Tendências globais de fusões e aquisições no setor de energia, serviços de utilidade pública e recursos naturais

Fusões e aquisições continuam sendo uma estratégia fundamental para empresas de mineração e siderurgia que buscam proteger sua vantagem competitiva, acelerar suas transformações e garantir recursos essenciais para o crescimento futuro.

No primeiro semestre de 2024, houve uma atividade de transações robusta e contínua, embora alguns negócios estejam enfrentando atrasos para obter as aprovações regulatórias necessárias e outros estejam paralisados devido à diferença de expectativas de preços entre compradores e vendedores. A seguir, apresentamos nossas expectativas em relação às principais tendências de atividades de M&A na indústria de mineração e siderurgia para o segundo semestre de 2024.

• A consolidação deverá se manter como tendência dominante na atividade de M&A, enquanto as empresas do setor de mineração e metais adotarem essa estratégia para reestruturar seus portfólios de ativos e ajustar suas futuras estratégias de negócios, redirecionando capital para oportunidades de crescimento estratégico.
• As transações envolvendo minerais críticos têm se mostrado robustas e não dão sinais de enfraquecimento, pois as empresas buscam assegurar o abastecimento futuro. A corrida para garantir recursos não se limita a empresas de mineração e a investidores financeiros. Estende-se também aos participantes downstream e a novos tipos de investidores, como fundos soberanos que buscam diversificar seus investimentos com base em fundamentos atraentes.
• Parcerias com entidades de fora do setor de mineração, como governos locais e empresas de tecnologia, provavelmente continuarão atraentes. Esses acordos podem acelerar a transformação, compartilhar riscos e reduzir compromissos de capital, o que é especialmente vantajoso considerando a preocupação de investidores com os custos.
• A sustentabilidade continua a ser um elemento essencial na criação de valor de longo prazo para os stakeholders e para estabelecer uma vantagem competitiva. Sua importância no setor de mineração a tornou um fator fundamental nas decisões de M&A. Em alguns casos, chega a ser até mesmo o principal impulsionador das transações. À medida que os padrões de relatórios de sustentabilidade evoluem, as empresas proativas na implementação de iniciativas de sustentabilidade podem se beneficiar de uma diferenciação de valor maior em comparação com seus pares.

Apesar dos desafios de curto prazo decorrentes de incertezas macroeconômicas e geopolíticas, a atividade de fusões e aquisições no setor de mineração tende a se manter forte no futuro. Um dos fatores centrais é que a mineração está profundamente interligada ao sucesso da maioria das indústrias globais.

O aumento na atividade de M&A na indústria de petróleo e gás durante 2023 continuou no primeiro semestre de 2024, com uma série de fusões corporativas anunciadas na América do Norte e na Europa. Os fatores que impulsionam as atividades de M&A incluem segurança de abastecimento, equilíbrio e diversificação do portfólio de ativos, realização de sinergias e a otimização da eficiência produtiva dos investimentos com base nos preços atuais das commodities.

Após a recente onda de acordos de consolidação, esperamos ver um aumento nas alienações corporativas, já que os novos adquirentes buscam otimizar portfólios, eliminando ativos recém-adquiridos considerados não estratégicos. Por exemplo, ao anunciar sua aquisição da Hess, a Chevron indicou sua intenção de aumentar as vendas de ativos e gerar de US$ 10 bilhões a US$ 15 bilhões em receitas até 2028. Outros adquirentes que participaram de grandes aquisições recentemente podem ainda não ter anunciado suas metas de alienação, mas esperamos que alguns sigam um caminho semelhante ao da Chevron.

A demanda por gás natural liquefeito (GNL) continua a crescer globalmente porque o GNL é estratégico e crítico para a eletrificação e para apoiar os setores industrial e petroquímico. Esperamos ver uma consolidação contínua entre empresas que operam em transporte, armazenamento e refino de GNL. O objetivo é expandir suas capacidades, melhorar o acesso aos mercados e alcançar sinergias e eficiências que só podem ser obtidas por meio da consolidação. Incertezas relacionadas às próximas eleições nos Estados Unidos, além de decisões administrativas recentes para limitar novas autorizações de GNL naquele país, provavelmente restringirão novos projetos greenfield de GNL na América do Norte.

Em todo o mundo, as políticas, as regulamentações e os incentivos governamentais estão direcionando investimentos e melhorando o pool de recursos de capital para que empresas tradicionais de petróleo e gás invistam em energia limpa. São exemplos o IRA, o US Infrastructure Investment and Jobs Act, o European REPowerEU Plan e o European Net-Zero Industry Act. Como resultado, as grandes empresas de petróleo e gás estão direcionando seus investimentos para desenvolver tecnologias de captura, utilização e armazenamento de carbono (CCUS) e tecnologias digitais capazes de facilitar o alcance das metas ambientais. É possível haver um impulso adicional para aproveitar os incentivos dos Estados Unidos antes das eleições americanas de novembro de 2024.

A natureza cíclica do setor de petróleo e gás, combinada com a transição para a energia limpa (que geralmente oferece retornos mais modestos), exige que as empresas equilibrem suas atividades de fusões e aquisições para aproveitar os altos preços da energia até que a demanda por petróleo atinja seu pico nos próximos anos. Ao mesmo tempo, devem garantir resiliência e flexibilidade para se adaptarem à queda gradual na demanda por produtos de petróleo e gás ao longo do tempo.

A seguir, apresentamos as principais tendências previstas para as atividades de M&A no segmento de energia e serviços de utilidade pública no segundo semestre de 2024.

• Atividade de fusões e aquisições de combustíveis renováveis
  O grande crescimento do volume de novos ativos renováveis estimulou a atividade de M&A no setor de energia e serviços de utilidade pública. O IRA desempenhou um papel fundamental ao fornecer incentivos substanciais para investimentos em energia limpa. Isso levou a um aumento considerável de investimentos em projetos de energia renovável, sobretudo solar e eólica, bem como em tecnologias emergentes, como hidrogênio e armazenamento em bateria. A atividade de M&A na Ásia foi impulsionada por grandes plataformas renováveis que fazem negócios com prêmios significativos. Aquisições envolvendo parcerias com empresas internacionais que buscam aproveitar a tecnologia chinesa e expandir sua presença no mercado estão em andamento, paralelamente ao investimento no desenvolvimento de tecnologias limpas.
• Juros elevados motivam vendedores
  As taxas de juros persistentemente altas impactaram de forma negativa o setor de energia e serviços de utilidade pública no primeiro semestre de 2024, apesar da relação inversa que essas taxas geralmente mantêm com fluxos de caixa de obrigações de longa duração. Sem uma perspectiva clara de redução das taxas, o setor enfrenta agora um período de reavaliação.

As taxas de financiamento mais elevadas, combinadas com o aumento dos custos de construção e desenvolvimento, têm levado vários desenvolvedores de projetos de energia renovável com menor capital a monetizar seus ativos ou vender suas plataformas inteiras. Além disso, os prazos de entrega mais longos e os custos associados às filas congestionadas de interconexão à rede elétrica têm intensificado a busca por liquidez por parte desses desenvolvedores.

Enquanto isso, a volatilidade e a desvalorização das ações continuam a incentivar as concessionárias e geradoras listadas em bolsa a reciclar ativos não essenciais para financiar o desenvolvimento de projetos, em vez de emitir ações a um custo de capital considerado mais alto. Os ativos de distribuição e geração de gás, principalmente, responderam por uma parcela importante do valor das transações nos últimos seis meses. Isso é reflexo de decisões motivadas por preocupações ambientais, sociais e de governança (ESG) para alienar esses ativos não essenciais. Os ativos térmicos, que têm um universo de compradores mais limitado, foram reprecificados e proporcionaram retornos maiores para empresas mais sofisticadas e de private equity.

• A diferença de avaliação entre compradores e vendedores persiste
  Vários processos de leilão recentemente fracassados sugerem que ainda existe uma diferença significativa entre as expectativas de avaliação de compradores e vendedores. Isso criou um impasse, resultando em uma iliquidez temporária no setor. Os cortes de juros anunciados pelo Banco Central Europeu em junho podem começar a reduzir essa lacuna de avaliação entre compradores e vendedores e atrair mais ativos ao mercado.
• Impacto da intervenção em preços de fusões e aquisições
  Enquanto isso, preocupações com custos em todo o mundo – devido à inflação, à terceirização de cadeias de suprimentos e a déficits na geração de energia – motivaram esforços de reestruturação em vários mercados de energia. Novos impostos europeus aplicados sobre geradores visam limitar retornos extraordinários e fornecer alívio para os contribuintes. No entanto, uma situação semelhante em Alberta, Canadá, onde se estabeleceu um teto de preço para limitar os lucros dos geradores, acabou paralisando o desenvolvimento na região. Essas ações provavelmente restringirão a atividade de M&A até que suas implicações sejam compreendidas e absorvidas pelo mercado.
• Perspectiva geral de energia e serviços de utilidade pública
  Prevemos que o crescimento tanto de energias renováveis tradicionais quanto de tecnologias limpas continuará a avançar no longo prazo. Isso sustentará uma parcela importante do fluxo de transações de M&A no segundo semestre de 2024 e nos próximos anos. Com juros elevados e vendedores motivados, prevemos ainda que a redução na diferença entre os preços de compra e venda vai acelerar os processos de fusões e aquisições. Por fim, preocupados em viabilizar o acesso dos consumidores a seus serviços, acreditamos que as empresas preservarão capital e reciclarão ativos não essenciais quando necessário, sempre com foco em ativos relacionados a gás. As aquisições no setor de serviços de utilidade pública provavelmente serão limitadas a compradores da área financeira que buscam oportunidades de regulamentação verde e/ou expansão de transmissão para apoiar o crescimento da rede elétrica.

No primeiro semestre de 2024, o valor e o volume de transações na indústria química permaneceram abaixo da média histórica. Isso foi atribuído a vários fatores, incluindo taxas de juros elevadas, fraca demanda industrial, objetivos de sustentabilidade e tensões geopolíticas, com aumento de conflitos regionais. Os volumes de transações envolvendo a indústria de produtos químicos na Europa estão agora em seu nível mais baixo em uma década.

No entanto, os executivos estão mais seguros de que uma recessão global é menos provável e que os bancos centrais começarão a cortar as taxas de juros para estimular o crescimento ainda este ano. Prevemos que a atividade de M&A no setor de produtos químicos vai se recuperar no segundo semestre de 2024, à medida que as incertezas econômicas e políticas diminuam nos principais países. Um foco renovado na política industrial doméstica e no realinhamento das cadeias globais de suprimentos, aliado ao aumento nas saídas de private equity, deverá colocar mais ativos no mercado, impulsionando a atividade de transações.

• Mais de 60 países que realizarão eleições em 2024 têm o potencial de afetar regulamentações e políticas, o que, por sua vez, pode impactar a atividade de M&A no setor químico.
• Prevemos um aumento em fusões, aquisições e investimentos em países que estabelecem alianças comerciais, oferecem acesso a matérias-primas essenciais e têm menos restrições ao investimento estrangeiro, uma estratégia comumente chamada de friendshoring.
• Os Estados Unidos estão se tornando um destino mais lucrativo para atividades de M&A no setor de produtos químicos devido à tendência de relocalização de indústrias, incentivos econômicos atraentes, infraestrutura energética avançada e a vantagem do acesso a matérias-primas essenciais. Por outro lado, a Europa se tornou um dos lugares mais caros do mundo para produzir petroquímicos. O excesso de capacidade reduz as margens e as taxas de operação das usinas de craqueamento em toda a região. No primeiro semestre de 2024, várias grandes empresas químicas europeias anunciaram o fechamento de suas unidades de craqueamento na Europa.
• O envelhecimento das empresas de portfólio de private equity deve aumentar a oferta de ativos no mercado. As empresas podem aproveitar essa oportunidade para realizar transações transformadoras, consolidar suas posições de mercado e capitalizar sinergias e economias de escala.
• A dinâmica de alienação de ativos não essenciais, a otimização de portfólios, a revisão das cadeias de suprimentos, a descarbonização de operações, a liquidação de ativos incompatíveis com critérios ESG e o cumprimento de obrigações de sustentabilidade deverá ser um motor importante para as atividades de M&A.
• Fatores regulatórios e de sustentabilidade continuam a impulsionar investimentos e a otimização das operações na Europa. A legislação do Mecanismo de Ajuste de Carbono na Fronteira (CBAM, na sigla em inglês) – que tributará as emissões de carbono incorporadas nos produtos importados para a União Europeia – entrará em vigor em 2026 para determinados segmentos, e o escopo do framework para proteger o setor químico está atualmente em discussão. Recentemente, a Comissão Europeia promulgou legislação antidumping sobre importações na cadeia de valor do poliéster.