Abril 10, 2025
Por Fernanda Cavalcante
O agronegócio sempre foi marcado por ciclos de altos e baixos – as conhecidas “vacas gordas e vacas magras”. Em momentos desafiadores como o atual, a cautela é essencial. No entanto, as oscilações do mercado também criam oportunidades para quem sabe se adaptar com inteligência e inovação.
Os dados do recorte da indústria agrícola brasileira da 28ª CEO Survey, reforçam a necessidade de adaptação: 44% dos líderes do setor acreditam que suas empresas não serão viáveis economicamente por mais de dez ano se não passarem por mudanças significativas. Ao mesmo tempo, 76% dos CEOs do setor projetam uma aceleração econômica local nos próximos 12 meses. Esses números mostram que, apesar dos desafios, há otimismo no mercado – e a tecnologia pode ser um diferencial competitivo nesse cenário.
Para discutir esse tema, o primeiro Live Talks do ano reuniu startups que atuam em diferentes etapas da cadeia produtiva. O encontro “Surfando a onda da crise: tecnologias para redução de custos e aumento de margem” contou com a participação de José Damico (CEO e Fundador da SciCrop), Oswaldo Junqueira (CEO da Cropman), José Carlos Mazetto (Líder de Soluções Corporativas da Grão Direto) e Michel Franco (Coordenador da Comunidade de Startups do PwC Agtech Innovation).
Confira alguns dos principais aprendizados do evento:
A digitalização está transformando diversos setores, e o agronegócio não é exceção. No passado, o avanço tecnológico demandava pesquisas longas e complexas, inacessíveis para pequenas empresas. Hoje, com a era da informação, a inovação se tornou mais acessível e rápida.
“A internet e os computadores pessoais mudaram a forma como fazemos negócios, e isso está acontecendo também no Agro”, destaca José Damico, CEO e Fundador da SciCrop. Mas a digitalização vai além das tecnologias que estão no “hype”, como inteligência artificial e redes neurais. O verdadeiro desafio está na estruturação e integração de dados.
“A ponta do iceberg é o que todos veem – o que está no hype. Mas o que está abaixo da superfície é a base essencial: a organização e conexão dos dados. Nossa proposta com a nossa plataforma é justamente resolver esse iceberg”, explica Damico.
Um exemplo recente dessa abordagem foi o lançamento do primeiro modelo de LLM (Large Language Model) treinado para o setor de cana-de-açúcar. A SciCrop reuniu e processou artigos históricos desde os anos 60, combinando conhecimento acadêmico e prático do setor. “Com isso, obtivemos um modelo treinado com 1,1 bilhão de tokens, capaz de responder em linguagem natural qualquer pergunta sobre o tema”.
Esse avanço demonstra que é possível transformar o conhecimento acumulado de uma empresa em um assistente digital especializado, otimizando processos, reduzindo erros e potencializando a tomada de decisão.
A adoção de novas tecnologias no campo ainda encontra resistência, muitas vezes devido a experiências frustradas no passado. No entanto, como destaca Oswaldo Junqueira, CEO da Cropman, manter os mesmos métodos e esperar resultados diferentes não é sustentável. Ele ressalta que "os métodos do passado, apesar de terem servido bem em outras épocas, não são mais suficientes no contexto atual de constantes mudanças e desafios na agricultura."
A Cropman tem ajudado produtores a aumentar a produtividade e reduzir os gastos com insumos. A solução da startup processa mais de dez mil dados por hectare, oferecendo um diagnóstico detalhado para manejos mais eficientes. Junqueira explica que, ao utilizar os dados, é possível prever o potencial produtivo de cada área e identificar regiões mais propensas à quebra de safra, seja por fatores climáticos ou pelo menor potencial produtivo do solo, permitindo uma gestão mais inteligente da lavoura.
Como exemplo, ao conhecer o potencial produtivo de cada área da propriedade, o manejo pode ser adaptado. “Se em um local o potencial máximo é de 50 sacas, não adianta investir insumos para produzir 100 sacas. Se uma área tem potencial para 100 sacas e recebe insumos para 80 sacas, há um desperdício de potencial”, explica Junqueira.
Outro ponto discutido no Live Talks foi a quebra de paradigmas no agronegócio. A Grão Direto, por exemplo, inicialmente enfrentava a percepção de que o comércio digital de grãos era voltado apenas para os sucessores das fazendas. No entanto, a realidade mostrou-se diferente. “Hoje temos agricultores de 80 anos negociando digitalmente, fechando grandes negócios pelo celular – com valores que variam entre R$ 1 milhão e R$ 1,5 milhão”, afirma José Carlos Mazetto, Líder de Soluções Corporativas da Grão Direto.
O sucesso da plataforma veio da capacidade da startup de identificar um problema real e resolvê-lo com tecnologia. Para alcançar esse nível, foi necessário compreender como o mercado poderia ser otimizado. Um exemplo é a forma como as cotações eram realizadas: os analistas gastavam tempo copiando e colando cotações do dólar e dos preços de grãos em planilhas, atualizando tudo manualmente.
“Percebemos essa ineficiência e desenvolvemos uma solução de precificação em tempo real, permitindo personalizar o valor da cotação de acordo com a realidade de cada região”, explica Mazetto. Com isso, a qualquer momento o produtor pode acessar a plataforma, visualizar preços e fechar um negócio em menos de 5 minutos.
Além disso, a tecnologia ajudou consultores a gerenciar melhor suas carteiras de clientes. Hoje, a inteligência artificial da Grão Direto consegue indicar quais produtores estão mais propensos a fechar negócios naquele dia, com uma precisão de cerca de 95%. “Se o consultor entra em contato primeiro, ele fecha o negócio. Se demorar, o cliente fecha com outros”, comenta Mazetto. Esse tipo de eficiência só é possível com dados, inteligência artificial e processos digitais bem estruturados.
Os desafios do agronegócio continuarão a existir, mas já há soluções que facilitam os negócios. A transformação digital não é apenas uma tendência - ela já está em curso. Aqueles que souberem aproveitá-la estarão em vantagem. Para obter mais informações sobre o assunto, assista a live completa: