Os negociadores envolvidos em transações de M&A estão acostumados a enfrentar a incerteza, mas a escala e a velocidade da Covid-19 enviaram ondas de choque na economia global e no mercado de fusões e aquisições (M&A) de forma sem precedentes. Todos nos adaptamos aos desafios e às mudanças na forma de viver e trabalhar. As empresas se tornaram, em grande parte, virtuais. As transações também.
Os pacotes de estímulo fiscal fornecidos pelos governos para conter a desaceleração econômica já chegaram a US$ 10 trilhões1 no mundo e impulsionaram fortes movimentos de recuperação em praticamente todos os mercados financeiros.
“A aceleração da economia digital está forçando empresas e negociadores a repensar sua estratégia e impulsionará oportunidades de M&A.”
A maioria das indústrias e regiões está registrando volatilidade menor nos preços das ações hoje do que em março e abril. A tendência de alta dos principais índices sugere que a confiança dos investidores está voltando. Vários índices importantes estão apenas ligeiramente abaixo dos níveis pré-Covid-19, enquanto outros ultrapassaram os recordes anteriores. Uma comparação do retorno total para o acionista por indústria do S&P 500, FTSE 100 e da Bolsa de Valores de Xangai nos primeiros seis meses de 2020 mostra como o desempenho tem variado amplamente, tanto por região quanto por indústria.
O Nasdaq Composite caiu cerca de 25% entre 1º de janeiro de 2020 e seu nível mais baixo, em 23 de março de 2020. No entanto, demonstrando a resiliência do setor de tecnologia, o índice passou a registrar sucessivas máximas históricas, terminando o mês de junho 12% acima de onde começou o ano2. Embora a recuperação nas avaliações de empresas possa prejudicar algumas operações de fechamento de capital, essa confiança é um bom presságio para outros tipos de transação.
Inicialmente, esperávamos que as empresas de private equity (PE) aproveitassem as avaliações mais baixas para realizar operações de fechamento de capital, mas a rápida recuperação nos mercados de ações fechou essa janela muito rapidamente para a maioria das empresas. Os fundos de PE, com sua munição de US$ 1,5 trilhão3, ainda assim continuam prontos para agir, com foco especial nas muitas empresas cujas ações são negociadas com descontos significativos, apesar da recuperação mais ampla dos índices.
Antes da crise, os fundos de PE e as empresas em seus portfólios aproveitavam uma onda de uma década de volumes crescentes de transações, avaliações e captação de recursos. Essa forte posição pode ser um trunfo nos próximos meses, especialmente para aqueles que agiram com prudência recentemente.
Prevemos que, em todos as indústrias, as empresas de pequeno e médio porte com posições de caixa menos robustas enfrentarão dificuldades após o fim do apoio do governo, o que representará oportunidades para que fundos de PE consolidem e profissionalizem nichos da indústria.
A aparente desconexão entre a situação da economia e os índices financeiros positivos tem levado a questionamentos sobre a sustentabilidade da alta. Nós acreditamos que a atividade de M&A pode conferir credibilidade a essa tendência de longo prazo com avaliações de transações bem fundamentadas em análises estratégicas robustas. Os negociadores precificarão os riscos e as oportunidades de cada indústria, e as transações bem-sucedidas demonstrarão maior confiança no mercado.
As empresas que encaram as fusões e aquisições como parte de um plano estratégico de longo prazo estarão em melhor posição para aproveitar as oportunidades que surgirão neste ambiente desafiador. Além disso, a história mostra que quem se envolve em fusões e aquisições no início de períodos de incerteza econômica tem retornos médios mais elevados do que aqueles que optam por esperar.
Vários indicadores importantes dão sinal verde para um impulso na nova atividade de M&A:
Apesar desses fundamentos sólidos, a volatilidade parece ter vindo para ficar. Os casos atuais de Covid-19 continuam aumentando em muitos países e o medo de uma segunda onda permanece presente. As empresas e os investidores avaliam de perto os impactos para os negócios, mas não está claro qual será o efeito de longo prazo dessa situação nos mercados financeiros e na confiança dos CEOs. Além disso, as próximas eleições nos Estados Unidos e as relações comerciais globais estão lançando mais incerteza sobre o futuro.
Os mercados também continuarão a ser afetados por megatendências globais mais amplas. Já registramos a convergência entre as indústrias, impulsionada por disrupções tecnológicas que mudam a essência de muitos modelos de negócios. As organizações multinacionais também precisarão aprender a navegar em um mundo cada vez mais localizado. Há uma oportunidade definitiva para as empresas aproveitarem o momento e usarem as fusões e aquisições para repensarem e adaptarem sua estratégia de longo prazo.
As empresas precisarão reparar, repensar e reconfigurar seus negócios. O foco inicial foi a recuperação da receita perdida, em resposta a disrupções operacionais e para segurança de empregados e clientes. Na fase de repensar, os líderes executivos estão considerando a alocação estratégica de capital e revisando o que constitui seu core business. Prevemos que as empresas se envolverão em fusões e aquisições com foco na criação de valor, enquanto reconfiguram suas operações e vislumbram o longo prazo.
Os negociadores de sucesso entendem a importância de permanecer fiéis à sua estratégia de longo prazo. A série Criando valor além da transação, da PwC, mostra que 86% das aquisições que geraram valor significativo, segundo os entrevistados, eram parte de uma estratégia de portfólio mais ampla, e não apenas oportunistas.4
O setor de private equity ainda é bastante jovem, embora suficientemente maduro para se lembrar de 2008. Dois aspectos sobre como o setor enfrentou a última desaceleração econômica mostram o que pode gerar valor na crise atual. Comprar na baixa é ótimo, se você puder fazer isso e estiver alinhado com a estratégia. Os investidores com foco na criação de valor tendem a apresentar desempenho superior.
“O gap de valor criado pela Covid-19 significa que uma abordagem de geração de valor de ponta a ponta para M&A nunca foi tão importante.”
Em 2020, a expectativa era que a atividade de M&A diminuísse em relação aos níveis de 2019, principalmente devido à crescente incerteza em torno da economia global, das tensões comerciais entre os EUA e a China e das próximas eleições presidenciais nos EUA. O impacto do coronavírus agravou esse cenário para as novas atividades de M&A: os volumes de transações caíram 13% no primeiro semestre de 2020 em relação ao mesmo período de 2019.
No entanto, já há sinais de que até ao fim de 2020 teremos uma recuperação robusta na atividade de M&A. Os volumes de transações em junho aumentaram em relação aos níveis de abril e maio, com a retomada de muitas transações colocadas em espera durante a crise de Covid-19.
Os valores das transações também caíram durante o primeiro semestre de 2020, mas de forma muito mais acentuada. As tendências variaram amplamente por indústria: no setor aeroespacial e de defesa, a redução de valor foi de quase 90%, enquanto em telecomunicações houve aumento de cerca de 30%. Não surpreende que o número de megatransações tenha caído drasticamente. Ao mesmo tempo, as operações anunciadas no segundo trimestre foram, em geral, menores, mais estratégicas e financiadas com recursos próprios.
Geograficamente, os volumes e valores das transações mostraram mais resiliência na Ásia-Pacífico do que em outras regiões, uma vez que as economias locais foram as primeiras a reabrir após a diminuição das restrições de Covid-19.
“O setor de tecnologia tem sido o mais resiliente, com as transações de tecnologia liderando a tendência, e a aceleração digital impulsionando a convergência entre as indústrias.”
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Uma pesquisa recente da PwC sobre a Covid-19 com mais de 900 CFOs globais mostrou que as fusões e aquisições estarão presentes na estratégia de recuperação das empresas. Um quarto dos entrevistados disse que usaria operações de M&A para reconstruir ou ampliar os fluxos de receita de suas empresas.5
As operações de M&A permanecem posicionadas de forma única para impulsionar rapidamente a transformação. Também prevemos o uso contínuo de fusões e aquisições para inovação e P&D. A digitalização está acelerando as tendências atuais e gerando mais transações intersetoriais envolvendo tecnologia. Esperamos que isso resulte em volumes robustos de investimentos para aquisição de empresas menores.
A estruturação inteligente da transação é fundamental para que as aquisições estratégicas avancem em um ambiente desafiador como o atual. As transações baseadas em troca de ações provavelmente serão usadas para lidar com as incertezas sobre valuation, além de uma forma encontrada pelas empresas para preservar caixa. Os earn-outs representam uma estrutura alternativa para compartilhamento de riscos. Outras questões estruturantes, como investimentos de capital para crescimento, parcerias e alianças, promoverão colaborações que alavancam capacidades e aumentam as oportunidades de crescimento.
A transformação digital assumiu um novo senso de urgência. A sociedade ficou mais concentrada em casa, e a tecnologia necessária para apoiar as formas remotas de trabalho, educação, compras e entretenimento são essenciais. A velocidade de aumento da demanda por esses produtos e serviços favorece uma estratégia de aquisição em detrimento de uma estratégia de desenvolvimento.
A primeira metade de 2020 representou uma disrupção de grandes dimensões na rotina de pessoas e empresas de diversos países e indústrias. Acreditamos que as operações de M&A são um alicerce da recuperação quando as empresas buscam agir rapidamente para reparar, repensar e reconfigurar seus negócios. Os negociadores devem considerar os seguintes aspectos para aumentar o sucesso de suas transações:
Notas:
1 Fonte: Gita Gopinath, “Reopening from the Great Lockdown: Uneven and Uncertain Recovery”, Blog do FMI, 24/6/2020, acessado em 20/7/2020.
2 Fonte: Nasdaq Composite Index, acessado em 20/7/2020
3 Fonte: Preqin Ltd
4 Fonte: Creating value beyond the deal", PwC, acessado em 20/7/2020
5 Fonte: COVID-19 CFO Pulse, 1-11/6/2020. Consulte "COVID-19 CFO Pulse", PwC, acessado em 20/7/2020
6 Fonte: Celine Herweijer e Will Evison, "The environmental opportunity created by COVID-19”, strategy+business, 5/6/2020, acessado em 20/7/2020
Sobre os dados
Baseamos nossos comentários sobre as tendências de M&A em dados fornecidos por fontes reconhecidas pelo setor. Especificamente, os valores e volumes citados nesta publicação são baseados em transações divulgadas oficialmente, excluindo transações não cofirmadas e negadas, conforme informações da Refinitiv em 30 de junho de 2020, e complementadas por informações adicionais da Dealogic e de nossas pesquisas independentes. Este documento inclui dados derivados de dados fornecidos sob licença pela Dealogic. Dealogic mantém e se reserva todos os direitos sobre esses dados licenciados. Alguns ajustes foram feitos nas informações originais para alinhá-las com o mapeamento de indústrias da PwC. Definimos megatransações como transações com valor superior a US$ 5 bilhões.