Novembro 23, 2023
O drone tem trazido aumento da eficiência da aplicação e da produtividade, com menor risco de contaminação humana (Foto: Embrapa)
Por Rafael Moreira Soares
Desde 2017, o uso de aeronaves remotamente pilotadas (popularmente conhecidas como drones ou vants) foi regulamentado pela Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) e, de lá para cá, tem crescido seu uso agrícola. De forma complementar, o Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA) publicou a Portaria nº 298, de 22 de setembro de 2021, que estabelece regras para operação de aeronaves remotamente pilotadas destinadas à aplicação de agrotóxicos e afins, adjuvantes, fertilizantes, inoculantes, corretivos e sementes.
Em algumas culturas, a adaptação e os benefícios da pulverização com drone são claramente obtidos. É o caso da bananicultura, em que o controle da doença fúngica sigatoka amarela, geralmente é feito com o uso de pulverizadores costais, com baixa eficiência e alto risco de contaminação do aplicador. Nesse caso, a substituição pelo drone tem trazido aumento da eficiência da aplicação e da produtividade, com menor risco de contaminação humana. Outros exemplos bem-sucedidos podem ser vistos nos cultivos florestais e de café.
Já nas chamadas culturas de lavoura, como soja, milho, algodão e trigo, plantadas em áreas mais extensas e normalmente assistidas por pulverizadores tratorizados, autopropelidos e aviões, o uso do drone requer uma análise mais complexa para a sua adoção, considerando as diferentes situações que podem ser encontradas.
A expansão da soja tem levado seu cultivo para distintos ambientes, como locais de relevo acidentado, perto de áreas urbanas, de proteção ambiental ou redes elétricas, entre outros, aumentando a necessidade da utilização de tecnologias de aplicação mais adequadas para essas situações, sendo que o uso de drones agrícolas pode ser uma dessas tecnologias.
O não amassamento da cultura, a independência em relação às condições de tráfego do solo, a automatização do trabalho, a menor utilização de água e a complementação a pulverização tratorizada e com o avião em áreas acidentadas, com obstáculos e em aplicação localizada, no contexto de agricultura de precisão, são algumas das vantagens apresentadas pelo drone.
Por outro lado, a baixa autonomia das baterias, o alto custo do equipamento e da operação, no caso da contratação do serviço, a maior concentração da calda no baixo volume, aumentando o risco de incompatibilidade e fitotoxicidade de produtos, o risco de deriva e a necessidade de mão de obra altamente qualificada, ainda são alguns dos desafios para adoção da tecnologia.
De qualquer forma, o rápido crescimento do uso de drones para pulverização mostra que é uma tecnologia que veio para ficar, mas que em muitos casos ainda carece de informações técnicas, principalmente sobre a qualidade da aplicação, considerando as numerosas combinações de produtos e de alvos biológicos que compõem o cenário de controle fitossanitário das culturas de lavouras.
Nesse sentido, com o objetivo de determinar a viabilidade, desenvolver parâmetros técnicos e testar a eficiência de drones agrícolas, como veículo de pulverização de produtos fitossanitários, a Embrapa Soja iniciou um projeto no ano de 2020, por meio do qual estão sendo conduzidos ensaios de campo para o controle de plantas daninhas, de insetos e de doenças na cultura da soja.
Também estão sendo avaliados aspectos da tecnologia de aplicação como diferentes vazões, pontas de pulverização, deposição de gotas e a comparação entre as pulverizações utilizando o drone, o pulverizador de arrasto e o costal propelido por CO2.
Os resultados preliminares mostram que o uso do drone pode ser tão eficaz no controle de plantas daninhas, insetos e doenças quanto as demais formas de pulverização, podendo apresentar vantagens na penetração dos produtos no dossel das plantas.
No entanto, em algumas situações que demandam maior cobertura de gotas, como nas pulverizações para dessecação da soja e para controle da ferrugem-asiática, foram verificadas falhas na faixa de aplicação.
O que fica claro é que existe a necessidade de maiores cuidados ao decidir os parâmetros de aplicação e uma rigorosa observação das condições climáticas, principalmente a velocidade do vento, para evitar a deriva e a desuniformidade na distribuição das gotas.
O estudo na Embrapa Soja continua e vale ressaltar que a aplicação de defensivos com drones é, sem dúvida, uma operação altamente técnica e com grande potencial de crescimento na agricultura.
Rafael Moreira Soares é pesquisador da Embrapa Soja.