Janeiro 22, 2024
Temas já conhecidos do setor ganham novas aplicações e resultados que pautarão o debate da inovação no agro em 2024 (Foto: Adobe Stock)
Por José Luiz Zuliani
Um ano novo se inicia e uma questão se repete na mente de quem atua em inovação no agronegócio: quais movimentos tecnológicos devem ganhar o protagonismo em 2024?
Para encerrar a temporada 2023 do Live Talks, convocamos uma mesa-redonda com especialistas que trouxeram seus pontos de vista sobre os avanços tech no campo que serão capitaneados por grandes corporações, startups e o mundo acadêmico.
Representando cada um destes players, contamos com a presença de Silvia Massruhá (Presidente da Embrapa), Fabio Pereira (Diretor do Centro de Excelência em Agronegócios da PwC Brasil) e Guilherme Castro (CEO & Co-founder da Cromai), que trouxeram suas visões sobre a inovação no agronegócio para este ano.
Selecionamos alguns tópicos da discussão e aqui você vai entender mais sobre alguns dos temas que tocarão a pauta da inovação no agro este ano. Como o manejo sustentável, a agricultura regenerativa, o avanço das biotecnologias, blockchain, o carbono do campo à mesa, o movimento de integração tech com os produtores, as mudanças do clima e o big data, que se posicionam como temas-chave da marcha do desenvolvimento de novas soluções no agro. É hora de acompanhar e saber mais.
E tem novidade no final do artigo, hein. Aproveite bem a leitura!
Estão aqui duas ações do presente que refletem no futuro do campo, que embora pareçam sinônimos, são complementares. O manejo sustentável tem foco na conservação do solo e do entorno durante o trato cultural no campo, com objetivo de garantir a perenidade dos sistemas e torná-los mais produtivos durante mais tempo, reduzindo o impacto da degradação ao longo dos anos, ao se observar sobretudo o bem-estar do solo.
O ciclo sustentável de manejo tem ganhado espaço não só na produção agrícola, mas também com bons exemplos nas áreas florestais, de pecuária e na própria integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF).
Na agricultura regenerativa – um tópico que deve ganhar força nos debates sobre inovação no agro, uma vez que o movimento ESG (sigla para social, ambiental e governança) está cada vez mais presente na agenda das empresas – a discussão continua a se pautar no financiamento dos projetos dentro das fazendas, uma demanda latente dos produtores.
Explorando um pouco mais o termo, a agricultura regenerativa nada mais é que a produção no campo que se alia (e respeita) os ciclos naturais do entorno. É um sistema que preconiza recuperação do solo, retenção de carbono, aumento da biodiversidade da microbiota e melhoria do ciclo da água por meio de práticas que vão desde a rotação de culturas até o uso de plantas de cobertura, produtos biológicos, e assim por diante.
Prepare-se, porque novos temas começam a ganhar força no universo da biotech: a engenharia genética, que desenvolve a edição genética das plantas, não é nada novo, mas conquistou avanços nos últimos anos e começa a se tornar mais popular, saindo das bancadas de pesquisa e da academia e ganhando espaço no cotidiano de produtores e consumidores.
O objetivo agora é criar plantas ainda mais resistentes e que produzem mais em menor espaço, aprofundando cada vez mais no melhoramento genético de precisão para desenvolver as características de interesse, tornando o trabalho, é claro, mais preciso e dinâmico para encontrar novas variáveis.
Um braço evolutivo da engenharia genética é a biologia sintética, um conceito pautado na pesquisa e desenvolvimento que une base tecnológica, conhecimento genético e bioquímico para criar novos circuitos biológicos, rotas biológicas e, até mesmo, organismos artificiais.
Ao pé da letra, a biologia sintética é capaz de desenvolver produtos finais com matérias-primas “incomuns”: leite sintético, filamento artificial feito de DNA de peixe em uma colônia de bactérias, plástico feito de fermentação de açúcar, são alguns exemplos de como a biologia sintética é posta em prática.
Cresce o nicho da população que se interessa em saber mais sobre o que consome no seu dia a dia. Qual a origem do que está em nosso prato? Quem são os responsáveis pela produção e com quais métodos ela foi executada? De maneira bem sintetizada, qual a procedência do que eu consumo?
Descomplicar as informações da cadeia de abastecimento é a principal função das tecnologias de rastreabilidade no campo: de maneira coesa, reunir o máximo de informações sobre a produção de alimentos e bens de consumo em um sistema, que mostre toda a trajetória da produção ao uso.
As razões de interesse dos consumidores sobre soluções de rastreabilidade são várias: saber da metodologia de produção, impacto sustentável que ela tem, como combate o desperdício, quais recursos naturais foram utilizados, qual a procedência das matérias-primas do processo, se o alimento é 100% vegano - ou isento de glúten ou lactose. São questões sociais, ambientais e de saúde que começam a ganhar terreno na mesa e hábitos de consumo dos brasileiros.
A blockchain é a aplicação prática deste universo de informações, de maneira segura, precisa e com alto nível de confiança para todos os envolvidos: produtores, distribuidores e consumidores.
Essa tecnologia permite que todo processo rastreado seja consultado em um ambiente digital, passo a passo, registro a registro, em uma cadeia de ações que se alimenta a cada etapa avançada do processo. Dados seguros, registrados e inalteráveis, dando a certificação digital por trás da produção.
A tecnologia é um avanço significativo na segurança alimentar e, como citado anteriormente, deixa o consumidor com o poder de escolher marcas de consumo alinhadas com sua expectativa e premissas, sejam elas sociais, ambientais ou de necessidade.
A rastreabilidade e, até mesmo, a descarbonização das cadeias produtivas é pauta já há algum tempo no agronegócio. E agora, a aplicação disso fica cada vez mais prática e tangível.
Projetos da Embrapa, por exemplo, focam em desenvolver soluções para agricultura de baixa emissão de carbono, como a produção de soja de baixo carbono, a carne de carbono neutro, café e leite também de baixo carbono (uma parceria que deve tomar a mesa dos brasileiros em breve).
O que se observa é que as soluções do setor avançam um pouco além da compensação de emissão, os créditos de carbono e a sua regulamentação, que tiveram protagonismo no último ano. As soluções começam a sair das trincheiras estratégicas da produção e devem ganhar as prateleiras muito em breve.
O produtor rural é quem deve ser conquistado nessa “trinca de C’s” em 2024.
É recente o anúncio da parceria entre John Deere e a Starlink - projeto de constelações de satélites e provedores de internet de Elon Musk - para conectar as máquinas da montadora, após meses de testes práticos no campo. O foco é não tornar só as máquinas inteligentes e conectadas, como também permitir aos produtores o acesso à tecnologias de ponta e internet de verdade no campo.
Novos projetos de desenvolvimento tecnológico e cobertura de acesso devem dar as caras este ano, o que deve acelerar, também, o movimento de capacitação de todos os elos da cadeia produtiva. Os produtores, operadores de máquinas, equipes administrativas e outros envolvidos devem ser o foco das edtechs, ou, até mesmo, de novos projetos corporativos de capacitação e uso de novas tecnologias.
De olho no futuro, os produtores rurais tendem a participar de modo ainda mais ativo do desenvolvimento de novas soluções tecnológicas, daí a cooperação ser parte importante deste tripé. As startups – e empresas consolidadas – devem mover o foco de P&D de novas soluções para compreender os desafios do campo, a experiência e conhecimento dos usuários, criando interfaces que façam real sentido no cotidiano de quem utiliza, com soluções fundamentadas na necessidade dos seus clientes.
A instabilidade do clima em todo o mundo no fim de 2023, com certeza, pautou a discussão para o novo ano que se inicia: todo o ecossistema de inovação, desde startups, corporações, academia e governo prometem se movimentar ainda mais para desenvolver debates e soluções para os impactos climáticos na produção.
Deve crescer a procura de soluções de previsão e análise de dados climáticos por parte dos produtores rurais e grandes empresas do agro, muito pelo peso estratégico que estes dados ganharam nos últimos tempos.
Ter maior poder de informação sobre o clima permite decisões mais precisas sobre quando plantar, quando colher, como se proteger de situações extremas (como chuvas e secas), como lidar com as particularidades de cada região produtiva e minimizar o impacto da cadeia produtiva como um todo.
Segundo a Confederação Nacional de Municípios (CNM), em 2023, os prejuízos causados ao agronegócio por conta de condições climáticas superaram a marca de R$ 1 bilhão em diferentes contextos, desde as secas na Amazônia até os ciclones na região Sul.
O impacto negativo e a incerteza sobre novos problemas deve acelerar não só a procura e implementação de ferramentas tecnológicas por parte do usuário final, como também acelerar a pesquisa e desenvolvimento de novas soluções por parte dos fornecedores tecnológicos, já que não se pode ignorar o fato de que os fatores climáticos estão cada vez menos previsíveis.
Neste tema, os especialistas são unânimes: de nada adianta ter um grande volume de dados, um big data estruturado, se ele não for útil e de fácil acesso para produtores, empresas e outros players do mercado.
O principal desafio da inovação aplicada aos dados este ano é descomplicar o uso das informações primárias e, mais do que isso, desenvolver soluções tecnológicas que ajudem na aplicação prática destes dados em melhoria contínua de processos, inteligência analítica e preditiva.
Dados de produtividade, do solo, meteorológicos e climáticos, históricos (ou em tempo real), devem ser colocados como opções estratégicas para produtores e empresas, e o desenvolvimento de novas plataformas e tecnologias devem pautar o ritmo do tema este ano.
Além disso, a inteligência artificial foi um dos temas mais comentados em 2023 e que os especialistas apontam que continuará em alta em 2024. Envolvendo machine learning e o processamento de um grande volume de dados, a IA ganhou destaque com a possibilidade de o ser humano interagir com bots por uma interface simples e de fácil usabilidade, caso dos chats que despontaram no mercado.
A capacidade da IA de assimilar conhecimento, padrões e acumular informações de como nós, humanos, vivemos, agimos e trabalhamos pode facilitar diversas atividades do dia a dia. E, quando o nosso “escritório” é no campo, a inteligência artificial ganha um amplo espaço para coletar dados, entender padrões e se transformar em ferramenta de melhoria operacional. A inteligência artificial já está presente na análise de crédito dos produtores rurais, na operação de máquinas autônomas – como tratores, colheitadeiras e pulverizadores – e tem aplicações da terra ao céu – com plataformas de análise de dados do solo, plantas e imagens de satélite – que com o histórico de informações ano após ano, safra após safra, empodera a tomada de decisão agronômica e financeira.
Se o ChatGPT e outros modelos conversacionais de inteligência artificial já te surpreenderam no último ano, é melhor se preparar: 2024 tende a ser o ano da corrida das startups e grandes corporações por novas (e surpreendentes) aplicações da IA para o agronegócio, levando em consideração aspectos éticos, de cibersegurança e proteção de dados.
E tem novidade aqui no Agtech Innovation News: queremos ouvir você neste debate sobre inovação para 2024. Quais temas você acha que estarão em pauta e devem aparecer por aqui? Clique aqui, dê sua opinião e ajude a construir mais um conteúdo interativo junto com a gente.