As análises das amostras de solo são realizadas pela startup no laboratório que mantém em Campinas (SP). Foto: Divulgação.
Por Fernanda Cavalcante
A Pattern Ag, startup americana especializada em tecnologia para análise da biologia do solo, está ampliando as operações no Brasil. Com foco em soja e milho, atingiu uma cobertura de 35 mil hectares no Centro-Oeste do país, que se somam a mais de 1 milhão de hectares monitorados nos EUA. Em 2024, a expectativa é avançar para 200 a 250 mil hectares em terras no Brasil, expandindo geograficamente seu alcance para as regiões Sul e Sudeste.
Por meio da análise de amostras de solo, entrega dados preditivos que ajudam os agricultores na seleção de sementes, tomada de decisão sobre a estratégia de proteção de cultivos e gestão da fertilidade do solo. A tecnologia da Pattern Ag permite a detecção de mais de 20 doenças em uma única amostra, abrangendo nematóides e outras patologias subterrâneas, bem como doenças que afetam a parte aérea das plantas, mas que têm parte de seu ciclo embaixo da terra.
A startup também identifica oito marcadores de biofertilidade, incluindo a presença de bactérias fixadoras de nitrogênio e solubilizadores de potássio e fósforo, além de indicadores de biodiversidade. Todas as análises das amostras de solo são realizadas in house, no laboratório que a startup mantém em Campinas – e que pretender quintuplicar de tamanho ainda este ano, para suportar seu crescimento no Brasil.
“Nossa tecnologia está trazendo uma nova dimensão de previsibilidade para o setor agrícola, com acurácia de 90%, possibilitando a detecção antecipada de doenças nas plantações, mesmo que sem sintomas”, diz Pedro Lian Barbieri, Gerente Nacional da Pattern Ag no Brasil. O objetivo é que, antes mesmo de plantar, o produtor tenha uma visão do desafio que pode enfrentar na safra.
Barbieri compartilha alguns casos de sucesso com produtores, que tiveram áreas monitoradas nesse primeiro ano: “Chegamos a visitar um produtor que ia aplicar fosfato, mas com nossas análises ele percebeu que, na verdade, precisava mesmo de bactérias fixadoras de fósforo, pois o nível presente na área dele era muito baixo”, conta. Em outro caso, um produtor que colhia historicamente menos em um certo talhão descobriu pela primeira vez o seu desafio real. “Nós encontramos nematóides na área dele, fizemos o controle na última safra e a produção já aumentou em seis sacas a mais por hectare”.
Para a coleta da amostra – que é a chave da previsibilidade entregue pela startup –, o produtor não precisa adicionar mais uma operação dentro da fazenda. A análise da Pattern Ag é realizada junto às coletas tradicionalmente feitas para análise química e física do solo, o que muda é que, além dessas informações, o produtor passa a receber um relatório mais detalhado e georreferenciado sobre a ocorrência de possíveis doenças e a classificação de risco delas (baixo, médio, alto).
A Pattern Ag, adota o modelo B2B, atendendo empresas com portfólio complementar às suas análises. A sua geração de valor está na identificação do problema agronômico com precisão, que possibilita aos seus parceiros fornecer soluções integradas e personalizadas para os produtores rurais.
Além disso, os parceiros da Pattern Ag beneficiam-se do acesso exclusivo à plataforma da startup, que disponibiliza suas análises realizadas em tempo real. Com dados geolocalizados sobre a incidência de doenças, a plataforma se torna uma ferramenta para refinar estratégias de marketing e otimizar a logística de distribuição de produtos.
Barbieri destaca o foco na expansão territorial para 2024, visando não apenas o crescimento da startup, mas também a ampliação da rede de consultores parceiros, que são essenciais para aumentar a presença no mercado. Durante a expansão, a intenção é ampliar ainda o leque de culturas atendidas – incluindo além da soja e milho, o algodão.
Além disso, outro objetivo para o Brasil é a elaboração do relatório Predictive Ag 2024, similar ao já produzido nos Estados Unidos. Neste relatório, a Pattern Ag destaca os principais insights em escala nacional, compilando todas as informações coletadas durante a safra. Este documento traz percepções sobre regiões com surtos de doenças, desafios encontrados nas propriedades e dados cruciais para a preparação das safras.
Barbieri enfatiza que, mesmo sem a realização do relatório no Brasil, já tem sido possível extrair algumas conclusões dos dados coletados: “Estamos vendo o Fusarium em muitas áreas que até então o produtor não sabia que tinha. A podridão do carvão, que a Embrapa indica estar em crescimento, nós também observamos que vem avançando”, diz.
A expansão da startup no mercado brasileiro demonstra sua capacidade de adaptação ao contexto local. “Nossa análise é meticulosa e envolve uma série de variáveis. As diferenças entre o solo, a biologia e as doenças do Brasil e dos Estados Unidos exigiram que ajustássemos completamente nosso protocolo. Ficamos contentes de ver a solução sendo bem aceita”, completa Barbieri.