Maio 13, 2021.
Por Renato Seraphim
Como agrônomo formado pela Unesp Jaboticabal (SP) e com 25 anos de atuação no agronegócio, sobretudo na indústria de proteção de cultivos e de biotecnologia vegetal, não é de hoje que ouço falar do potencial da nanotecnologia para a agropecuária. Mas conforme a Nanotechnology Products Database, dos mais de 9 mil produtos baseados em nanotecnologia disponíveis no mercado, hoje apenas 231 têm uso associado ao agronegócio.
De revestimentos inteligentes para o tratamento de sementes; passando por nano cápsulas para liberação controlada de agroquímicos, produtos biológicos e fertilizantes; sem falar nos revestimentos antibacterianos para frutas, as aplicações formam uma lista considerável e que ainda pode ser largamente ampliada. De qualquer forma, no Brasil, temos uma expoente no setor, o que vejo como motivo de orgulho.
Aprofundando meu contato com hubs de inovação e com a vertente da nanotecnologia para o agro, que grata surpresa eu tive de conhecer a startup brasileira NanoScoping. Criada em 2014, ela está sediada no Centro Empresarial para Laboração de Tecnologias Avançadas no Parque Tecnológico Alfa, em Florianópolis (SC), e atua no desenvolvimento de insumos nano tecnológicos destinados aos setores veterinário, agrícola, de nutrição humana e animal, além de desinfetantes naturais e cosméticos.
Especificamente no agronegócio, a startup adota o nano encapsulamento de produtos naturais para aumentar a eficácia da aplicação de produtos nas plantas e nos animais. O objetivo é proporcionar maior proteção contra inimigos naturais, maior efeito residual e ter à mão ingredientes mais seguros e tecnologia totalmente sustentável. Por todos esses motivos, acredito que o espaço de crescimento desse mercado é gigantesco na agricultura, embora faltem dados a esse respeito. Em relação aos cuidados com a saúde humana, para se ter ideia, projeta-se que o uso da nanotecnologia abarcará um mercado de US$ 310 milhões até o final de 2025.
Justamente por diminuir as perdas por volatilização e degradação, a tecnologia de nano encapsulamento é tão fascinante e ajuda a reduzir o número de aplicações dos produtos e tornar o manuseio dos materiais mais simples. Vale lembrar também que o tamanho reduzido das nano partículas possibilita um maior recobrimento da superfície vegetal ou animal e confere maior uniformidade de ação ao princípio ativo. No caso da liberação gradual dos ativos, isso é possível porque o sistema nanoestruturado adere melhor às folhas das plantas e ao pêlo dos animais, resultando em um efeito mais prolongado dos produtos.
No caso do NanoScoping, os insumos que mais me chamam a atenção são os desenvolvidos a partir de óleos vegetais encapsulados em nanopartículas biodegradáveis, que foram agrupados em uma linha que eles chamam Nano Agro. O tamanho nanométrico das partículas, de aproximadamente 200 nanômetros, permite uma melhor distribuição e penetração dos ingredientes ativos na superfície vegetal e a maior espalhabilidade dos produtos potencializa ainda sua atividade inseticida, fungicida e bactericida. Estamos falando do presente e de tecnologias que estão à mão do produtor brasileiro.
A tecnologia está sendo utilizada por pequenos produtores de hortaliças em estufas
No foco da Nanoscoping, também está uma tecnologia verde que pode ser usada em sistemas convencionais, agroecológicos e com certificação orgânica. Nesse caso, os produtos são obtidos a partir de matérias-primas biocompatíveis e biodegradáveis e que utilizam a água como veículo para serem absorvidos. Isto significa dizer que dispensam o uso de solventes orgânicos e a geração de resíduos poluentes para o meio ambiente, mais uma vantagem da nanotecnologia.
Na torcida para que esse mercado se desenvolva, não poderia deixar de mencionar também que a NanoScoping foi uma das 10 startups selecionadas no Programa de Incubação Brasil-Londres 2020/2021. Suas soluções — com foco em duas áreas de crescimento exponencial, a de produtos naturais e biológicos e de nanotecnologia — foram consideradas de particular relevância por abordarem um ou mais Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU).
Renato Seraphim, 50 anos, é engenheiro agrônomo graduado pela Unesp de Jaboticabal (SP) e pós graduado em Marketing pela Fundação Getúlio Vargas (FGV).
No agronegócio, fez especializações junto ao Programa de Estudos dos Sistemas Agroindustriais (Pensa-USP), à Fundação Dom Cabral (FDC), Insead Business School e Perdue University. Com 25 anos de experiência no setor, tem passagem por empresas de defensivos agrícolas e biotecnologia.