Outubro 20, 2021
Por Marina Salles
As porteiras estão abertas para os testes de novas tecnologias nas fazendas do Grupo JCN e Lagoa Bonita Sementes, assim como das mais de 70 propriedades atendidas pela consultora agronômica Camila Guedes no interior de São Paulo e da fazenda do produtor rural gaúcho Rodrigo Franco Dias.
Focados na produção de grãos, eles formam o mais novo grupo do programa For Farmers do AgTech Garage, que faz a ponte entre o ecossistema de inovação e o produtor rural. A cada ciclo de três meses, em média, os produtores trabalham uma necessidade/ um desafio dentro do programa.
Os testes, desta vez, vão começar com soluções de monitoramento e gestão integrada de dados de máquinas. O tema do próximo ciclo será o crédito agrícola, inteligente e desburocratizado. O assunto do terceiro ciclo ainda será definido.
“O programa For Farmers tem um potencial gigantesco de oxigenar a forma como os produtores estão pensando seus negócios, descobrindo e levando novas tecnologias para o campo e se conectando com startups. Dentro do Agtech Garage, construímos uma ferramenta com metodologias ágeis, para diminuir o tempo e o custo para os produtores entrarem em contato com novas soluções”, afirma Rodrigo Soares, gestor de comunidade do Programa For Farmers.
Além deste grupo de grãos, formado por produtores de maneira independente, mais dois estão a pleno vapor, um no setor sucroalcooleiro com a Orplana (financiado pela UPL) e outro com produtores de uva do Vale do São Francisco (patrocinado pela Bayer).
O intercâmbio de informações nos grupos é, sem dúvida, um dos pontos altos do programa, segundo os participantes, que também veem valor na criteriosa seleção das startups feita pelo time do nosso AgTech Garage; no cronograma estruturado de encontros para definir os desafios no campo e planejar o relacionamento com o ecossistema de inovação; e no acompanhamento prático e analítico dos testes realizados nas fazendas.
Andrea Fellet Orsi, Diretora Corporativa da Lagoa Bonita Sementes, afirma que decidiu entrar para o For Farmers pela rica troca de experiências proporcionada pelo programa e a possibilidade de ratear os custos dos testes na sua fazenda, que serão avaliados caso a caso conforme o projeto.
“Ter mais mãos envolvidas nas buscas e nos testes de soluções, torna os projetos com startups mais consistentes e acessíveis”, afirma. Em 4 mil hectares de terras em Itaberá (SP), o Grupo Lagoa Bonita produz soja, trigo e feijão em até 2,5 safras por ano. Somente na soja, sua produção de sementes gira em torno de 400 mil sacos por ano.
“A união nos fortalece. É como se passássemos a ter não apenas uma base no Rio Grande do Sul, mas também em São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul. Podemos escolher o melhor local para fazer os testes, encurtar as distâncias até as startups e alocar apenas uma equipe técnica de todos nós por iniciativa”, diz Rodrigo Franco Dias, que produz grãos em uma propriedade de 500 hectares em Cachoeira do Sul (RS) e é ele mesmo CEO de uma startup, a Connect Farm.
Com uma proposta diferenciada, a consultora Camila Guedes, diretora na I@gro Inteligência e Inovação Agronômica, integra o grupo com o intuito de multiplicar conhecimento. O objetivo dela é levar as soluções que julgar mais interessantes para seus clientes, que têm uma área produtiva de 100 mil hectares na região de Taquarituba (SP). Na I@gro, o foco é no manejo do solo e na agricultura de precisão.
“O que eu percebo é que o mundo das startups muitas vezes fica distante do mundo dos produtores rurais. O agricultor é alguém muito focado nas atividades diárias. É difícil ele parar para pensar no que mais pode agregar valor no seu pacote tecnológico e ir atrás dos fornecedores. Eu quero fazer essa extensão e curadoria, entregando propostas diferentes para cada cliente, porque suas necessidades também variam muito”, diz Camila.
Segundo ela, existe muita empolgação entre os produtores para testar novas tecnologias, mas falta um acompanhamento técnico que garanta a continuidade dos projetos. “Quantas vezes já vi piloto automático parar de funcionar e o produtor deixar de lado. Ele precisa ver mais benefício do que trabalho para dar sequência na adoção de uma tecnologia”, diz.
Augusto Telini, Gerente de Tecnologias Agrícolas no Grupo JCN, também participa da iniciativa. Com fazendas em São Paulo, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, o Grupo JCN produz soja, milho, algodão e café com alta tecnologia em agricultura de precisão e métodos que garantem a sustentabilidade das lavouras.
Para Dias, que tem a fazenda no Rio Grande do Sul, a etapa mais desafiadora do contato com startups é a fase de testes. “Como produtor, a gente quer saber se a tecnologia funciona, se o sistema é amigável e se chegar no resultado exige muito trabalho manual. Eu já tive várias experiências com monitoramento de pragas, por exemplo, que não foram para frente porque eu tinha que voar o drone toda semana para ter o mapeamento. É mais barato eu treinar meu funcionário para usar o pano de batida [método tradicional de contagem de insetos], até porque ainda não faço aplicação de insumos a taxa variável”, diz.
Na visão de Andrea, é fundamental entender o estágio de maturidade da fazenda para absorver as tecnologias, mas também da startup. “Vamos filtrar o que é perfumaria, modismo e a consistência das soluções, em busca daquilo que realmente pode agregar valor para os nossos negócios”, diz.
Sérgio Braun, Gerente Técnico e de Negócios na Lagoa Bonita Sementes, que irá acompanhar os testes na fazenda, afirma que seu olhar hoje está muito voltado a soluções que o ajudem a tomar a melhor decisão no campo sim, mas sobretudo na hora certa.