas contas todos os meses, ou não conseguem pagá-las na maioria das vezes, aumentou de 16% para 21% (12% para 17% no mundo).
Pergunta: qual das seguintes opções melhor descreve sua situação financeira atual?
Uma pesquisa recente da PwC sobre o bem-estar financeiro dos profissionais mostrou que pressões econômicas, além de prejudicarem o bem-estar emocional e físico das pessoas, afetam negativamente sua produtividade e motivação. Esses efeitos prejudiciais podem se agravar quando os profissionais assumem um segundo emprego, conforme mostram os dados globais da nossa pesquisa.
Pergunta: quantos empregos você tem atualmente?
A pressão financeira e a necessidade de ganhar mais certamente são fatores que aumentam a disposição dos entrevistados de buscar um novo emprego. Mesmo em um cenário de incerteza econômica, uma porcentagem maior de profissionais planeja mudar de emprego nos próximos 12 meses, em comparação com o ano passado (25% no Brasil e 26% no mundo, e 19% em ambos em 2022).
Embora muitas pessoas que têm mais de um emprego mencionem a oportunidade de aprender novas competências (35% no Brasil e 36% no mundo) como um motivo, quase o dobro menciona a necessidade de ganhar mais (68% no Brasil e 69% no mundo) como um fator decisivo.
Adote pacotes de benefícios que possam ser personalizados de acordo com as necessidades individuais das pessoas. Isso traz mais valor e segurança, além de gerenciar custos com maior eficiência nas organizações.
Estude criar programas de apoio aos profissionais que ofereçam aconselhamento confidencial, com orientação sobre finanças e dívidas. Deixe claro para as pessoas que é permitido falar sobre esses problemas e pedir ajuda, se for preciso.
A inteligência artificial (IA) gera empolgação, mas também preocupação. No ambiente de trabalho, a chegada de aplicativos capazes de gerar conteúdo original, como o ChatGPT, desperta a imaginação e conquista uma base de centenas de milhões de usuários ao redor do mundo. Em paralelo, surgem os temores em relação a essa tendência. No entanto, a maioria dos participantes da nossa pesquisa se mostra otimista com a IA. Eles citam os impactos positivos da tecnologia com mais frequência do que os negativos.
Os respondentes que receberam treinamento especializado têm mais probabilidade de perceber que a IA impactará suas carreiras, tanto de maneira positiva quanto negativa. Os demais profissionais, no entanto, têm menor percepção sobre os aspectos da tecnologia e tendem a fazer parte do grupo de 22% dos participantes globais que não acreditam que haverá impactos da IA em seus empregos.
Esse dado é mais uma evidência da necessidade de priorizar o desenvolvimento das habilidades humanas em toda a força de trabalho, especialmente em relação a empregos que não exigem competências especializadas dos profissionais. As habilidades humanas não podem ser substituídas por um algoritmo e elas ajudam as pessoas a se adaptar a qualquer nova tecnologia que surja.
Crie e comunique uma narrativa forte que aborde o que o futuro do trabalho significa para a sua empresa e suas pessoas. Ser transparente e se orientar por um propósito em relação aos planos e às decisões também pode ajudar os profissionais que estão cautelosos com a IA a se sentirem mais confortáveis em experimentá-la e até mesmo adotá-la em seu trabalho.
É provável que os profissionais da sua empresa já estejam usando a IA fora do trabalho. Aproveite essa energia e os convide para sessões de brainstorming sobre como a IA poderia melhorar suas atividades e/ou áreas. Por estarem mais familiarizados com o cotidiano do trabalho, eles terão insights valiosos sobre onde a IA pode ser mais eficaz.