Julho 1, 2021
Por Marina Salles
O maior programa de inovação aberta do setor sucroalcooleiro no Brasil está prestes a começar. Com a participação de 22 associações da Organização de Associações de Produtores de Cana do Brasil (Orplana) e potencial de impactar mais de 10 mil agricultores, a iniciativa é uma realização do Agtech Innovation, de Piracicaba (SP) — por meio do programa For Farmers, voltado aos produtores rurais — e tem o patrocínio da empresa de soluções agrícolas UPL e parceria da organização internacional Solidaridad. Denis Arroyo, diretor executivo da Orplana, calcula que, em termos de área, a iniciativa poderá gerar reflexos para cerca de 800 mil hectares de canaviais em São Paulo, Mato Grosso do Sul, Mato Grosso, Minas Gerais e Goiás.
Muito bem recebida pelos associados, a proposta do programa se tornou realidade em tempo recorde de menos de um mês, o que reforça o entusiasmo dos produtores com a facilitação do acesso a novas tecnologias. “Estamos bem animados com a velocidade e a proporção que esse grupo do For Farmers ganhou. O forte interesse das associações demonstra que ele vem no momento certo para atender às suas necessidades. Além disso, a nossa experiência com outros grupos do For Farmers também já deixou claro que o produtor está com apetite para testar e adotar novas tecnologias, além de ter uma participação mais ativa no ecossistema de empreendedorismo. Não vai demorar para a gente ver mais e mais produtores como mentores e até investindo em startups”, afirma José Tomé, CEO do AgTech Garage.
Conforme Arroyo, o programa vem agregar valor também à oferta de serviços da Orplana. “A oferta de tecnologias pelas associações ajuda a que elas tenham novos atrativos para os produtores rurais, tragam para perto os mais jovens e auxiliem no processo de transformação digital. Porque a gente vive numa Era de excesso de informação e tem produtor que não adota novas tecnologias por ficar na dúvida entre tantas opções”, afirma Arroyo. Junto do AgTech Garage, o objetivo é facilitar esse trabalho de busca.
Ao longo do programa For Farmers da UPL e Orplana, que terá duração inicial de um ano, um representante de cada associação participará de atividades mensais estruturadas pelo hub piracicabano para fomentar a adesão a novas tecnologias pelos produtores. Na primeira fase do programa, o foco é mapear e priorizar as dores que serão trabalhadas para, em um segundo momento, buscar as soluções. Das startups criteriosamente selecionadas pelo AgTech Garage para interagir com o grupo, apenas as que passarem também no crivo dos produtores chegará à etapa de testes nas propriedades.
“Uma vantagem que a gente tem é contar com um grupo grande e que pode ser dividido em blocos. Temos as associações menores e as maiores e vamos nos permitir analisar soluções diferentes para elas”, diz Arroyo. Na Orplana, em torno de 70% dos produtores de cana são pequenos (com produção entre 5 mil a 10 mil toneladas por safra), 20% produzem na faixa de 50 mil toneladas e 10% superam as 100 mil toneladas.
Arroyo avalia que o setor canavieiro passou por um grande salto tecnológico com o fim da queima das lavouras, o que abriu espaço para a mecanização das operações e profundas mudanças que tornaram o manejo mais sustentável, sendo a busca agora pela melhoria contínua. “Já avançamos muito em pouco tempo na mecanização e capacitação de pessoal para operar máquinas de mais de R$ 1 milhão e agora queremos dar novos passos na área de agricultura de precisão, uso racional de insumos, aplicação dos produtos biológicos e controle de falhas nas lavouras”, exemplifica o diretor executivo da Orplana.
Em pesquisa realizada pela UPL este ano com 2 mil produtores de cana, soja e milho, os entrevistados do setor sucroalcooleiro informaram que, considerando as áreas de agricultura digital e de precisão, pretendem investir na detecção de falhas de plantio, monitoramento da produtividade dos canaviais e agricultura de precisão com a aplicação de insumos à taxa variável. Hoje, no Brasil, a cana-de-açúcar é a terceira cultura em importância para a UPL, atrás apenas da soja e algodão.
Rubens Amorim, diretor da UPL, lembra que a empresa já era parceira do AgTech Garage e viu no programa com a Orplana uma forma de acelerar também sua transformação digital. “Queremos participar ativamente do ecossistema de inovação, estar perto dos produtores e entender suas dores na área do digital para validar e buscar soluções mais eficientes e sustentáveis”, diz Amorim. Durante o processo, segundo Amorim, a empresa ficará disponível para colaborar em provas de conceito e suportar testes nas fazendas.