Novembro 25, 2022
O mapeamento Radar AgTech Brasil traz dados sobre a localização, área de atuação e cenário de investimentos nas ag&food techs do país (Imagem: Radar AgTech)
Por Marina Salles
O Radar Agtech Brasil 2021/2022 — produzido pela Embrapa, SP Ventures e Homo Ludens Research and Consulting com apoio do Distrito — aponta que o país já conta com 1.703 startups atuando no agronegócio. O número de startups ativas é 7,5% maior do que o registrado no Radar Agtech Brasil 2020/2021.
O estado de São Paulo manteve a liderança em quantidade de agtechs, com 47% do total, ou 800 startups. As três cidades com mais agtechs no Brasil são: a capital paulista São Paulo, Curitiba (PR) e Piracicaba (SP). Na cidade que é sede do AgTech Garage e da Esalq-USP, 61 agtechs mantém sua sede. Em São Paulo capital, 368. Em Curitiba, 69.
O Ranking dos Ecossistemas de Startups de 2022 (Startupblink, 2022) já havia classificado a cidade de São Paulo como o 16º ecossistema de startups do mundo. Adicionalmente, o Relatório Global dos Ecossistemas de Startups (Startup Genome, 2022) classificou São Paulo na 28ª posição. Em ambos os rankings, São Paulo subiu duas posições em 2022 ante 2021, continuando como a única cidade da América Latina listada entre os 30 ecossistemas mais relevantes do mundo.
Outras capitais também também foram destaque quanto à presença de agtechs: Rio de Janeiro (RJ) em 4° lugar, Porto Alegre (RS) em 6°, Belo Horizonte (MG) em 7° e Florianópolis (SC) em 8°. Considerando os municípios do interior paulista, depois de Piracicaba (3°) aparecem Campinas (5°) e Ribeirão Preto (9°) demonstrando relevância. No interior do Paraná, Londrina ocupa a 10° posição em número de agtechs, com um total de 30.
Por região do Brasil, o Sudeste é onde há mais agtechs (61,4%), então vem a região Sul (25,6%), depois o Centro-Oeste (6,2%), Nordeste (5,2%) e Norte (1,5%). De modo geral, o Radar AgTech aponta que houve uma leve tendência de desconcentração de startups no Sudeste e um avanço proporcionalmente maior na região Nordeste ao longo do ano.
O estudo do Radar Agtech Brasil 2022 identificou 242 agtechs (14,2%) atuando antes da fazenda, 705 dentro da fazenda (41,4%) e 756 agtechs depois da fazenda (44,4%).
Antes da fazenda
Dentro da fazenda
Depois da porteira
A fim de dar um panorama do cenário de financiamento das startups do agronegócio, uma amostra de 192 agtechs, correspondendo a 11,3% das 1.703 agtechs mapeadas, respondeu a questões específicas, que resultaram nos números apresentados abaixo.
Dentro da esfera do financiamento privado dos negócios nascentes, 65% das agtechs da amostra disseram ter obtido recursos provenientes de capital próprio dos fundadores, da família, amigos etc; 24% de investidores anjos; 18% de aceleradoras nacionais; 12% de fundos de Venture Capital e 10% de editais privados. Fontes como empréstimos (10%), empresas nacionais (5%) e aceleradores internacionais (3%) também apareceram na lista.
Ao considerar os financiamentos públicos, a conclusão é que a maior parte das startups não recorre aos recursos públicos (56%). Aqueles que sim usam geralmente buscam por editais públicos (29%), recursos não reembolsáveis de pesquisa (19%) ou incubadoras de empresas (10%).
Em relação aos investimentos nas agtechs, o levantamento traz o cenário mundial com base em diversas fontes de informação e, na sequência, faz uma análise qualitativa do quadro brasileiro. De acordo com dados de 2021 do AgFunder, os top 5 países que atraíram mais capital para investimento em ag&food techs foram:
O Brasil aparece apenas na sexta posição, com um total de US$ 1,3 bilhão investidos em 102 negócios. Dito isso, fica claro que o montante de investimentos nas ag&food techs do Brasil, e mesmo da América Latina, não são proporcionais à relevância que a região tem para a produção de alimentos e a cadeia do agronegócio.
O estudo destaca ainda quatro teses de investimento que vêm atraindo um grande fluxo de capital globalmente, e que resolvem grandes problemas do agronegócio tradicional. São elas:
Todas essas quatro teses estão presentes no Brasil, com novas startups surgindo para desenvolver soluções para os diversos desafios que se apresentam. Abaixo, o gráfico que ilustra o crescimento dos aportes no Brasil tanto em ag como food techs:
Na íntegra, a análise do gráfico acima compartilhada no relatório:
O primeiro ponto que deve ser destacado é a relativa inconstância: ao contrário do observado em setores mais consolidados, o volume de investimento em venture capital (VC) nas agtechs variou consideravelmente nos últimos anos, com grandes altas nos volumes de investimentos seguidas de anos mais amenos, porém, sempre trazendo uma tendência positiva.
Essa variação é típica de setores que ainda estão em processo de desenvolvimento, o que ainda deixa alguns investidores de VCs reticentes e menos sistemáticos nos seus investimentos. Também, trata-se de um ecossistema com grande disparidade de tamanho entre os players, com algumas grandes startups levantando late-stages enquanto o mercado em franca formação tem a maioria das empresas ainda nos estágios de seed e investimento anjo.
Olhando para os últimos 5 anos, observa-se uma aceleração nos investimentos no setor, o que pode ser o começo de uma curva mais estável de investimento. Vale destacar o volume de investimentos feito em 2022 nas agtechs: apesar de ainda faltarem 3 meses no calendário, já é o ano mais próspero da série histórica para as startups do setor.
Quando se observa a divisão dos investimentos por estágio e natureza, o primeiro ponto que chama atenção é o grande volume de investimentos nas categorias seed e pré- -seed, dedicadas justamente a dar o primeiro fôlego para negócios inovadores desenvolverem seus produtos para os mercados em que atuam.
Via de regra, é um sinal de saúde e vitalidade para o ecossistema haver um grande volume de deals nos estágios iniciais. Significa que há vontade por parte dos investidores de fomentar cases novos ainda cedo, o que acaba aumentando o número de startups que sobrevivem aos primeiros anos e dá maior visibilidade para o setor como um todo.
Algumas empresas já começam a superar a arrebentação dos anos iniciais, rodadas de séries A e B começam a se tornam mais frequentes no segmento, mesmo em um ano desafiador. O número crescente de early-stages indica a expansão. Cabe ainda ressaltar o movimento de investimentos por VCs especializados, bem como por casas generalistas que passaram a enxergar o segmento como parte de suas teses, demonstrando a maturidade dos ativos e setor.
Os late-stages, assim entendidas as séries de investimento da série C em diante, são bastante frequentes no ecossistema, mas ainda não alcançaram as cifras observadas em setores maiores como fintech ou retail, ambas com investimentos bilionários quando se fala do mundo dos consumidores. Entretanto, o aumento expressivo nos investimentos de early-stages indica que logo menos os patamares poderão ser alcançados.
Por último, apesar de um cenário movimentado de investimentos, ainda chama a atenção o baixo número de aquisições no ecossistema. Existem duas hipóteses para isso: um relativo distanciamento entre os setores tradicionais da agroindústria com as empresas de tecnologia e inovação, e a possibilidade de que as startups ainda estão amadurecendo seus produtos e soluções e que, portanto, há poucas fusões ainda no ecossistema.
Espera-se que nos próximos anos, dado o aumento de fluxo de capital, o movimento de fusões e aquisições passe a ser mais expressivo, fechando assim o ciclo de investimentos, demonstrando assim a consolidação e maturidade do segmento das agtechs.