Na terceira edição do estudo ESG no Ibovespa, analisamos as divulgações relacionadas aos temas ambientais, sociais e de governança (ESG) das 82 empresas que compunham o Ibovespa no quadrimestre de maio a agosto de 2023. Desse total, 75 apresentaram algum tipo de relatório relacionado a aspectos ESG – a maior proporção desde que iniciamos a pesquisa.
O Relatório de Sustentabilidade foi o mais utilizado pelas empresas, seguido pelo Relatório Anual e pelo Relatório/Relato Integrado. Em relação aos frameworks citados, mais uma vez The Global Reporting Initiative (GRI) é unanimidade entre os relatórios analisados que indicaram utilizar alguma estrutura conceitual existente.
Pelo menos nove índices de mercado relacionados a temas ESG foram citados nos relatórios. Os destaques foram os Índice de Sustentabilidade Empresarial da B3 (ISE B3) e o Índice Carbono Eficiente, também da B3 (ICO2), ambos com crescente participação desde o início do período pesquisado.
Todas as empresas que declararam utilizar o framework da GRI divulgaram a matriz de materialidade e/ou temas materiais e reforçaram a consistência na utilização da estrutura. Mas apenas 20% divulgaram a periodicidade de revisão dos temas.
Trabalho Decente e Crescimento Econômico (ODS 8) e Ação contra a Mudança Global do Clima (ODS 13) foram os ODS mais citados por cerca de 80% das empresas que informaram aderir ao Pacto Global da ONU. Essas citações demonstram uma conexão direta com os principais temas materiais apontados pelas empresas e apresentam certa consistência com os objetivos listados no ano anterior.
Poucas empresas afirmam em seus relatórios que já terem alcançado a neutralidade de carbono. Esse resultado demonstra que as empresas ainda estão no início da jornada de descarbonização.
Mais da metade dos relatórios analisados não apresentou um compromisso real para a conversão das empresas ao padrão carbono neutro ou Net Zero. Das organizações que relataram algum compromisso, grande parte se comprometeu com a neutralização das emissões ou o atingimento das metas Net Zero em 2050.
Os dados trazidos sobre as estatísticas relacionadas à diversidade têm avançado, conforme observado na trajetória dos anos anteriores. Além de divulgar dados relacionados à presença de homens e mulheres nessas organizações, nota-se maior divulgação, com o passar dos anos, de informações demográficas sobre os marcadores de raça e orientação sexual e/ou identidade de gênero.
Como na edição anterior, acompanhamos a divulgação de estatísticas nos relatórios sobre a presença de mulheres e pessoas negras na liderança e no conselho de administração. Ainda se percebe uma omissão em relação à divulgação da presença de pessoas negras nos cargos de alta liderança e no conselho de administração. Das poucas empresas que divulgam essas informações, a presença de pessoas negras na alta liderança é de 33%, no máximo. No conselho de administração, são 18%.
Os riscos climáticos foram os mais citados pelas empresas que relataram riscos relacionados a ESG. É importante destacar que 80% das empresas informam que os riscos socioambientais já estão incorporados à matriz de riscos estratégicos e, portanto, integram o programa de riscos corporativos.
No entanto, ainda existe uma preocupação qualitativa sobre o nível de identificação dos riscos socioambientais e em relação às metodologias utilizadas para determinar a probabilidade e magnitude deles, especialmente os climáticos.
Ao longo das três edições do estudo, a transparência é percebida na divulgação de casos de corrupção, de acordo com as normas dispostas na GRI. É nítida também a evolução na divulgação de estatísticas nos canais de denúncia, passando de 57% em nossa primeira edição, para quase 80%.
A evolução da busca de validação das informações não financeiras ao longo das três edições também é destaque. Nesta edição, o percentual chegou a 83%. Um destaque ainda maior se refere à evolução da asseguração por auditoria independente: 71% dos relatórios submetidos a algum tipo de verificação foram assegurados por auditoria independente, o que reforça a confiança e a credibilidade da auditoria.
Os relatórios foram assegurados/verificados?
Também avaliamos a transparência na divulgação relacionada a tributos. Cada vez mais, os impostos são considerados um poderoso indicador para a sociedade avaliar o impacto de uma empresa e o reflexo de seus valores e propósitos mais amplos.
No caso das empresas brasileiras que analisamos, poderiam ser divulgadas mais informações para auxiliar o tomador de decisão a conhecer minimamente a estratégia e contribuição da atividade produtiva pelos relatórios disponíveis.
Muitas vezes, as empresas se limitam a reproduzir a demonstração do valor adicionado (DVA), de divulgação obrigatória nas demonstrações financeiras (DFs), sem explicitar o contexto ou aprofundar o tema.
A empresa divulga sua estratégia tributária?
Observamos uma preocupação crescente com temas climáticos. Não notamos, porém, uma preocupação maior em divulgar metas de redução no período, e os compromissos com a neutralização de carbono concentraram-se, em sua maioria, no ano de 2050.
Existe uma maturidade maior na busca pelo aumento da credibilidade das informações relatadas, por meio da verificação de terceiros, sejam eles empresas de verificação ou auditorias independentes. Mesmo assim, alguns relatórios que optaram por utilizar a estrutura conceitual do relato integrado não foram assegurados e estão em desconformidade com a resolução da Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
Houve um avanço na divulgação de estatísticas sobre diversidade, apesar de ainda estar longe do ideal: a média de mulheres e pessoas negras na alta liderança das empresas e nos conselhos de administração é baixa, o que acende uma luz de alerta para as providências que devem ser tomadas para atender aos critérios do manual de emissores da B3 a partir de 2025.
Uma novidade é a análise da transparência em relação aos impostos, mas percebemos que ainda há muito a ser feito. Existe pouca informação sobre governança, responsabilidade social e estratégia tributária efetiva.