A temática ESG (sigla em inglês para ambiental, social e governança) não chega a ser propriamente algo novo para as cooperativas de crédito. Muitos princípios guardam similaridade com os fundamentos que norteiam essas instituições, caracterizadas por uma economia solidária, livre participação econômica dos membros, cooperação interna e atenção aos impactos de suas ações sobre a comunidade.
Há oportunidades significativas para incorporar a pauta ESG na estratégia das cooperativas de crédito atuantes no mercado brasileiro. Isso pressupõe estabelecer compromissos claros, implementar procedimentos específicos, traçar metas, medir resultados com transparência e comunicá-los.
Para avaliar a relevância dos aspectos ESG no segmento, a PwC realizou uma pesquisa com 165 entidades brasileiras do setor no segundo semestre de 2021. Além do resultado da pesquisa, apresentamos no relatório um roteiro de ação para ajudar as cooperativas de crédito a incorporarem boas práticas de ESG no seu dia a dia.
51%
dos dirigentes das cooperativas de crédito avaliam como muito relevante o impacto da incorporação do ESG na estratégia da cooperativa para atrair/reter cooperados
52%
das lideranças afirmam que a cooperativa de crédito em que atuam não tem metas específicas para ESG
O estudo mostrou que a maior parte dos dirigentes das cooperativas de crédito percebem a importância do ESG para o negócio. Entretanto, alguns dados revelados pela pesquisa, como a ausência de metas específicas e formais para ESG em mais da metade das cooperativas pesquisadas, apontam que ainda há uma boa oportunidade para que padrões de referência ambientais, sociais e de governança sejam incorporados por essas entidades.
No total, 74% dos dirigentes das cooperativas de crédito estão muito interessados em assuntos relacionados a ESG e 70% consideraram esses aspectos muito importantes para o segmento. Mais da metade dos entrevistados (51%) avalia que a incorporação de ESG na estratégia da cooperativa é muito relevante para atrair e reter cooperados. A mesma proporção também considera que os cooperados têm uma boa percepção do valor gerado por essa incorporação.
Três quartos das cooperativas expressam publicamente ter compromissos sociais, ambientais e de governança atrelados a sua estratégia corporativa, mas apenas 48% dispõem de metas específicas para ESG.
“O aumento da consciência sobre a iminente materialização dos riscos relacionados às ameaças provocadas pelas mudanças climáticas e a demanda crescente por inclusão e diversidade foram potencializados pela pandemia de covid-19. Como consequência disso, as cooperativas de crédito têm sido cada vez mais demandadas pelos seus cooperados e demais partes interessadas a se posicionar de forma concreta, rápida e transparente quanto a sua atuação em relação aos pilares ESG.”
A quase totalidade das cooperativas de crédito (98%) conta com políticas e procedimentos para avaliar riscos socioambientais na etapa de análise de crédito. Essa é uma exigência do Banco Central prevista nas Resoluções CMN nº 4.327/14 e CMN nº 4.606/2017.
No contexto de novas exigências do Banco Central relativas à Política de Responsabilidade Social, Ambiental e Climática (PRSAC) e a regras e restrições para acesso ao crédito rural – segmento em que as cooperativas de crédito têm importante e expressiva participação de mercado – um dado da pesquisa chama atenção. A proporção de cooperativas de crédito que têm mecanismos formais para monitorar não só suas práticas socioambientais, mas também as dos seus cooperados, é de 72%, bem menos que os 98% referentes às cooperativas que têm políticas e procedimentos para avaliar riscos socioambientais – o que revela um importante espaço para melhorias.
Quanto à aplicação de boas práticas de gestão ambiental, 74% dos entrevistados afirmam que a cooperativa na qual atuam cumpre apenas parcialmente as boas práticas de gestão ambiental em suas operações e espaços físicos, o que indica haver espaço para ampliação. Entre as ações sociais desenvolvidas pelas cooperativas de crédito, a mais comum é a educação financeira para a comunidade local (85%).
Em relação à governança, 80% das cooperativas de crédito dispõem de práticas de gerenciamento de riscos. Entretanto, a proporção de entidades que dispõem de uma política de integridade e anticorrupção estabelecida é de apenas 37%. E somente 35% contam com comitês de supervisão.
“Se a cooperativa de crédito realmente está agindo em prol do ambiente ou da sociedade, temos um resultado positivo para todos os lados. Adotar os pilares ESG na estratégia de negócio pode parecer ser um risco financeiro no curto prazo, mas não adotá-los é um risco concreto de sobrevivência no médio e longo prazos. Quanto mais cedo as empresas se prepararem para enfrentar esse desafio, maiores as chances de sucesso.”