Novembro 29, 2021.
Por Marina Salles
Promover uma pecuária de leite mais sustentável e lucrativa, foi com esse propósito que nasceu a OnFarm em 2019, startup capaz de identificar o agente causador da mastite no prazo de 24 horas. Três anos depois do lançamento comercial do seu carro-chefe, um verdadeiro laboratório portátil, com 1,5 mil unidades instaladas, Laerte Cassoli, CEO da OnFarm, e Cristian Martins, Líder de P&D, Inovação e Gestão de Produtos, não têm dúvidas de que estão no caminho certo para preparar um novo salto.
Em 2020, a empresa triplicou de tamanho em relação ao ano em que se criou, mesmo com a pandemia. Em 2021, dobrou de tamanho, em um cenário hostil antes da chegada da vacina. Para 2022, ano em que tudo promete se ajustar, a expectativa é triplicar mais uma vez em relação ao ano anterior.
A OnFarm não revela sua receita, mas com um tíquete médio de R$ 200 a R$ 800 por mês, é possível estimar a relevância do seu resultado. Seus 1,5 mil laboratórios de diagnóstico da mastite instalados atendem cerca de 2 mil fazendas e um rebanho de 150 mil vacas em lactação.
Somente em 2021, de janeiro a dezembro, a OnFarm terá evitado o descarte de 7 milhões de litros de leite, o equivalente a um copo de leite garantido para 100 mil pessoas durante 365 dias.
“Hoje, quando eu vou ao supermercado e lembro que tem um dedo da OnFarm em muitos produtos lácteos ali, sinto que estamos contribuindo para uma produção mais sustentável com o uso racional de antibióticos. Isso é muito gratificante e não tem preço”, diz o CEO da startup que reduz, em média, em 50% o uso de antibióticos nas fazendas leiteiras que atende.
Mais importante do que isso é que cada R$ 1 investido na solução gera uma economia de aproximadamente R$ 5 a R$ 8 para o produtor, considerando apenas a redução do uso de antibiótico para mastite clínica, porque o produtor de leite passa a tratar apenas as vacas que realmente precisam. “Mesmo se você só olhar a mastite clínica, o benefício da ferramenta é considerável”, diz Cassoli.
Basta lembrar que o tratamento de um caso de mastite custa de R$400 a R$600 por animal. É dizer que, deixando de tratar uma única vaca sem necessidade, o produtor consegue pagar até três mensalidades para ter acesso à tecnologia e colhe também os frutos da melhoria da qualidade do leite, do aumento da produção das vacas e da redução da contagem de células somáticas.
Laerte Cassoli, da OnFarm
Acertar na mosca no product market fit, ou seja, em um produto que atende, de fato, à necessidade do consumidor, e investir nele todas as suas fichas, não é tarefa fácil, mas foi exatamente isso que a OnFarm fez. De acordo com Cassoli, a saúde do úbere é o foco da estratégia da empresa porque é aí que a dor do seu cliente está. Uma coisa é fato: “Em maior ou menor grau, a mastite se faz presente em todo e qualquer rebanho”, justifica.
Cristian Martins, da OnFarm
Desde os tempos da Academia, a ânsia dos três sócios (Cassoli, Martins e Eduardo Pinheiro, Diretor Técnico) era de criar uma solução para reduzir os custos desnecessários com tratamento e descarte de leite por causa da mastite, e eles se debruçaram sobre esse problema.
Segundo Martins, em 2022, os testes de mastite da OnFarm devem contar ainda com uma ferramenta de inteligência artificial, para aumentar a acurácia dos diagnósticos e automatizá-los. A ideia é que o algoritmo seja ainda mais preciso e rápido do que a mão-de-obra treinada para ler os resultados.
No Brasil, o mercado potencial da empresa é estimado em 30 mil produtores — ou 10% de um grupo de 300 a 400 mil produtores profissionais, que alcança a marca produtiva de 500 litros a 1 mil litros de leite por dia. Nessa faixa de produção, o cálculo da startup é de que o uso da tecnologia se paga e se retroalimenta.
O SmartLab permite identificar a causa da mastite em 24h, na própria fazenda, através da cultura microbiológica (Crédito: OnFarm)
Para ampliar o leque de propriedades atendidas hoje no país, o próximo passo da agtech será reforçar o time de vendas. Cassoli conta que, mesmo nas fazendas sem conhecimento prévio sobre o trabalho da OnFarm, a taxa de conversão do cliente é alta, em torno de 50% após uma primeira visita consultiva. Feita a venda, o programa de treinamento se dá de forma remota, uma herança positiva da pandemia.
Diante de um mercado promissor no Brasil, os esforços da OnFarm em 2022 serão direcionados para expandir a atuação de Norte a Sul do país. O time de vendas, em fase de crescimento, já tem representantes em Santa Catarina, Minas Gerais, Goiás e Paraná. Para o ano que vem, a ideia é chegar também ao Rio Grande do Sul. “Onde tiver leite a gente vai aumentar a densidade desses profissionais”, afirma Cassoli. O plano de internacionalização é secundário e corre em caráter piloto na Argentina e Uruguai com parceiros locais.
Sem entrar em detalhes, Cassoli comenta que mais novidades estão por vir atreladas à plataforma Rúmina, da qual a OnFarm faz parte. A Rúmina é formada pelo conjunto de startups investidas da gestora 10b, ligada à SK Tarpon, cuja proposta é oferecer um pacote integrado de soluções aos pecuaristas de corte e leite, somando a expertise de cinco negócios diferentes.
Atualmente, fazem parte da plataforma: a OnFarm (de diagnóstico da mastite), Ideagri (de gestão e auxílio à tomada de decisão na pecuária de leite), Bovitech (de gestão da pecuária de corte), Volutech (de ioT e inteligência de dados para resfriamento do leite) e RúmiCash (da área de crédito). Na OnFarm, a 10b tem mais de 50% das ações e promete, com a Rúmina, revolucionar a forma como os pecuaristas acessam tecnologia.