Para saber como as empresas brasileiras de capital aberto estão abordando questões socioambientais e de governança em seus relatórios anuais, analisamos na segunda edição do nosso estudo ESG no Ibovespa as divulgações de 88 empresas que compunham o índice de maio a agosto de 2022.
No estudo deste ano, observamos, mais uma vez, que a vasta maioria das empresas integrantes do Ibovespa no período analisado divulgou algum tipo de relatório de informações não financeiras. Vimos também que mais empresas optaram por divulgar seu relatório utilizando a estrutura conceitual do relato integrado.
No geral, houve um avanço de 2020 para 2021 nas divulgações e na asseguração das informações contidas nos relatórios, mas é preciso ficar atento para evitar que a divulgação seja meramente uma carta de boas intenções. Metas e ações devem acompanhar os relatórios de sustentabilidade das empresas, e as recém-chegadas no mercado de capitais já deveriam demonstrar maior alinhamento com as agendas ESG.
A participação de empresas em índices de sustentabilidade e/ou relacionados a ESG aumentou consideravelmente. O destaque são índices criados a partir de 2020 e que, por isso, não foram divulgados na pesquisa anterior. São eles:
ICDPR70 – Índice CDP Brasil de Resiliência Climática, lançado em 2020;
S&P/B3 Brasil ESG, criado em 31 de agosto de 2020; e
IGPTW/B3 – Great Place to Work, lançado em 2022.
Segmento especial de listagem relacionado a ESG
Novamente, os temas materiais mais citados pelas empresas referem-se a condições de trabalho e temas de ética e integridade. Houve aumentos discretos nos temas de mudanças climáticas e diversidade e inclusão de 2020 para 2021. Curiosamente, porém, ocorreu um decréscimo significativo nas citações do tema ética e integridade, que tem uma importância vital nos pilares ambiental e social.
Temas materiais citados no relatório
Em relação ao estudo anterior, nota-se um avanço substancial na divulgação dos riscos climáticos. Os relatórios que citam esses riscos passaram de 36% para 51% do total analisado. A mesma tendência de aumento de divulgação é observada em relação aos riscos socioambientais, hídricos e de desastres epidêmicos.
Riscos divulgados
A proporção de relatórios que foram assegurados por auditoria independente cresceu 12 pontos percentuais, chegando a 42%. Paralelamente, caiu o percentual de assegurações que não seguem as normas da auditoria independente. No total, 65% dos relatórios são submetidos a algum tipo de asseguração.
Os relatórios foram submetidos à asseguração ou verificação?
Entre as empresas novatas no mercado de capitais que já conseguiram constar no índice de maior visibilidade da bolsa brasileira, metade ainda não segue as boas práticas de divulgação de seus pares: apenas 50% das empresas que fizeram IPO a partir de 2020 divulgaram relatório com informações sociais, ambientais e de governança.
A maioria das empresas analisadas divulga a emissão de gases causadores do efeito estufa para toda a cadeia de valor, mas apenas 57% se comprometem com metas e prazos para reduzir a emissão desses gases. Das que divulgam, 41% se comprometeram a neutralizar suas emissões para toda a cadeia produtiva (escopos 1, 2 e 3) nos próximos anos.
Os objetivos de desenvolvimento sustentável (ODS) propostos pela ONU são constantemente citados e priorizados nos relatórios, mas é necessário haver um equilíbrio entre os ODS que mais se alinham aos objetivos empresariais com aqueles que melhor representam os anseios e necessidades da sociedade. Também é preciso um esforço maior por parte das empresas para que empreguem de fato seus recursos para alcançar objetivos mais amplos.
A agenda de diversidade e inclusão também merece atenção: as empresas divulgam mais métricas sobre seus colaboradores e participam mais de pactos e fóruns sobre equidade de gênero e raça, mas esses compromissos não se desdobram em uma maior representatividade desses públicos na liderança e no conselho de administração.